sábado, 31 de outubro de 2020

Adoração ao ídolo!

A cidade de Bayreuth, no norte da Baviera/Alemanha, tem lugar cativo e nobre na história da música. Lá foi erguido o Teatro do Festival de Bayreuth (Bayreuth Festspielhaus), com capacidade para 2000 pessoas, concebido por Richard Wagner (1813-1883) para a montagem de seu ciclo monumental de óperas. A obra, inaugurada em 1876, teve supervisão do próprio compositor e contou com um projeto arquitetônico revolucionário, incluindo a construção de um fosso coberto para a orquestra que torna os músicos invisíveis para o público. Embora auxilie a imersão da plateia na história, trata-se de um recurso controverso porque dificulta o sincronismo entre músicos e intérpretes, um desafio enorme também para o regente.
Bayreuth é uma das mais belas e organizadas cidades que conheci em toda a Alemanha. Curiosamente, apesar de Bayreuth ter sofrido bastante com os bombardeios na II Guerra, não foi atingido seu mais famoso teatro, erguido para a execução de obras de um compositor antissemita e adorado por Hitler. Os aliados sabiam disso? 
O "Bayreuth Festspielhaus" é um verdadeiro templo de adoração a Wagner que atravessa gerações. Frequentado também pelas mais altas autoridades do país, o "Festival de Bayreuth" tem eventos anuais disputadíssimos que requerem compra de ingressos com antecedência de anos. Dei sorte porque no dia da minha visita não havia espetáculo e pude, pelo menos, fazer um tour pelo interior do teatro, com direito a assistir a um vídeo sobre sua construção.
Foi uma tarde agradável e inesquecível. Dali eu iria para Leipzig, outra cidade icônica do universo musical, onde Johann Sebastian Bach se consagrou como organista e compositor. Mas essa é uma outra história!



sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Primeira parada: "Vettelheim"!

Heppenheim (ou "Vettelheim", como dizem os locais em homenagem a Sebastian Vettel) é a bela cidadezinha natal do piloto de F1. Visito Heppenheim sempre que vou à Alemanha, que fica no caminho de Frankfurt, onde desembarco e meus amigos me apanham, para Heidelberg, cidade onde moram. Chova ou faça sol, é parada obrigatória para tomar as primeiras rodadas de cerveja no país. 
Em seguida, paramos na estrada, sempre no mesmo ponto, para comprar frutas vermelhas, em especial morangos, cerejas e amoras, típicas da região. Até a vendedora, uma senhora simpática, parece ser sempre a mesma. Doces lembranças...
Esse programa já se tornou tradição em minhas visitas à Alemanha nos últimos 25 anos.



Visita obrigatória

"Hochstein Musikhaus", fundada há 157 anos, é a única (ou maior) loja especializada em música de Heidelberg, Alemanha. Vende instrumentos musicais, partituras, cds, dvds e blu-rays exclusivamente de obras clássicas, incluindo sinfonias, concertos e óperas.
Encomendei lá a caixa de cds/blu-rays com o ciclo completo de sinfonias de Sibelius lançado pela gravadora da própria Filarmônica de Berlim. Fizeram o pedido em Berlim e me entregaram antes do meu retorno ao Brasil. A melhor compra da viagem!
A visita à simpática loja é obrigatória! Fica na Bergheimer Strasse, pertinho da Bismarckplatz, praça central da cidade e entrada do belo e preservado centro histórico.
Mais um motivo para me sentir em casa em Heidelberg. Na verdade, aqui mesmo no Brasil, são raríssimas as lojas com tamanha variedade de itens de música!



quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Doces recordações

Quando viajo com os amigos da Alemanha de carro ou de trem pela Europa, já se tornou "tradição" a realização de refeições rápidas ao longo do percurso. São "piqueniques" improvisados nas estradas ou mesmo a bordo dos trens. 
Antes do "embarque", passamos em algum supermercado ou padaria e compramos queijos, pães, frios, chocolates, água, vinho e guardanapo. Dessa forma, economizamos tempo e dinheiro durante o dia e deixamos para fazer a refeição principal à noite, nos restaurantes.
Já fizemos piqueniques em todos os locais imagináveis (e improváveis!) de vários países. Na estrada, no trem, na porta de museus, igrejas e palácios, e até na fila para um concerto de verão no Museu D'Orsay e em frente à Notre Dame de Paris.
Esses momentos, por seu improviso, informalidade e descontração, acabam se tornando os mais divertidos das viagens.


quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Toledo: história milenar, três religiões e lar de El Greco

Lembranças de minha primeira visita a Toledo, Espanha, em agosto de 1996. 
A cidade, consagrada como "Patrimônio Mundial da Unesco", conta com uma bela e conservada herança cultural de séculos de ocupação cristã, muçulmana e judaica. Uma convivência religiosa que nem sempre se mostrou pacífica ao longo dos séculos. 
A visita ao centro histórico (ou "casco viejo") se constitui numa verdadeira viagem no tempo. Casarios seculares em ruas estreitas, que preservam o aspecto medieval da cidade, podem representar um enorme desafio para os visitantes desprevenidos (ou fora de forma), mas a recompensa é garantida com a visita a museus, lojas de artesanatos e bijuterias em ouro e prata e, principalmente, à monumental Catedral Gótica, datada do século XIII, com seu magnífico altar em estilo barroco e quase todo "banhado" a ouro.
Mas, para mim, Toledo se torna especial por ter sido lar de El Greco, um dos pintores que mais aprecio na história da arte. Ali, El Greco passou os últimos 37 anos de vida, realizando a maioria das obras de seu período de maturidade artística.
Por estar próxima de Madri, um pouco mais de meia hora de trem, Toledo é uma visita obrigatória para turistas interessados em arte e história medieval.



sábado, 17 de outubro de 2020

Mannheim, passado e presente!

Mannheim, cidade próxima a Heidelberg, foi bombardeada e praticamente destruída durante a II Guerra. Pouca coisa ficou de pé e seu palácio, que agora abriga a universidade local, não foi exceção. A reconstrução no pós-guerra durou de 1947 a 2007 e recuperou o esplendor do estilo barroco da edificação.
Como se trata de um palácio que serviu de residência imperial, os cômodos habitados no passado pelos membros da corte funcionam atualmente como salas de aula, laboratórios e demais instalações da universidade, uma das mais prestigiadas da Alemanha. Ao lado da entrada de cada sala, existe um pequeno quadro indicando a função original do aposento, que pode ter sido o quarto de dormir do príncipe, o quarto de vestir da princesa ou mesmo a sala de jantar da família real. É tudo muito organizado, com o propósito evidente de preservar o patrimônio histórico, artístico e cultural da cidade, embora as instalações sejam intensamente frequentadas por milhares de universitários que ali estudam a cada período letivo.
A cidade também foi sede, no século XVIII, da chamada "Escola de Mannheim", que introduziu novas técnicas de orquestração, influenciando compositores da época, dentre eles, Joseph Haydn e o próprio Mozart, que viveu ali por quase 5 meses. Por muito tempo, Mannheim se estabeleceu como um dos mais importantes centros artísticos e intelectuais da Europa. Não desfruta do mesmo prestígio hoje, mas, do ponto de vista econômico, continua sendo uma cidade de referência na região.






Nostalgia imperial

Em 2017, aproveitei a estada em Viena por duas semanas para visitar Budapeste, que fica a apenas 243 km de distância, uma viagem rápida de trem apreciando a bela paisagem da região.
Por sua arquitetura monumental, a capital húngara mantém uma certa elegância herdada dos tempos do Império Austro-Húngaro, dissolvido com o fim da primeira grande guerra. E décadas de socialismo só fizeram acelerar esse processo de "desbotamento" do brilho artístico e cultural da cidade. Mas ainda é uma bela cidade, certamente saudosa de seus melhores dias no passado. 
E também segura. Quando voltei à noite para o hotel, por volta das 22h, as ruas ainda estavam apinhadas de gente, incluindo famílias com crianças e idosos. Ninguém aparentava qualquer preocupação com segurança. Apesar de surpreso, nem eu!!




Um dia na companhia de Bach!

Em minha visita ao leste da Alemanha, região da antiga RDA (República Democrática Alemã), dediquei um dia inteiro à cidade de Leipzig para conhecer os lugares onde viveu e por onde passou o grande Johann Sebastian Bach. Um passeio indispensável para amantes de música e uma reverência obrigatória ao mestre do barroco.
Logo cedo, estive no Museu Bach, que reúne, dentre outras coisas, objetos pessoais, partituras originais e até instrumentos usados pelo compositor. Em seguida, visitei a famosa Igreja de São Tomás (Thomaskirche), onde Bach permanece sepultado e atuou por um longo período como "kantor" (músico responsável pelo coro e pela música nas cerimônias).
No entorno da Igreja e do museu dedicado ao compositor, tudo parece girar em torno do nome de Bach, lembrando um pouco a relação de Mozart com Salzburg, embora os austríacos pareçam mais "agressivos" na exploração da memória de seu filho dileto. É preciso lembrar também que Bach não nasceu em Leipzig (Saxônia) e sim em Eisenach, na Turíngia. Mas foi em Leipzig que ele compôs boa parte de suas obras mais célebres. 
Faltou apenas visitar a sede do coro de São Tomás (Thomanerchor), tradicional coro infantil de mais de 800 anos que já foi regido pelo próprio Bach. As instalações não se encontram abertas à visitação por tratar-se de um colégio onde as crianças, além de música, estudam as matérias comuns da grade curricular. 
Em Leipzig, fiz questão, ainda, de conhecer a sede da Gewandhaus Orchestra, uma das mais conceituadas do mundo, onde comprei um cd com músicas de Natal executadas pela orquestra e o famoso coro infantil da cidade.
Por último, vale dizer que a forte tradição musical de Leipzig não se restringe à herança de Bach. Lá nasceu o genial Richard Wagner e viveu Felix Mendelssohn, outro grande compositor alemão. Mas esses ficam para uma próxima visita!




quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O amigo do gênio

Beethoven, sempre sincero e muitas vezes até grosseiro, não era capaz de bajular ninguém, nem mesmo as altas figuras da corte. Há o registro de um episódio em que teria se negado a curvar-se a um nobre. Ficou famoso também o seguinte comentário atribuído a ele e dirigido a um príncipe: 
- Príncipe, o que és, és acidentalmente por nascimento; o que sou, sou por mim mesmo. Príncipes existem e existirão aos milhares, Beethoven há apenas um!
Justamente por isso, quando Beethoven era gentil, não havia dúvida de sua sinceridade no tratamento. 
A bela "Canção Elegíaca", opus 118, é uma obra singela composta em memória à esposa do barão Pasqualati, um grande amigo de Beethoven e seu senhorio por muitos anos, que mantinha o apartamento livre e disponível mesmo quando o compositor se ausentava por longos períodos. Numa deferência ao amigo, a estreia da obra foi realizada na casa do barão, num dos aniversários de morte da esposa, que faleceu muito jovem.
O próprio barão Pasqualati, por gratidão, apoiou Beethoven pelo resto da vida, garantindo-lhe uma determinada quantia para o sustento nas épocas de "vacas magras".
Beethoven, com sua maneira rude de lidar com os que o cercavam, não fez muitos amigos em sua nem tão longa vida (57 anos). Entre os poucos que puderam contar com sua amizade, certamente se encontrava o famoso barão Pasqualati, cuja casa em Viena (Pasqualatihaus) é visita obrigatória para os fãs do compositor. Lá, Beethoven criou várias de suas obras-primas, incluindo algumas sinfonias, concertos para piano e primeiros esboços de "Fidélio", sua única ópera.



El Escorial, um patrimônio de todos nós!

O "Real Monasterio de San Lorenzo de El Escorial", palácio construído no século XVI pelo rei Felipe II, que já foi residência da família real e hoje serve de mausoléu de reis, rainhas, príncipes e princesas da Corte, fica na aprazível cidade de San Lorenzo, a aproximadamente 1 hora de trem de Madri. 
É uma edificação sóbria, com poucos ornamentos externos e internos, mas que impressiona pela grandiosidade e, principalmente, pela coleção de pinturas (incluindo uma gigantesca de El Greco, um dos meus pintores favoritos), pela bela biblioteca real e pela monumental basílica construída em seu interior. Trata-se de um dos palácios mais impressionantes de toda a Europa, que já recebeu, com justiça, o título de "Patrimônio da Humanidade" por parte da UNESCO.
Em minhas viagens, conheci os mais majestosos castelos e palácios da Europa, incluindo Versailles, Schonbrunn, Neuschwanstein e o próprio Palácio Real de Madri, mas foi no austero "El Escorial" da pequena San Lorenzo, desprovido de luxo e excessos ornamentais, que me senti "em casa". 
Sempre que vou a Madri, a visita ao famoso monastério é um passeio obrigatório.



sexta-feira, 9 de outubro de 2020

No reino de Cascadura

Era uma vez uma pacata vila no reino (nem tão encantado) de Cascadura. Tinha "floresta" com sapo, rã, cobra, goiabeira, jabuticabeira, bananeira, mangueira, caramboleira, tiziu, biquinho de lacre, pardal e sabiá. E também campinho de pelada, time de futebol com camisa e até festa junina com casamento.
Tinha ainda Dna. Maria, a vizinha mais próxima e prestativa; Dna. Nilza, a professora que alfabetizava todas as crianças do reino; Dna. Walquíria, a enfermeira que fazia o melhor pavê da região; Dna. Elvira, a mais rica, que viajava de avião todo ano; e "Dna. Nélia", a mais pobre, que morava com marido e muitos filhos num barraco com puxadinho. 
Mas tinha também o Zé Luis, o Marcos, o Robertinho, o Edílson, a Bete, a Helenilza, a Ildimar, a Duca e a Joaninha. E ainda os passeios ao shopping do reino vizinho (Madureira) e até ao longínquo reino da Penha, no parque com trem fantasma, roda-gigante, carrossel, algodão-doce, pipoca e uma igrejinha bem no alto.
Era uma vez uma infância, uma vila e um reino que o tempo deixou para trás...



quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Lembranças da infância...

Acabei de assistir a uma cena no filme ""A Invenção de Hugo Cabret" que me remeteu diretamente à infância. Ao ver o padrasto sair do trabalho, a menina pega a pasta para ajudá-lo e vão juntos pra casa. Eu era muito pequeno, não tinha mais do que 10 anos. Todas as tardes, praticamente no mesmo horário, eu aguardava na janela meu pai apontar no início da vila para correr em direção a ele e pegar, não a pasta, mas o jornal que ele trazia dobrado e apertando com os dedos junto à pasta. 
Foi ali, bem cedo (ou precoce), que passei a ler jornal diariamente, um hábito que carreguei a vida inteira. Devo isso também ao meu pai, o saudoso Pepe. Um legado singelo do qual talvez nem ele se desse conta na época, mas que certamente contribuiu para me formar como homem e como cidadão!



Literatura e civilização

Otto Maria Carpeaux nasceu na Áustria, em 1900, mas emigrou para o Brasil em 1939, onde permaneceu até morrer, em 1978. 
Intelectual brilhante, Carpeaux tornou-se um especialista em literatura brasileira e universal, mas escreveu também sobre história, sociologia e música. 
No livro "A História Concisa da Literatura Alemã", o autor ressalta que a história da literatura alemã é, na verdade, a história da literatura em idioma alemão, falado por povos que extrapolam as fronteiras do país que se formou apenas no final do século XIX como a nação que conhecemos hoje. 
Certamente uma leitura obrigatória para os admiradores de uma das literaturas mais influentes da civilização ocidental, que nos legou, dentre outros, Goethe, Schopenhauer, Kant, Thomas Mann, Kafka, Herman Hesse, Schiller, Brecht e Nietzshe.



terça-feira, 6 de outubro de 2020

Os dois Pedros do Brasil

Com D. Pedro, conquistamos a independência de Portugal, mas foi com seu filho, D. Pedro II, que o Brasil viveria seus melhores dias no período do império, incluindo o fim "oficial", ainda que tardio e "incipiente", da escravatura. 
Grande líder político, humanista e defensor das ciências e das artes, D. Pedro II se revelou um verdadeiro estadista, respeitado por artistas, intelectuais e cientistas do mundo inteiro. 
Ele viajou por quase toda a Europa, falava 17 idiomas e, estudioso, tinha interesse por todas as áreas de conhecimento. Fez uso dessa erudição em benefício do país, criando instituições públicas que prestam até hoje inestimáveis serviços à nação. 
Reconhecido pelo exemplo de liderança e legado humanitário, viveu os últimos anos exilado em Paris, onde faleceu e teve um funeral com merecidas honras de Chefe de Estado.
Esses dois livros, de autoria de Paulo Rezzutti, revelam detalhes e curiosidades da trajetória desses homens ilustres, pai e filho, que escreveram, talvez, as páginas mais memoráveis da história do Brasil, embora poucos brasileiros tenham ciência disso.