segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Terrence Malick e o papel de cada um de nós

"Uma Vida Oculta" (2019) é mais um belíssimo filme de Terrence Malick, esse baseado em eventos reais. O autor nos coloca na pele de um fazendeiro austríaco que se recusa a jurar lealdade a Hitler durante a II Guerra. Casado e pai de duas meninas, o personagem sofre pressão de todos os lados (à exceção da jovem e corajosa esposa), especialmente da cunhada, de amigos e do próprio bispo local, para assinar o juramento, mas, por profundas convicções religiosas e morais, se recusa terminantemente a fazê-lo, sob o risco até de ser executado.
Os que o amavam lhe pediam apenas o "razoável" para salvar a própria vida, assinar um mero papel e esquecer tudo, mas o que parecia tão simples para eles lhe era totalmente inaceitável, intolerável. Uma verdadeira infâmia!!
É um filme que sugere uma profunda reflexão a respeito da vulnerabilidade humana, das condições físicas e morais às quais estamos submetidos nas relações de poder e do que cada um de nós faz ou deixar de fazer para o bem ou para o mal prosperar. 
Ouso afirmar, ainda, que Malick reitera em seus filmes a importância da fé, da integridade, do afeto e, em última instância, do AMOR em nossa jornada nesse mundo.
Homem de profunda fé cristã, o cineasta dedicou sua vida e sua arte a prestar contas com Deus! E nos inspira a fazer o mesmo!



terça-feira, 3 de novembro de 2020

Perdido em Salzburg

Na primeira vez que visitei Salzburg, na Áustria, em maio de 1995, cheguei à noite e mal pude observar a cidade. No dia seguinte, bem cedinho, saí da casa da Susie, amiga que me hospedava, peguei um ônibus indicado por ela e fui até o centro histórico para conhecer a célebre cidade de Mozart e que serviu de locação para o filme "A Noviça Rebelde". Era um raro domingo de sol naquele período do ano (segundo ela) e muitos turistas já tomavam conta das praças e dos bares. Até as missas nas igrejas estavam lotadas de fiéis (e curiosos). Eu mesmo entrei numa igreja ao ouvir vozes infantis cantando algo familiar. Não era uma gravação! Era um coro infantil "in loco" executando uma das várias missas compostas por Mozart. Dá para imaginar esse cartão de visitas?
Após essa bela recepção, prossegui explorando a cidade. Identifiquei locações do filme, visitei a casa natal de Mozart (agora, um museu) e percebi que tudo em Salzburg gira em torno de seu filho mais famoso e do filme que tornou a cidade conhecida no mundo inteiro. 
À tardinha, ao pegar o ônibus para retornar à casa da minha amiga é que me dei conta de que talvez não soubesse o ponto exato em que deveria saltar, já que havia chegado na casa dela à noite. Literalmente "marinheiro de primeira viagem", não apurei isso antes de me despedir de manhã. Ela só me disse o número do ônibus que deveria pegar (o mesmo, na ida e na volta), e lá fui eu para a cidade como uma criança no parque de diversões ansiosa para experimentar os brinquedos.
Devidamente acomodado no ônibus, inexperiente, confesso que quase entrei em pânico. Nem poderia perguntar ao motorista, já que eu mesmo não sabia o nome de nada. Perguntar qual o ponto de ônibus da casa da Susie? Era só o que eu sabia. Levado a Salzburg pela amiga alemã, não perguntei nada durante a viagem de trem desde Munique. Saltamos na estação principal (hauptbahnhof), pegamos um ônibus e só então chegamos à casa da amiga austríaca. E isso à noite!! Como eu poderia saber o ponto exato para saltar na volta do centro histórico? 
Essa aflição durou todo o percurso. Sabia que era perto e passei a viagem inteira tentando identificar uma paisagem ou uma edificação "familiar". Só me lembrava que a casa ficava no meio de uma curva bem fechada, quase formando um semicírculo (foto). Foi justamente essa lembrança que me salvou, e também o tempo percorrido, que calculei mentalmente. Quando o ônibus entrou na curva, fiz o sinal e saltei no ponto seguinte! Graças a Deus, era o local certo!
Aprendi ali a registrar quase tudo por escrito e não ficar dependendo de outras pessoas. Mas é claro que isso não evitou contratempos em outras viagens. Na verdade, a cada viagem, uma emoção, uma experiência e uma lição diferente, e esse é o grande barato de sair pelo mundo!!