domingo, 6 de maio de 2018

Música, fé e esperança

O livro "O Menestrel de Deus - Vida e Obra de Anton Bruckner" (cujo único pecado é não ser cronológico), de Lauro Machado Coelho, revela, em detalhes, a singular história de vida do controverso compositor austríaco, além de conter uma descrição crítica de suas obras mais importantes, incluindo as 3 últimas sinfonias e as 3 célebres missas. 
Ao contrário de outros grandes músicos que desde muito cedo tiveram consciência (ou convicção) de seu talento incomum, como Bach, Beethoven, Mozart, Mahler e Wagner, esse homem simples e provinciano passou boa parte da vida "implorando" por atenção e reconhecimento, embora tenha produzido obras monumentais tidas hoje como verdadeiras "catedrais sonoras", frutos de sua profunda devoção religiosa. 
Em Viena, para onde se mudou somente aos 44 anos, em 1868, Bruckner enfrentou o desprezo de colegas músicos e de críticos locais influentes, ainda que não lhe tenha faltado o apoio de muitos amigos, notadamente no final da vida, quando recebeu várias homenagens. Mas, na capital austríaca, detratores caçoavam do compositor por sua insegurança, postura servil e até mesmo pelo despojamento com que se vestia, pecado mortal numa Viena ainda imponente e imperial do século XIX. Submisso, não raras vezes, o compositor efetuou alterações significativas em suas composições supostamente já concluídas, visando agradar a críticos e músicos mais experientes e conceituados.
Apesar disso, passados mais de 122 anos de sua morte, a importância do legado de Bruckner é reconhecida por todos os amantes da "boa música", dentre compositores, intérpretes e público em geral. Suas obras, em especial as 3 missas e o "Te Deum", são impregnadas de sincera e intensa religiosidade e oferecem ao mundo um inegável testemunho de fé.
Em artigo publicado no site do "Correio de Atibaia", em novembro de 2017, o jornalista Marino Maradei Junior ofereceu um inspirado perfil do compositor: "...Feio, rude, atarracado, vestia-se tão mal que beirava o ridículo. Do amor feminino nada levou – a não ser desditas. Atropelou-o a cada passo a simplicidade quase infantil. Sua imensa candura jamais lhe abriu frestas nos olimpos cosmopolitas. Porém a sublimação mística o redimiu...".


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