terça-feira, 27 de dezembro de 2022

A música da minha vida!

Passei quase toda a minha vida (e lá se vão muitos anos!) ouvindo a música que se convencionou chamar de "clássica". Um gênero musical que, embora atravesse séculos, enfrenta um grande preconceito por quem a desconhece ou não compreende seu universo. Mas sou testemunha, depois de tantos anos, de que se trata de um tipo de música que reflete uma enorme gama das emoções que envolvem a experiência humana, independentemente de origem e cultura. Por isso mesmo, a essa altura da vida, estou convencido de que nenhuma outra manifestação artística ou cultural revela de maneira tão ampla, verdadeira e profunda o que anima o espírito humano como a música clássica. 
É uma pena que, por gerações, no Brasil e na maior parte do mundo, se estabeleceu o conceito de que música clássica ou "erudita" é para poucos. Um elitismo estúpido que priva a maioria das pessoas de uma experiência que pode estabelecer parâmetros éticos, estéticos e até filosóficos capazes de enriquecer a vida de todos nós. 
Sem pretensão ou preconceito com os demais gêneros musicais, é o que aprendi ouvindo música clássica a vida inteira. Creio, sinceramente, que isso me tornou uma pessoa melhor.

sábado, 3 de dezembro de 2022

A Espanha que conheci.


A Espanha passou os últimos dias às voltas com cartas-bomba enviadas a autoridades locais e órgãos estrangeiros. Ainda não se sabe a origem e a motivação desses atos terroristas, que remontam ao pesadelo que assolou o país por décadas com as ações do grupo separatista basco.
Considerando os alvos (embaixadas da Ucrânia e dos EUA, primeiro-ministro e ministro da Defesa espanhol), é bem provável que esses atentados estejam relacionados com a invasão da Ucrânia pela Rússia, um conflito que já se prolonga por 10 meses, com milhares de vítimas civis, entre mortos e refugiados.
Em relação à Espanha, visitei o país várias vezes desde 1995 e pude testemunhar a consolidação do processo democrático iniciado com a morte de Franco, em 1975. Nas viagens que fiz de ônibus entre Madrid ou Barcelona e a Galícia, percebi também o enriquecimento do país, que soube aplicar muito bem os "generosos" recursos proporcionados pela adesão à União Europeia, em 1986, o que deve ter deixado definitivamente para trás a Espanha pobre e majoritariamente agrária que atravessou boa parte do século XX.
Justamente nesse período, a Espanha experimentou uma fase de crescimento econômico invejável e sem precedentes em sua história recente, propiciando fortes investimentos sociais (saúde, educação, infraestrutura etc.) e uma melhor distribuição da riqueza nacional.
Tudo que vi, li e ouvi em conversas com os primos e na imprensa local, especialmente no jornal "El País", de Madrid, me leva a acreditar que a Espanha viveu até a crise econômica de 2008 sua verdadeira "Belle Époque". Foram anos consecutivos de prosperidade que mudaram o perfil do país, aumentando a qualidade de vida da população e atraindo legiões cada vez maiores de imigrantes, na maioria latinos e africanos, em busca de melhores oportunidades. Certamente, a Espanha lançou até ali os sólidos alicerces que lhe permitem superar desafios e seguir em frente integrando o seleto grupo de países mais ricos e "estáveis" do continente.
Por fim, vale dizer que, para mim, viagens têm um significado que vai muito além da mera "curiosidade turística" (monumentos, igrejas, museus, praças, compras etc). Sempre que visito outros países, a exemplo do que fiz na Espanha, aproveito a oportunidade para observar tudo, desde como as pessoas vivem, se relacionam e se organizam em sociedade (regras de convivência, comunicação, transportes etc.), até preferências culturais, tais como entretenimento, vestuário, alimentação etc.
Estou definitivamente convencido de que o conhecimento do "outro" e de sua visão do mundo é o investimento mais importante para a conquista da paz.

Um país peculiar!

 

É fácil (quando se tem dinheiro) atravessar o planeta para torcer pelo Brasil, uma seleção com real expectativa de sucesso em qualquer Copa do Mundo. Difícil é fazer isso, economizando o que pode e o que não pode, para torcer pelo País de Gales no distante Oriente Médio. Apesar disso, milhares de galeses foram até o Catar e proporcionaram alguns dos momentos mais comoventes da competição até agora.
Com a derrota para a rival Inglaterra, eles deram adeus à Copa do Mundo ainda na fase de grupos, mas a demonstração de carinho dos torcedores no final do jogo (uma enorme mancha vermelha na arquibancada), reconhecendo, apesar do insucesso, a "entrega" dos jogadores, e o agradecimento do time junto à torcida certamente produziram momentos emocionantes que já marcaram para sempre o evento.
O futebol e a Copa do Mundo em particular oferecem a oportunidade de testemunharmos episódios ricos de significados (dramas, alegrias etc.) e de empatia. Esse aspecto humano da competição, aliado à imprevisibilidade própria do futebol, é o que mais me atrai em Copas do Mundo. E foram justamente a trajetória do apenas esforçado time do País de Gales e sua numerosa e apaixonada torcida no Catar que despertaram minha curiosidade pelo país e por sua rica e milenar história, incluindo a longa rivalidade com a Inglaterra e a manutenção do idioma, dos costumes e das tradições locais, mesmo após mais de cinco séculos sob o "domínio" inglês, apesar de desfrutar hoje de alguma autonomia administrativa. Não é qualquer povo que resiste a tudo isso por tanto tempo sem perder a identidade e o orgulho de suas origens. Uma verdadeira lição de patriotismo!!

Viva até ser esquecido!

A mais bela animação do cinema em muitos anos, indicada também para adultos.
Nenhuma cultura ocidental lida com a morte de maneira mais poética do que a mexicana.
Verdadeiramente, só morremos quando o último vivo (ou encarnado) se esquece de nós.
Enquanto permanecemos na memória dos que ficam, quem somos ou fomos não deixa de existir. E o filme nos conta isso de maneira comovente e bem-humorada.


Belo e comovente, mas superficial.

Em 2009, Tornatore retomou a atmosfera romântica e bem-sucedida de "Cinema Paradiso", lançando a superprodução "Baaria - A Porta do Vento", supostamente uma continuação do filme anterior (para alguns, uma refilmagem).
A nova produção conta a história de três gerações de uma família também siciliana, traçando um painel da cena política italiana ao longo de 50 anos, com foco no romance entre os jovens Peppino e Mannina e na trajetória de vida do protagonista, desde a infância nos anos 30 até a maturidade, com a consolidação de sua carreira política no Partido Comunista.
Mas o aspecto social do filme, que contrasta com o clima intimista de "Cinema Paradiso", não é de todo resolvido. Quando a história parece evoluir para um aprofundamento do contexto político, o roteiro retorna às questões mais pessoais e afetivas do personagem, relegando a um plano secundário passagens relevantes da história contemporânea da Itália que contribuem para sua formação.
De todo modo, a criativa e comovente sequência final do filme absolve a produção de todos os seus possíveis pecados. Inesquecível!!


Se nada der certo, enlouqueça!

 

Um adolescente com ideias suicidas procura ajuda médica e acaba internado na ala de doentes mentais de um hospital público. Ali, em meio a pacientes crônicos e com os mais variados distúrbios, vai receber lições para o resto da vida!
Uma comédia diferente e muito divertida que conta com um roteiro enxuto e belas atuações.
O garoto protagonista, em particular, tem uma atuação impressionante. Parece viver mesmo aquela situação. E o diretor, percebendo isso, abusa dos "closes"!
Divertidíssimo!!

Um drama real e dilacerante!

O realismo com que esse filme trata a questão do vício em drogas é doloroso e quase insuportável, mas funciona para nos mostrar que essa tragédia pode se abater sobre qualquer um, inclusive aqueles que mais amamos.
O drama de um pai vendo o filho se lançar num precipício aparentemente sem volta é dilacerante!
E o jovem ator (Timothée Chalamet) tem uma atuação impecável. Intensa sem ser apelativa, num papel difícil de desempenhar com tão pouca idade.
A cena final diz tudo sem usar uma única palavra. Nem precisa!
Enfim, há muito tempo não assisto a um filme tão impactante.


Na terra de "los hermanos"!


Há exatos 15 anos, com dois amigos, eu visitava Buenos Aires, dando um tempo em minhas viagens para a Europa.
Buenos Aires talvez seja a capital latino-americana mais parecida com Paris, embora, hoje, esteja bem longe da cidade elegante de 100 anos atrás, quando a Argentina figurava entre os países mais ricos do mundo, a 9ª maior economia, à frente de Alemanha, Dinamarca e França.
Fomos muito bem-recebidos pela amiga argentina Silvina Gerardi , Silvina Gerardi , que gentilmente nos acompanhou em vários passeios e até nos levou para conhecer a simpática San Isidro, uma pequena cidade próxima de Buenos Aires, que tem uma atmosfera semelhante às cidades serranas do estado do Rio.
Em quase duas semanas, além de fazer muitas caminhadas, visitamos El Caminito, La Bombonera, Recoleta, Puerto Madero, Café Tortoni (show de tango), Livraria El Ateneo, Calle Florida, San Isidro, Delta do Tigre e o "Malba", museu onde tive a oportunidade de ver "Abaporu", a obra mais famosa da brasileira Tarsila do Amaral. Mas faltou conhecer a Feira de San Telmo e o Teatro Colón, que estava fechado para reformas. Fica para uma próxima vez!

Berlim, uma cidade entre o passado e o futuro.

Passeio de barco pelo rio Spree, em Berlim, com a moderníssima estação central (hauptbahnhof) ao fundo.
Conheci Berlim no verão de 2010. A capital alemã, ao lado de Amsterdam, é a cidade mais "vanguardista" que visitei em minhas viagens. Talvez por ter recomeçado praticamente do zero após ficar em ruínas com os bombardeios da II Guerra, a cidade se reinventa a cada dia sob a influência de levas crescentes de imigrantes e novos padrões/valores de convivência. O fato é que poucas cidades europeias celebram a diversidade cultural e humana como Berlim.
A cidade se encontra dividida entre as lembranças do passado sombrio e o otimismo por vezes contagiante que se revela em edifícios, ruas, praças e até bairros inteiros reconstruídos após a queda do muro, em novembro de 1989.
Em Berlim, praticamente a cada quarteirão percorrido, encontramos fortes referências (deliberadamente mantidas) aos trágicos acontecimentos do século XX, mas, talvez, nenhuma outra cidade europeia transmita maior confiança no futuro.
Se Paris celebra o passado, refletido na preservação da homogeneidade de seu próprio conjunto arquitetônico, Berlim, por circunstâncias históricas, se vê diante da necessidade de recriar quase tudo em busca de um futuro diferente que a redima de um passado triste e conturbado.