quinta-feira, 29 de julho de 2021

O mais popular dos "clássicos"!

 

Peter Tchaikovsky (1840-1893) talvez tenha sido o maior melodista de seu tempo. Não à toa é considerado o mais popular dos compositores "clássicos". Suas obras para balés como "O Quebra-Nozes" e "O Lago dos Cisnes" encantam pessoas de todas as idades e origens há gerações.
Mas Tchaikovsky passou a vida inteira atormentado por sua homossexualidade, naquele tempo punida na Rússia com prisão e exílio de anos na Sibéria. Teve um "casamento de fachada" e se apaixonou pelo próprio sobrinho, a quem dedicou sua última (sexta) e mais célebre sinfonia.
Pressionado pelo escândalo que se formava na corte imperial, Tchaikovsky teria deliberadamente bebido água contaminada, embora alguns estudiosos afirmem que o compositor teria tomado arsênico para dar fim à própria vida.
O fato é que essa triste história se reflete em quase todas as obras do compositor. O último movimento de sua derradeira sinfonia, apropriadamente chamada de "patética", carrega um profundo e comovente tom melancólico, como um verdadeiro réquiem com o qual Tchaikovsky se despedia da vida.
Ainda hoje, muitos russos, inclusive Putin, por puro preconceito, consagram o artista e sua obra, mas desprezam o homem, o ser humano. Uma triste contradição que definitivamente não honra a memória de um dos mais talentosos compositores da história da música.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Um alienígena lá em casa!

 


Esse filme, um clássico, se tornou inesquecível pra mim também por uma experiência pessoal.
Em 1979, por meio do intercâmbio da faculdade da minha irmã, recebemos lá em casa um jovem americano de seus 18 anos que veio ao Brasil para aprender português.
Mark, apesar da pouca idade, já chegou aqui falando alguma coisa do idioma. Adorava feijão com arroz e sempre se mostrou muito educado com todos. Confesso que, à época, ele fugia ao meu conceito sobre os americanos em geral. Aquela foi minha primeira lição sobre os cuidados que devemos ter com clichês e preconceitos. 
Em seu último dia lá em casa, Mark se despedia de todos justamente na hora em que eu saía para ver "Alien" no Cine Palácio, no Centro. Resolvemos ir juntos já que pegaríamos o mesmo ônibus. Durante a viagem, eu comentei que estava indo ao cinema. Como tinha tempo, ele decidiu me fazer companhia para conhecer uma sala de cinema no Brasil. Naquela época, o Palácio era um dos cinemas mais luxuosos do Rio. O carpete, lembro bem, era tão grosso que afundava o pé, sem contar a tela, uma das maiores da cidade. Era um tempo em que a Cinelândia ainda fazia justiça ao nome.
Antes da sessão, paramos num bar da Rua Nilo Peçanha para tomar uma cerveja de despedida, quando conversamos sobre as impressões que ele levava do Rio e um possível retorno ao Brasil no futuro.
Em seguida, já no cinema, ao entrarmos na sala de exibição, Mark, impressionado, perguntou se todos os cinemas do Rio eram como aquele. Não resisti e acabei respondendo que a maioria era porque queria que ele voltasse aos EUA com a melhor impressão do país. Depois do filme, nos despedimos ali mesmo, na porta do cinema.
Com o passar dos anos (não havia internet), minha irmã perdeu o contato com Mark e nunca mais o vi ou soube dele.
Ouvindo agora a belíssima trilha sonora do filme, lembrei desse episódio com Mark, certamente um jovem inteligente, curioso e de espírito aventureiro.
Espero que Mark, (se vivo, e espero que sim!) agora com seus 60 anos, venha tendo uma vida plena de realizações e que guarde boas lembranças da minha família, do Rio e do Brasil. E que ainda tenha com ele a bandeira do Brasil que lhe dei como recordação do país que o acolheu por alguns meses.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Bach, Leipzig, Mahler e a "Sinfonia dos Mil"!

 


Assistindo ao concerto com a "Gewandhausorchester Leipzig" executando a "Sinfonia dos Mil", a oitava de Mahler, sob a regência do titular Riccardo Chailly (foto).
Não posso deixar de lembrar do dia, em maio de 2016, em que estive na sede/sala da orquestra, uma das mais antigas e tradicionais da Alemanha, fundada em 1781. Depois de percorrer as instalações, dei uma passada na loja para cumprir um "ritual" infalível em todas as cidades que visito em minhas viagens - "garimpar" cds clássicos impossíveis de encontrar no Brasil!
Sem novidades a bons preços, comprei esse cd (foto) com uma coletânea de músicas para a noite de Natal (weihnachten), gravadas pela orquestra local e o famoso coro infantil "Thomanerchor", também de Leipzig, criado no longínquo ano de 1212!
Guardo ótimas lembranças daquele dia em Leipzig, quase todo dedicado ao grande mestre Bach. É uma cidade de forte tradição musical. Lá nasceu Richard Wagner e viveram Mendelssohn e o grande mestre Johann Sebastian Bach. Visitei a igreja de St. Thomas, em cujo órgão Bach tocou diversas vezes, o Museu Bach, que reúne instrumentos e partituras originais do compositor e, claro, a sede da tradicionalíssima "Gewandhausorchester".
Foi minha primeira viagem ao leste da Alemanha, que, mesmo após mais de 25 anos da reunificação do país, ainda mantinha em 2016 fortes traços econômicos, arquitetônicos e culturais do longo período em que esteve sob o domínio soviético.
Uma viagem inesquecível!




sábado, 10 de julho de 2021

Barcelona em família!

Hoje faz exatamente 10 anos que deixei Barcelona pela última vez, após a visita aos primos espanhóis. Eu estava acompanhado da minha irmã, numa viagem que incluiu também Alemanha, França, Suíça e Áustria. O voo para o Rio, pela Air France, previsto para as 6 da manhã, tinha conexão em Paris. Era um domingo, e acordamos muito cedo, por volta das 4h. Minha prima, apesar de nossos apelos para que ficasse em casa, fez questão de nos levar ao aeroporto, tirando o marido Rafael da cama em plena madrugada, justamente num dia de descanso.
Foi muita correria. Além da tensão no aeroporto de Barcelona por causa da bagagem de mão que tive que despachar com todos os cds comprados na Europa, o voo atrasou e tivemos que correr muito no aeroporto de Paris para não perder a conexão para o Rio. A lembrança da cena da minha irmã correndo (com maleta e tudo!) me faz rir até hoje. Eu corri na frente na tentativa de "retardar" o voo, dando tempo para ela chegar ao portão de embarque, mas ela achou (e acha até hoje!) que a deixei para trás! Fazer o quê?
No final, deu tudo certo. Encontramos o portão de embarque e nos acomodamos no avião, que ainda levou quase uma hora para decolar, aguardando um outro voo de conexão que estava atrasado. Enquanto isso, eu esperava que minha bagagem de mão com os cds "preciosos" despachada em Barcelona também estivesse devidamente "acomodada" no voo. Só relaxei quando finalmente a recuperei intacta na esteira do "Tom Jobim". Ufa!!
Saudade de tudo aquilo; de cada minuto, de cada emoção, de cada surpresa e até de cada contratempo enfrentado naquela viagem, inesquecível como tantas outras que realizei nos últimos 26 anos.






sexta-feira, 2 de julho de 2021

Beethoven libertário e eterno!

 


Beethoven era um compositor libertário (e visionário!).
Simpatizante da Revolução Francesa (1789), que defendia valores como liberdade, igualdade e fraternidade entre os homens, sua ópera "Fidelio", de 1805, trata justamente da tentativa de libertação de um preso político por sua amada, que se disfarça de homem para ingressar no presídio e promover sua fuga. Uma história de amor permeada de valores humanitários que encontra eco até os nossos dias, num mundo onde os direitos humanos vêm sendo cada vez mais questionados ou negados.
Em Dresden, às vésperas da queda do muro de Berlim, em 1989, após uma récita de "Fidélio", concluída com um belíssimo coro em defesa da liberdade, o público que deixa o teatro resolve aderir às manifestações de rua que pedem reformas democráticas na então Alemanha Oriental. Em poucos dias, o muro de Berlim caía e o próprio bloco soviético se dissolvia para sempre.
Beethoven, portanto, ainda era capaz de falar aos corações e mentes dos homens, inspirando movimentos libertários quase 200 anos após compor sua única ópera.
Em toda a História da música, nenhum outro compositor desempenhou papel semelhante (ou enxergou tão longe!).