domingo, 19 de junho de 2022

O Doutor Fausto que há em todos nós.

Um compositor vende sua alma ao diabo em troca de vida longa e plena realização artística.
O romance "Doutor Fausto", de Thomas Mann, baseado na peça "Fausto", de Goethe, é uma "alegoria" da Alemanha no período de gestação do nazismo entre as duas grandes guerras do século XX, mas tragicamente se aplica também aos tempos atuais, quando o mundo se vê cada vez mais tomado por extremismos e radicalizações em busca do poder.
Em nossos dias, porém, tudo se revela ainda mais sinistro ao vermos "pactos" semelhantes realizados por gente que se diz e se apresenta publicamente como cristã ou seguidora da Bíblia, num despudor que só mesmo o diabo ousaria praticar ou propor!
"Doutor Fausto", assim como a própria peça de Goethe, escrita há 200 anos, é obra atemporal e definitiva justamente por expor fraquezas humanas de qualquer tempo ou lugar, de qualquer cultura ou nacionalidade.
Na verdade, há um "Doutor Fausto" no coração de cada um de nós!


A Áustria do pós-guerra!

Preciosa antologia bilíngue (alemão/português) reunindo textos literários e narrativos de autores austríacos publicados no período de 1945 a 1995, correspondente ao cinquentenário da "Segunda República da Áustria".
O livro, "Runa - Revista Portuguesa de Estudos Germanísticos", pertenceu a um dos maiores juristas desse país, já falecido, e me foi oferecido ontem por seu filho, um amigo dileto, que conhece meu profundo interesse pela cultura germânica, a exemplo do seu saudoso pai.
A obra propicia uma rara oportunidade para compreender a natureza do "pensamento austríaco" durante as primeiras cinco décadas de reconstrução física e moral da Áustria após os conflitos da II Guerra.
A propósito, há alguns meses, numa mesma sessão de julgamento do STF, os ministros Luís Roberto Barroso e Rosa Weber se referiram aos ensinamentos recebidos do eminente jurista, citando-o nominalmente ao declararem seus votos. Decerto, um motivo de orgulho para o amigo e toda a família.


sábado, 18 de junho de 2022

Refugiados, imigrantes, "deslocados" e afins.

A quantidade de refugiados no mundo cresce de tal maneira que nos remete aos períodos mais sombrios da história. Por motivos diversos, incluindo desastres naturais, conflitos e perseguições (os mais comuns), legiões de habitantes do planeta abandonam suas regiões de origem em busca de paz e sobrevivência. Em resposta a isso, os países mais ricos fecham as fronteiras na tentativa de proteger sua prosperidade e modo de vida, construídos, em muitos casos, com a dedicação e a força de trabalho de gerações de imigrantes, tratados hoje com desprezo e indiferença.
O conjunto de nações precisa encontrar uma solução concreta para o sério problema humanitário envolvendo refugiados, cujo agravamento põe em xeque o próprio conceito de civilização que conhecemos.
A construção de muros separando nações, como propôs Trump em relação ao México, é uma medida que nos remete à Idade Média, quando muralhas eram erguidas em torno de castelos e núcleos urbanos para afastar povos inimigos, e condena populações carentes a uma vida miserável e, pior, sem esperança.
Não é razoável que, em pleno século XXI, as nações mais desenvolvidas não consigam lidar com o problema sem recorrer ao recurso egoísta de levantar muros para afastar indesejáveis.
Os mais recentes movimentos migratórios têm criado novas demandas para as nações recebedoras, gerando a necessidade de volumosos investimentos sociais, mas nada justifica a indiferença dos países mais ricos em relação ao destino de milhões de vítimas de conflitos ou da pobreza extrema como estamos vendo nos últimos anos.
Um mundo que se diz civilizado precisa aprender a compartilhar melhor suas riquezas, proporcionando aos seres humanos de quaisquer origens ou culturas a chance de buscar e encontrar a própria felicidade, seja lá o que isso efetivamente signifique para cada um de nós.
Vale dizer que sou neto de imigrantes (um português e uma espanhola) que chegaram aqui jovens e paupérrimos no início do século XX em busca, como tantos outros, de melhores condições de vida.
O contato mais recente com os primos espanhóis me permitiu ver minha própria trajetória de vida sob uma perspectiva histórica, da qual muito me orgulho.