sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Os metais, o belo e o épico no cinema




Tradicionalmente, o gênero de música que tira melhor proveito da variedade tímbrica da trompa é o score de filmes. E no caso particular das trilhas sonoras de faroestes, o som aveludado produzido pelo conjunto de trompas da orquestra, que pode ir do doce e melancólico ao solene e grandioso, com o auxílio dos outros metais (trompete, trombone e tuba), contribui para conferir às narrativas uma atmosfera épica que se tornou marca registrada dos maiores clássicos do gênero.
Na música composta para "Silverado" (vídeo acima), filme que está longe de ser um clássico, Bruce Broughton explora a sonoridade típica da família dos metais para produzir um de seus mais belos e consagrados trabalhos para o cinema, numa digna homenagem aos grandes compositores do passado, como Dimitri Tiomkin, Victor Young, Elmer Bernstein e Max Steiner.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um filme singular, sombrio e nada comercial

"Reflexo do Mal" (1990), de Philip Ridley, estrelado por Viggo Mortensen ("O Senhor dos Anéis") ainda em inicio de carreira, é um filme realmente singular. Não consigo associá-lo a nada que já tenha assistido. Um misto de drama, suspense e terror a serviço de uma história sombria sobre a maldade e a perda da inocência. 
Devido à temática excêntrica e pouco comercial da produção, o filme só foi lançado em dvd no ano passado (EUA, Japão e Alemanha), embora tenha colecionado prêmios em vários festivais de cinema. 



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Dudamel e a 8ª Sinfonia de Mahler: não sabendo que era impossível, foi lá e fez!!

Dias atrás, publiquei um comentário sobre a grandiosidade da 8ª Sinfonia de Gustav Mahler, a "Sinfonia dos Mil", assim chamada por requerer, idealizadamente, em torno de 1000 intérpretes para sua execução, entre músicos, solistas e coros.
O vídeo abaixo promove o blu-ray/dvd com a gravação realizada em fevereiro deste ano, em Caracas, quando o jovem regente venezuelano Gustavo Dudamel, atual queridinho da crítica, superou todas as expectativas (e talvez os limites do bom senso), reunindo nada menos do que 1400 artistas para executar a obra, entre músicos (Orquestra Filarmônica de Los Angeles e Orquestra Sinfônica Simon Bolivar), 8 solistas e coros com mais de 1000 vozes, incluindo 400 crianças, todas elas cantando de memória, o que pode representar um desafio maior para o condutor. Dá pra imaginar os ensaios com essa gente toda?
Não sei se ficou bom porque ainda não vi/ouvi (comprei o dvd agora), mas acho que a ousadia de Dudamel superou todos os limites. Ou talvez esse seja um projeto para lembrar e corroborar aquele velho pensamento atribuído ao francês Jean Cocteau:
- não sabendo que era impossível, foi lá e fez!


domingo, 18 de novembro de 2012

Os alemães são mais flexíveis?

Theatro Municipal do Rio de Janeiro

Como já contei aqui, em junho de 2010 visitei a mundialmente famosa sede da mítica Orquestra Filarmônica de Berlim. Vestido como um típico turista, de bermuda, camisa da seleção brasileira, tênis surrado e mochila, permitiram meu acesso para conhecer parte das instalações minutos antes de um concerto.
Hoje, na entrada do Teatro Municipal do Rio, aguardando dar a hora do início do espetáculo, presenciei uma cena que me fez lembrar daquele inesquecível dia em Berlim. Um senhor, acompanhado de um adolescente de aprox. 14/15 anos, solicitou ao funcionário que os deixasse entrar por uns instantes para tirar algumas fotos ali  mesmo no térreo, de onde se pode vislumbrar a bela escadaria e o rico interior do nosso querido Teatro Municipal. Cumprindo ordens, e educadamente, o funcionário informou que não seria possível autorizar a entrada do menino porque ele estava de bermuda, alegando que o traje era impróprio para frequentar o local, conforme as regras estabelecidas pela administração do teatro.
Pelo visto, na Alemanha, um dos mais importantes berços da música clássica, é relativamente fácil para um turista, vestido ou não adequadamente, entrar na sede da mais prestigiada orquestra do mundo. Já aqui no Rio, temos um sistema rígido de acesso de visitantes que não contempla situações excepcionais como a que vivi em Berlim e presenciei hoje à noite. Seriam os alemães mais flexíveis?

Sede da Filarmônica de Berlim

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Monumento à arte e ao espírito humano


O final apoteótico da 8ª Sinfonia de Gustav Mahler (conhecida como a Sinfonia dos Mil!!), talvez a obra-prima do compositor, aqui entusiasticamente regida por Simon Rattle, é um monumento à transcendência da arte e do espírito humano. Sua execução requer, supostamente, em torno de 1000 intérpretes, entre orquestra(s), coro(s) e solistas, embora isso raramente ocorra em função da indisponibilidade de músicos e espaço adequado.
Já assisti a um concerto da obra com a OSB, conduzida por Issac Karabtchevsky, na praia de Copacabana, um local totalmente impróprio para espetáculos dessa natureza. Acredito que a experiência de ouvi-la numa sala de concertos como essa do vídeo seja infinitamente mais gratificante. Confiram, são apenas 6 minutos!


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Uma boa dose de bondade para compensar




Comprei agora há pouco o livro "A longa estrada para casa" (Editora Paz & Terra), de Ben Shephard, que trata do retorno de milhões de refugiados (bálticos, poloneses, ucranianos e até alemães) para seus países e cidades de origem, após o fim da 2ª Guerra na Europa. 
No primeiro parágrafo da introdução, o autor reproduz um pequeno e singelo trecho de uma carta enviada para a namorada por Frank Thompson, jovem oficial britânico, em agosto de 1942, na qual afirma:
- Quando essa guerra acabar, terá de haver um investimento enorme de bondade para compensar o ódio e o sofrimento sem sentido dos últimos anos.
Infelizmente, o jovem Frank morreu em 1944, na Bulgária, ainda durante o conflito, e não pôde testemunhar o gigantesco esforço empreendido pelos países europeus no pós-guerra para a recuperação do continente. Por certo, uma boa dose de bondade, conforme romanticamente profetizara Frank, além dos bilionários recursos do Plano Marshall americano, contribuiu decisivamente para isso. 
Para quem se interessa pelo tema, é um livro indispensável. 

domingo, 11 de novembro de 2012

Assim é o Fluminense!


O título de campeão brasileiro de 2012, conquistado hoje à tarde pelo Fluminense, tem a cara ou o DNA do tricolor carioca. Vitórias sofridas e surpreendentes, com placares apertados e gols no final das partidas, acompanham o time desde sempre em suas conquistas. 
Para ilustrar, vejam uma crônica do saudoso Henfil, flamenguista doente, publicada na revista esportiva Placar logo após o Fluminense conquistar o Campeonato Brasileiro de 1970:

"Meus amigos, não há dúvidas de que Internacional, Palmeiras, Atlético e Cruzeiro serão os finalistas. Nenhuma chance existe para o Fluminense"

"E atenção! Fluminense, Palmeiras, Atlético e Cruzeiro se classificaram"

"Meus amigos, não vai dar outra coisa, o Robertão ficará entre Cruzeiro e Palmeiras"
"E atenção! O Fluminense venceu o Palmeiras por 1 x 0!"

"Meus amigos, o Cruzeiro será o virtual campeão! Hoje deverá passar facilmente pelo Fluminense"
"E atenção! O Fluminense ganhou do Cruzeiro por 1 x 0!"

"Meus amigos, o Fluminense... o Fluminense é um chato!"

sábado, 10 de novembro de 2012

Novamente, Palmeiras e Fluminense


Neste domingo, após 3 anos, Fluminense e Palmeiras se enfrentam novamente em jornada decisiva do campeonato brasileiro, só que agora em situações opostas. 
Em 2009, mais precisamente no dia 08 de novembro, o clube paulista, dirigido por Muricy Ramalho, era o líder do campeonato e jogava no Maracanã contra um Fluminense praticamente rebaixado. O tricolor ganhou de 1 a 0  e, a partir dali, o que se viu foi a queda vertiginosa do Palmeiras na competição, a ponto de perder até a vaga na Libertadores, e a histórica arrancada do Fluminense que o livrou do rebaixamento. 
A título de curiosidade, segue o comentário que enviei aos amigos naquela ocasião, relatando minhas emoções ao presenciar a partida no Maracanã, numa das raras vezes que compareci a um estádio de futebol nos últimos anos. 

Testemunhei ontem à tarde um dos espetáculos mais emocionantes a que já assisti em minha vida de torcedor de futebol. Desde que a televisão passou a transmitir jogos em abundância, em quase todos os dias da semana (e isso já faz muito tempo), deixei de me interessar pela ida aos estádios, prática da qual, na verdade, nunca fui muito adepto mesmo. O conforto proporcionado pela poltrona doméstica e, principalmente, a possibilidade rever o lance por vários ângulos, além da crescente violência dentro e fora dos campos de futebol, foram aos poucos me afastando da ideia de acompanhar de perto o time do coração.
Ontem, cumprindo uma promessa que fiz ao meu sobrinho no domingo passado, após a virada do Flu contra o Cruzeiro no Mineirão, fui com ele ao Maracanã para assistir ao jogo contra o Palmeiras, até então líder do campeonato. Logo no início me surpreendi com a quantidade de torcedores (67 mil) que, independentemente da situação em que o time se encontrava, compareciam ao estádio para apoiá-lo, na missão quase impossível de evitar o rebaixamento. Instantes antes do início do jogo, confesso que me emocionei bastante ao ver dezenas de milhares de torcedores formando um mosaico com as cores do clube. Mais tarde, ao longo da partida, foi possível perceber o amor e a entrega emocional dos torcedores, incentivando o time do início ao fim da partida, como que desejando entrar em campo para ajudar os jogadores. Ao final, foram (ou fomos) todos recompensados com a sofrida vitória, que mantém as pequenas esperanças de permanência da equipe na série A.
Do alto da minha presunção de ser um homem dominado pela razão e, portanto, isento de paixões clubísticas, reconheço que tudo que presenciei ontem serviu-me de enorme lição a respeito do que representa ser torcedor e amar um clube de futebol. É bem verdade que, embora tenha vencido o duelo, os resultados dos jogos da noite acabaram frustrando as expectativas criadas após o triunfo no Maracanã. Agora, o Flu precisa tirar 5 ou 6 pontos dos adversários diretos na luta contra o rebaixamento, o que costuma ser muito difícil faltando apenas 4 rodadas para o fim do campeonato. Mas nada disso apagará o belo espetáculo e as emoções que vivi. Agradeço, em especial, ao meu sobrinho Gabriel pela oportunidade que me ofereceu de aprender um pouco mais sobre o significado de amar um clube e doar-se por inteiro a ele, aconteça o que acontecer, esteja onde estiver. Com humildade, devo admitir que o belo sentimento que ele desenvolveu pelo Fluminense nesses poucos anos como torcedor do clube (tem apenas 19 anos), em algum momento de minha vida, lamentavelmente perdi ou deixei em plano secundário. O que me consola é que, de algum forma, posso me considerar um dos responsáveis por ele ter se tornado tricolor, um orgulhoso e autêntico tricolor.
Para finalizar, entendo que um clube que tem uma torcida como a do Fluminense, ainda numerosa, confiante e apaixonada, apesar dos vexames dos últimos anos, poderá resistir a tudo, até mesmo à incompetência dos dirigentes. Na verdade, a experiência de ontem à tarde comprovou perfeitamente que a torcida do Flu é seu maior patrimônio.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Lembranças da juventude



Em "Ao Entardecer" (2007), uma mulher idosa, no leito de morte, resgata lembranças da juventude e avalia escolhas que marcaram para sempre sua vida. Um filme comovente que conta com uma trilha sonora apropriadamente delicada e evocativa, composta pelo polonês Jan A.P. Kaczmarek, ganhador do Oscar pela música de "Em Busca da Terra do Nunca" (2004). 
"Ao Entardecer" conta com um elenco feminino afinadíssimo, com destaque para Glen Close, Meryl Streep e Vanessa Redgrave em seu único trabalho no cinema ao lado da filha Natasha Richardson, falecida em 2009, aos 45 anos.
O filme é uma bela reflexão sobre a importância das decisões que tomamos ao longo da vida e o que efetivamente fazemos (ou deixamos de fazer) para alcançar a felicidade. O encontro das personagens de Meryl Streep e Vanessa Redgrave, no final, é uma das cenas mais emocionantes do cinema nos últimos anos. Vale pelo filme inteiro!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Um Scorsese incomum


"A Época da Inocência" (1993) é injustamente um dos filmes mais subestimados de Martin Scorsese, talvez por abordar um tema (o amor) pouco explorado na extensa filmografia do cineasta.   
Trata-se de uma elegante e sutil reflexão sobre uma época (final do século XIX) em que as convenções sociais falavam mais alto do que os sentimentos, até mesmo as paixões mais arrebatadoras. 
A excelente música de Elmer Bernstein (vídeo abaixo), um dos mais belos trabalhos do compositor para o cinema, enfatiza magistralmente a atmosfera romântica que permeia toda a história. O cd com o score, que fazia falta em minha extensa coleção de trilhas sonoras, encontrei hoje, após garimpar num sebo do centro da cidade. Agora, só falta achar o romance homônimo de Edith Wharton, premiado com o Pulitzer de 1921, que deu origem ao filme e a outras duas adaptações cinematográficas, em 1924 e em 1934. 


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Livros, filmes e emoções



Após quase 30 anos do lançamento do filme, finalmente está disponível no mercado brasileiro o dvd de "Os Vivos e os Mortos" (1989), dirigido por John Huston em seu último trabalho para o cinema.
A produção é baseada em "Os Mortos", último conto da coletânea "Os Dublinenses", de James Joyce, publicada pela primeira vez em 1914, que se tornou uma das obras mais consagradas do escritor irlandês.  
Considero o trecho final do conto digno de constar das melhores antologias da literatura ocidental. O curioso é que, após várias leituras, percebi que a admiração que nutria pela obra de Joyce se devia, basicamente, à minha profunda empatia com o personagem Gabriel e suas inquietações. Com o passar do tempo, concluí que essa obra de Joyce revelava muito mais de mim do que eu supunha, sem contar que sua primorosa narrativa já havia me proporcionado momentos de verdadeiras epifanias, aquelas raras sensações de conexão direta com o Criador.
Para quem curte cinema e literatura, recomendo ambos, o filme e o livro, em qualquer ordem, porque, diferentemente do que costuma ocorrer com adaptações de obras literárias para o cinema, o filme também é belíssimo e só enaltece o trabalho de Joyce. 
O vídeo acima exibe a cena do filme baseada exatamente no trecho final do conto, transcrito abaixo.

"Gretta logo adormeceu.
Gabriel debruçou-se na cômoda e contemplou sem ressentimento os seus cabelos emaranhados, a boca entreaberta, ouvindo-lhe a profunda respiração. Então havia esse romance em sua vida: um homem morrera por ela. Quase já não o magoava pensar no pouco que ele, marido, representara em sua vida. Observava-a enquanto dormia, como se nunca houvessem vivido juntos. Seus olhos curiosos fitaram longamente o rosto e os cabelos, e ao pensar em como devia ser ela naquele tempo, no tempo da primeira juventude, uma estranha, sincera piedade pela esposa invadiu-lhe a alma. Não ousava dizer, nem para si mesmo, que seu rosto já não era belo, embora soubesse que já não era o rosto pelo qual Michael Furey afrontara a morte.
Talvez não lhe tivesse contado toda a história. Seus olhos moveram-se para a cadeira sobre a qual ela atirara algumas roupas. Um cordel da anágua pendia no chão. Uma bota estava em pé, o cano dobrado para baixo; a outra tombada de lado. Pensou no tumulto que o agitara uma hora antes. De onde surgira aquilo? Da ceia, do tolo discurso, do vinho, da dança, da brincadeira quando se despediam no vestíbulo, do prazer de passear pelo cais sobre a neve? Pobre tia Júlia! Ela também logo seria uma sombra junto às sombras de Patrick Morkan e seu cavalo. Surpreendera esse lúgubre presságio em sua face, quando ela cantava. Muito em breve, talvez, estaria sentado no mesmo salão, vestido de preto, o chapéu de seda sobre os joelhos. Os reposteiros estariam cerrados e tia Kate, sentada a seu lado, chorando e assoando o nariz, contar-lhe-ia como tia Júlia morrera. Revolveria o cérebro à procura de palavras que pudessem consolá-la e só diria frases fúteis e vãs. Sim, isso logo iria acontecer.
O ar gélido do quarto fê-lo estremecer. Deslizou cautelosamente sob as cobertas e acomodou-se ao lado da esposa. Um por um, estavam todos se transformando em sombras. Seria melhor precipitar-se na morte no apogeu de uma paixão do que extinguir e murchar lentamente com a velhice. Pensou como aquela mulher, adormecida a seu lado, ocultara por tantos anos a imagem do seu amado a afirmar-lhe que não queria viver. Pranto generoso invadiu-lhe os olhos. Nunca se sentira assim por uma mulher, mas sabia que isto era amor. As lágrimas cresceram nos olhos e ele imaginou ver na penumbra do quarto um jovem parado sob uma árvore encharcada. Outras formas pairavam ali. Sua alma acercava-se da região habitada pela vasta legião dos mortos. Pressentia, mas não podia apreender suas existências vacilantes e incertas. Ele próprio dissolvia-se num mundo cinzento e incorpóreo. O mundo real, sólido, em que os mortos tinham vivido e edificado, desagregava-se.
Leves batidas na vidraça fizeram-no voltar-se para a janela. A neve tornava a cair. Olhou sonolento os flocos prateados e negros que despencavam obliquamente contra a luz do lampião. Era tempo de preparar a viagem para o oeste. Sim, os jornais estavam certos: a neve cobria toda a Irlanda. Caía em todas as partes da sombria planície central, nas montanhas sem árvores, tombando mansa sobre o Bog of Allen e, mais para o oeste, nas ondas escuras do cemitério abandonado onde jazia Michael Furey. Amontoava-se nas cruzes tortas e nas lápides, nas hastes do pequeno portão, nos espinhos estéreis. Sua alma desmaiava lentamente, enquanto ele ouvia a neve cair suave através do universo, cair brandamente – como se lhes descesse a hora final – sobre todos os vivos e todos os mortos."


Transcrito de "Os Dublinenses", de James Joyce - Editora Civilização Brasileira