sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Maracanã, 1950 - A maior lição do esporte.


"Maracanã - O Filme", uma coprodução Brasil/Uruguai de 2014, é o melhor documentário que já vi sobre a Copa de 1950. Imagens raras do Rio (restauradas em alta definição), desde a zona sul, passando pelo centro, até o entorno do Maracanã, acompanhadas de discursos infelizes de autoridades e matérias "idem" da imprensa brasileira, conferem à produção uma qualidade única e, me atrevo a dizer, antológica. Tudo lindo e ao mesmo tempo patético. Para mim, o futebol perdia ali sua inocência. O triste (para nós) episódio daquela tarde de 16 de julho de 1950 se configura, certamente, na maior lição de humildade (e de prudência!) proporcionada pelo esporte, e não só pelo futebol, em todos os tempos. Por isso mesmo, o filme deveria ser exibido em escolas e centros de formação de atletas de todas as modalidades esportivas. Com o belo documentário, é possível ver que no esporte, e na própria vida, sejam quais forem as circunstâncias, a vitória ou a derrota começa na mente e no coração de cada um de nós. 



sábado, 14 de novembro de 2015

"Nós sempre teremos Paris!"


Arco do Triunfo do Carrossel, em frente ao Museu do Louvre

"Descobri" a capital francesa exatamente há 20 anos, por ocasião de minha primeira viagem à Europa. Surpreendentemente (ou estupidamente), não incluí a França em meu roteiro inicial, que continha Portugal, Espanha, Alemanha e Áustria. Em meus passeios por Barcelona, onde estava para conhecer os primos espanhóis, fiz amizade com turistas que iam para Paris no mesmo dia em que eu embarcaria para Stuttgart, na Alemanha. Incentivado por eles, resolvi mudar o roteiro e dar uma "paradinha" na capital francesa, embora, curiosamente, nunca tivesse tido muito interesse pela cidade. O fato é que ao chegar a Paris foi paixão à primeira vista. Fiquei deslumbrado com a amplidão e o aspecto monumental da cidade, fora tudo aquilo que sabemos desde criança, notadamente a grande oferta de atrações artísticas e culturais de uma metrópole que já foi considerada a capital do mundo. Amei tudo que vi e vivi no curto período em que permaneci por lá, aprox. 4 dias, e voltei outras vezes, na companhia de amigos e parentes. E espero ter a chance de visitar a cidade de novo, afinal, como dizia apropriadamente Hemingway, "Paris é uma festa!". Foi, é e sempre será!!
Apesar dos atentados recentes ocorridos na capital francesa, em especial o de ontem, que vitimou mais de uma centena de pessoas, espero que os parisienses continuem firmes na defesa da liberdade, da democracia e da tolerância, valores que compartilham com todo o mundo ocidental, e que se constituem em alicerces de qualquer sociedade civilizada, ainda que imperfeita como toda criação humana.

Entrada da "Shakespeare and Company", livraria tradicional de Paris


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O legado de Abbado



Cláudio Abbado, falecido em janeiro de 2014, vítima de câncer, foi um maestro com um profundo senso de humanidade. Em sua extensa carreira, levou a música clássica a operários e estudantes, a penitenciárias e hospitais, por considerar que "a educação musical é, na realidade, a educação do homem". 
Ao ser nomeado senador vitalício pelo parlamento italiano, em agosto de 2013, Abbado decidiu destinar o salário à escola de música da pequena cidade de Fiesole, numa clara demonstração, entre tantas outras ao longo da vida, de sua paixão pela música e de sua fé no poder dessa arte para a formação do caráter humano.
A gravação abaixo, de 2007, já se tornou antológica. Nela, Abbado conduz a Orquestra do Festival de Lucerna, integrada por alguns dos melhores solistas europeus, na execução da 3ª Sinfonia de Gustav Mahler, uma das obras mais célebres do repertório clássico. Uma preciosidade que funciona como um prematuro e autêntico testamento artístico de um dos mais prestigiados regentes dos últimos 50 anos.
Cabe registrar que, finalmente, comprei o blu-ray com o concerto, no site da Saraiva, surpreendentemente a um preço mais baixo do que encontraria em qualquer loja dos EUA. Como é o tipo de produto que vende pouco, devia estar "encalhado". Sorte a minha!


sábado, 5 de setembro de 2015

Eu sou neto de imigrantes!


Essa crise migratória que afeta gravemente a Europa nos últimos dias me sensibiliza particularmente. Sou neto de imigrantes europeus (Portugal e Espanha), que chegaram ao Brasil, até onde eu sei, pobres e em busca de melhores oportunidades na vida. Embora o contexto fosse outro, já que não eram refugiados de guerra, eles vieram de países pobres do continente, especialmente minha saudosa avó Evangelina, procedente da Galícia, até hoje uma das regiões mais carentes da Espanha. Não tenho detalhes de como ela chegou até aqui, mas duvido muito que tenha vindo de 1ª classe e com fartos recursos. Sua história certamente não difere muito da trajetória de tantos imigrantes que, ao longo do século XX, atravessaram países e fronteiras na tentativa legítima de conquistar uma vida melhor, para si e para os familiares. 
Por tudo isso, me solidarizo com os refugiados na Europa, muitos acompanhados de crianças pequenas e até bebês, principalmente com aqueles procedentes de regiões em conflito, como Síria, Afeganistão e Iraque, que não tinham mesmo outra alternativa, a não ser fugir. Espero que encontrem generosidade e compreensão em sua difícil jornada por terras estrangeiras, em busca da sobrevivência e da felicidade, este último um artigo cada vez mais raro no mundo louco em que vivemos.
Finalmente, é preciso ressaltar que apenas fechar fronteiras e reprimir a imigração ilegal, como alguns países do leste europeu vêm fazendo, é o mesmo que enxugar gelo. A solução, a médio e longo prazo, passa por iniciativas que promovam a estabilidade política e o desenvolvimento econômico e social nas regiões de origem dessas legiões de imigrantes. É a alternativa mais sustentável, ainda que de implementação complexa e demorada, para minimizar essa tragédia humanitária que já matou milhares de pessoas nos últimos anos.

Milhares de imigrantes decidem ir a pé de Budapeste (Hungria) até a fronteira com a Áustria

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Mahler e as sinfonias que comportam o mundo



Mahler dizia que "uma sinfonia deve ser como o mundo; precisa conter tudo". De fato, suas sinfonias parecem revelar tudo (ou muito) a respeito do que realmente nos afeta e importa nessa vida. Mas é preciso, no mínimo, bastante perseverança para "decifrá-las". Para compreender, por exemplo, a terceira sinfonia em toda (?) a sua dimensão, precisei ouvi-la várias vezes antes de me dar conta da extensão dos significados contidos na obra, com a qual o compositor explora brilhantemente, e, admito, com alguma retórica, grande parte dos sentimentos que envolvem nossa experiência de vida. Não creio mesmo que haja algo à altura no amplo repertório de sinfonias disponível.
Aliás, estou convencido de que a civilização ocidental não produziu arte mais extraordinária e reveladora do espírito humano do que as sinfonias compostas pelos grandes mestres. Nem mesmo as maiores maravilhas criadas pelo homem no mundo ousaram transmitir com tamanha eloquência nossas contradições e sentimentos mais profundos.


domingo, 21 de junho de 2015

Viagens e o prazer de flanar!



Uma das coisas que mais aprecio em viagens é poder flanar (andar ociosamente e sem destino) por cidades desconhecidas, encontrando em cada rua, em cada esquina, algo que me surpreenda ou estimule, sem me dar conta do tempo e da distância. Pode ser uma construção de arquitetura singular, uma taberna com ares medievais, uma singela moradia com crianças brincando na calçada, um sebo de artigos raros e esquecidos pelo tempo, ou mesmo uma pequena livraria familiar daquelas que foram desaparecendo com o surgimento das megastores e seus indefectíveis best-sellers. Simplesmente, um raro prazer que a rotina e a mesmice nos roubam a cada dia.





A infantilização do cinema



Assisti a "Jurassic World" (no cinema) e "Planeta dos Macacos: O Confronto" (na TV). Um argumento fraco no primeiro e um roteiro óbvio e maniqueísta no segundo comprometem seriamente as produções.
Se por um lado Hollywood perdeu a capacidade de transformar argumentos tolos em boas histórias, por outro, revela uma crescente inabilidade para produzir roteiros à altura de argumentos criativos.
Ou a indústria perdeu o jeito pra coisa, ou então sabe que o público atual deseja justamente consumir esse tipo de cinema, infantilizado e superficial.
Seja como for, tô fora!


quinta-feira, 28 de maio de 2015

Bruckner e a última gravação de Karajan



O cd acima contém a 7ª sinfonia de Bruckner com a Orquestra Filarmônica de Viena, última gravação do polêmico Herbert von Karajan, realizada três meses antes de morrer, em abril de 1989. Curiosamente, o resultado é a antítese de tudo que o maestro professou ao longo da extensa carreira. Se Karajan sempre se caracterizou pela busca incessante da perfeição nas performances das orquestras que dirigiu, aqui, já aos 81 anos e bastante enfermo, deixou de lado essa obsessão pelos detalhes e deixou correr uma execução por vezes irregular, mas permeada de sensibilidade e, por que não dizer, humanidade. Será que o grande mestre austríaco precisou envelhecer e flertar com a morte para descobrir a verdadeira natureza humana, repleta de beleza, mas também de imperfeições?
Cabe destacar que o adágio da sinfonia (vídeo abaixo), escrito sob forte emoção e tristeza, por conta da morte de Wagner, ídolo maior de Bruckner, é uma das mais belas passagens do sinfonismo, não só germânico, mas de toda a música ocidental.

sábado, 23 de maio de 2015

Heidelberg, 20 anos depois!



Hoje, dia 23 de maio, faz exatamente 20 anos que fui a Heidelberg (Alemanha) pela primeira vez. A visita não estava programada em meu roteiro original da viagem (a primeira ao exterior), mas acabei indo lá a convite da Cristina, que se tornaria, ao longo dos anos, uma das minhas maiores amigas. 
Hospedado em Stuttgart, na casa da Almut, outra amiga da Alemanha, concordei em adiar meu retorno à casa da minha amiga brasileira Tânia, em Lisboa, justamente para visitar Cristina e seu companheiro Armin (que eu ainda não conhecia), com quem ela se casaria no mês seguinte. 
Cheguei em Heidelberg numa ensolarada manhã de primavera e aproveitamos o belo dia para passear. Fiquei encantado com tudo que vi e principalmente com a atmosfera que dominava cada cantinho da cidade, sede da mais antiga universidade alemã (1386) e, por isso mesmo, frequentada por jovens universitários das mais diversas origens e culturas. Castelo, pequenas livrarias, sebos com raridades (cds, dvds e livros) e bares/restaurantes/cervejarias centenários contribuíam para conferir a Heidelberg um charme que eu ainda não havia testemunhado em qualquer outra cidade visitada até então na Europa. 
O fato é que após 8 viagens a Heidelberg continuo amando tudo por lá. A cada visita é uma nova emoção, desfrutando de caminhadas por ruas com casarios centenários que mais parecem pequenos castelos, incursões por sebos repletos de "novidades" e lojinhas de antiguidades, e passeios em bondes coloridos e pontuais, dentre outras atrações típicas da cidade. Tudo isso na companhia de amigos com os quais já cruzei boa parte da Alemanha, da França, da Suíça e da Áustria, de carro e de trem, descobrindo aldeias históricas, cidades milenares e culturas distintas. 
É claro que a hospitalidade dos amigos Armin e Cristina, renovada a cada visita, torna tudo isso muito mais fácil, natural e prazeroso. Agradeço, portanto, aos dois pela gentileza, carinho e atenção com que me recebem a cada visita e por tudo de bom que essas experiências vêm representando pra mim nesses 20 anos. E que venham mais 20 anos, se Deus quiser!


sexta-feira, 1 de maio de 2015

20 anos depois



Na próxima segunda-feira, "troncho" de saudade, farei questão de celebrar o aniversário de 20 anos da minha primeira viagem ao exterior. E não poderia ser diferente, considerando tudo que vivi naquela que foi, certamente, a maior aventura da minha vida. É bem verdade que não tive muitas, mas aquela, pelo menos pra mim, valeu por uma vida inteira.
Tudo começou na noite do dia 4 de maio de 1995 (uma 5ª feira), exatamente às 18:35. Voando VARIG, iniciei a viagem com destino a Lisboa tomado por uma enorme expectativa (e receio) em relação aos momentos inéditos que viveria nas quatro semanas seguintes, com mochila nas costas, atravessando, de trem, cinco países. Após a estada por alguns dias em Lisboa, hospedado na casa de uma amiga brasileira que ainda vive por lá, visitei, em sequência, Espanha, França, Alemanha e Áustria, enfrentando dificuldades crescentes com idiomas que eu estava longe de dominar (muito pelo contrário!). Dentre os contratempos, o maior deles foi, sem dúvida, a busca por hospedagem em Paris, pois ao chegar na cidade descobri que a reserva feita por telefone não havia sido registrada. Ou seja, eu estava pela primeira vez na mítica capital francesa, cidade dos sonhos de nove entre dez brasileiros, pronto para desfrutar de suas incomparáveis atrações, mas sem ter onde dormir por três noites, até o embarque para Stuttgart, na Alemanha. Ressalte-se que era uma época em que a internet apenas engatinhava e não permitia o planejamento detalhado de viagens, como é possível fazer hoje. Para alguém que mal tinha saído do Rio até então, uma verdadeira epopeia que acabou me proporcionando a autoconfiança necessária para enfrentar novos desafios no futuro.
Desde então, em meus frequentes deslocamentos por terras alheias, longe de casa, da família e dos amigos, venho colecionando experiências fantásticas, as quais, de alguma forma, moldam a minha maneira de ser, de encarar o mundo e, por extensão, minha própria vida.
Em função disso, peço a Deus para que eu permaneça, por muito tempo ainda, tendo a oportunidade de conhecer pessoas e lugares diferentes e de viver novas emoções. Mas, acima de tudo, que ele me proporcione o desejo inabalável de continuar fazendo tudo isso, porque sem vontade ou tesão não dá nem para sair da cama todo dia, muito menos atravessar fronteiras e realizar sonhos.


domingo, 26 de abril de 2015

O dia em que um "beatle" me fez chorar



Acompanhando o noticiário sobre o terremoto no Nepal e as avalanches no Everest, que provocaram milhares de vítimas na região, lembrei-me de um episódio ocorrido em minha viagem à Alemanha no verão de 1998. Não, não tem nada a ver com acidente, tragédia ou coisa parecida.
Era um bonito dia de agosto (verão) e os amigos alemães resolveram me levar, junto com dois outros amigos brasileiros, para passear em Speyer, uma cidade próxima de Heidelberg, onde vivem até hoje, para conhecer a belíssima basílica românica local e também o museu tecnológico da cidade. Após circular bastante pelo museu, resolvemos assistir ao filme "Everest" no cinema IMAX local.
Eu não sabia nada sobre o filme. A decisão de assistir partiu mais da oportunidade de conhecer a tecnologia IMAX, geralmente disponível numa sala com uma tela gigantesca e áudio com milhares de watts de potência, algo, então, inimaginável pra mim.
Logo que nos acomodamos nas poltronas, uma funcionária do cinema, muito bem vestida, fez a apresentação do "evento" (em alemão, é claro), discorrendo sobre a tecnologia IMAX, as características que a distinguem das demais e os recursos de imagem e som de última geração disponíveis. É claro que eu só soube disso depois, traduzido por minha amiga brasileira radicada na Alemanha.
Tratava-se, na verdade, de um documentário narrado por Liam Neeson sobre a escalada do Everest por uma equipe de alpinistas, ocorrida em maio de 1996, que teve um final trágico. Sei disso porque li sobre o filme ao retornar ao Brasil, já que toda a narração foi dublada no idioma local, prática comum na exibição de filmes nos cinemas do país, como ocorre, aliás, na maior parte da Europa. Em resumo, não entendi uma única palavra do que foi dito, o que não me impediu de ficar com lágrimas nos olhos durante e após a exibição, em meio a uma legião de adolescentes. No final, todo mundo saiu comentando alegremente sobre o filme, e eu ali com os olhos vermelhos e cheio de vergonha.
Alguns devem estar se perguntando, mas que diabos esse cara viu e ouviu no filme que o deixou tão comovido, já que não "entendeu" nada do que foi narrado? Bem, é aí que, provavelmente, entram a magia do cinema e a tecnologia IMAX. É verdade, eu não entendi o que foi dito pelo narrador, porém, e talvez por isso, prestei uma atenção obsessiva nas imagens gigantescas e impressionantes do Everest, e especialmente na belíssima trilha sonora do filme, gravada por grande orquestra e reproduzida com um sistema de som quase "ensurdecedor". Um show verdadeiramente hipnótico que me emocionou de tal maneira que só me recompus mesmo no bar do museu, degustando (lembro muito bem) uma excelente cerveja de trigo da região.
Mas, afinal, onde entra nessa história o "beatle" que fez o Ecio chorar? Bem, o beatle a quem me refiro é George Harrison, autor da maior parte das músicas utilizadas no filme, brilhantemente arranjadas para orquestra pela dupla Steve Wood e Daniel May. Nunca tinha ouvido aquelas músicas de George Harrison (menos ainda executadas por uma orquestra) embalando uma história de superação e conquista como a que foi mostrada no documentário. Reconheço, portanto, que foram as canções de Harrison, mais do que as belas imagens do Everest, que me comoveram tanto naquela já longínqua tarde de agosto de 1998 na Alemanha.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Gaudí e o orgulho catalão



Mais uma vez inspirado por uma postagem da amiga Catalina Casellas​, revelo um singelo (e inesquecível) episódio que vivenciei na Espanha alguns anos atrás, mais precisamente no verão de 2003. Naquela oportunidade, após um lanche oferecido por um vizinho de minha prima de Barcelona, resolvemos prolongar o encontro conversando sobre assuntos diversos, incluindo Brasil, Espanha, futebol e também "papagaios de pirata", dentre outros temas. Num dado momento, comentei sobre minha admiração pelo arquiteto catalão Antonio Gaudí e sua habilidade para lidar com formas, cores e elementos diversos que dão um caráter singular às suas obras. E concluí destacando a morte trágica do arquiteto, ao ser atropelado por um bonde em Barcelona. Mal terminei a frase, o gentil anfitrião, talvez impressionado com o fato de um brasileiro conhecer tanto sobre a vida e a obra de uma das maiores personalidades da Catalunha, pediu licença, se dirigiu ao quarto e, em seguida, voltou para me presentear com um belíssimo livro de arte contendo a antologia fotográfica completa das obras de Gaudí. É claro que fiquei encantado com o "regalo", embora soubesse da dificuldade que teria para carregá-lo, já que, além de grande, pesava bastante. Minha prima até suspeitou que eu não pudesse trazer, mas decidi que aquele livro eu traria de qualquer maneira, não só pela importância do conteúdo, mas também pelo gesto generoso do anfitrião. O fato é que preservo o livro (foto acima) até hoje com todo o carinho, e jamais me esquecerei daquela tarde agradável na companhia dos primos e do orgulhoso amigo catalão.
O vídeo “Love Casa Batllò”, com duração de apenas 2 minutos e meio, venceu o Grande Prêmio no Festival Internacional de Filmes Turísticos de Riga, e mostra o interior da Casa Batllò, em Barcelona, uma das obras mais geniais e emblemáticas de Gaudí, percorrendo todos os seus ambientes com o uso de efeitos especiais que conferem vida própria à edificação. Um trabalho belo e engenhoso. Vale a pena conferir! 

sábado, 11 de abril de 2015

O sentimento cristão em Bach, Handel, Goya e Velazquez



O "Te Deum de Dettingen", composto por Handel, em 1743, em homenagem à vitória dos ingleses sobre os franceses na batalha de Dettingen (Baviera), é uma das mais belas (e menos conhecidas) obras do compositor alemão, que emigrou ainda jovem para a Inglaterra. 
A música funciona como uma espécie de ação de graças (daí o nome "Te Deum") pela vitória do exército inglês, comandado pelo Rei George II. O cd acima é um dos mais preciosos de minha extensa coleção de clássicos. Além da excelente qualidade técnica da gravação (digital), as performances da orquestra English Consort e do coro da Abadia de Westminster, sob a direção de Simon Preston, são excepcionais, exprimindo toda a complexidade e exuberância da música barroca, ainda capaz de comover profundamente, após a passagem de quase 3 séculos.
Como assisti, nessa semana, ao concerto da "Missa em Si Menor" de Bach, cabe aqui um comentário sobre a comparação entre Bach e Handel, maiores mestres do período musical barroco, normalmente realizada por simpatizantes do gênero. Em minha opinião, pegando emprestadas as pinturas retratando o Cristo crucificado de dois artistas famosos, os espanhóis Velazquez e Goya, eu diria que as composições de Handel, habitualmente majestosa e de alto voltagem sentimental, se assemelha mais à representação teatral da famosa cena bíblica do quadro de Goya, enquanto Bach, com suas obras sacras, principalmente a "Missa em Si Menor" e as paixões de São Mateus e de São João, parece refletir com menor pompa e possivelmente maior sinceridade e realismo o sentimento cristão, o que o aproxima muito mais da crucificação de Cristo belamente representada na pintura de Velazquez. 
Bem, isso é apenas uma impressão pessoal! 

Francisco de Goya

Diego Velázquez

sábado, 21 de março de 2015

Patrimônio da Humanidade



Em sua 9ª sinfonia, Ludwig van Beethoven inovou e acrescentou o canto ao gênero sinfônico, incorporando o poema "Ode à Alegria", de Friedrich Schiller, que preconiza a fraternidade entre os homens. 
Por seu conteúdo humanista e universal, a chamada "Sinfonia Coral", além de ser escolhida como Hino da União Europeia, foi consagrada pela UNESCO como patrimônio artístico da humanidade.
Para o compositor Richard Wagner, a obra de Beethoven "é a elevação da música de seu território original para introduzi-la no reino da arte universal!". 
Já o jornal alemão "Leipziger Algemeine" publicou, em 1824, a melhor definição para a obra: - Aqui a Arte e a Verdade celebram seu melhor Triunfo. 
O vídeo apresenta a Orquestra West-Eastern Divan e o maestro Daniel Barenboim executando o último e revolucionário movimento da sinfonia.

terça-feira, 10 de março de 2015

César Franck, "Psyché" e o romantismo perdido no tempo



Assisti a um concerto inesquecível em Paris, em 2008, com a Orquestra Nacional da França e o Coro da Rádio França, sob a regência de Kurt Masur, executando o comovente e acentuadamente romântico poema sinfônico "Psyché", composto pelo belga (naturalizado francês) César Franck (1822-1890) apenas 2 anos antes de falecer. 
Impregnada de um romantismo já há muito tempo esquecido, o fato é que há raras gravações e performances ao vivo da obra. A experiência de Paris, no Museu d'Orsay, exatamente no dia 21 de junho, que abre o verão no hemisferio norte, ficará para sempre em minha memória, em especial pela atmosfera de harmonia e encantamento que envolveu plateia, músicos e o próprio regente.
Seduzido pela experiência, desde então, vinha procurando um cd com a música em minhas viagens ao exterior, e também aqui no Brasil, sem obter sucesso. Achei mesmo que jamais a ouviria novamente. Pensava que tudo acabaria apenas guardado em minha memória, até que se perdesse definitivamente com o tempo.
Ajudado pelo santo protetor dos amantes de música, cujo nome desconheço, mas que certamente existe, finalmente encontrei hoje o cd (foto acima) em estado de novo, num sebo bem perto do trabalho, em mais uma de minhas peregrinações em busca de raridades perdidas. Custei a acreditar porque a gravação é com a obra completa, mais rara ainda, justamente do jeito que a conheci há quase 7 anos em Paris. Uma emoção só comparável à oportunidade de ouvi-la mais uma vez. Mas essa será uma outra história que contarei mais tarde!

Cartaz de anúncio do concerto no Museu d'Orsay

domingo, 1 de março de 2015

Uma regravação superior da obra-prima de Cliff Eidelman



Para variar, e para variar mesmo porque isso não é comum, a regravação de uma trilha sonora acabou com resultado muito superior ao do registro original. A música de Cliff Eidelman para "Star Trek VI - A Terra Desconhecida" (1991), a obra-prima do compositor, apesar da qualidade do score (meu preferido!), deixava a desejar exatamente no quesito orquestração (ou seria a mixagem?). 
Com a regravação da "Star Trek Suíte", contida na última faixa do cd (no vídeo abaixo, entre 28'30" e 35'01"), realizada pela Orquestra Filarmônica da Cidade de Praga no início dos anos 2000, a música ganhou muito mais brilho com a incorporação de metais verdadeiramente mágicos, conferindo um tom majestoso ao score que não se percebe na gravação original.


quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Dilma, corrupção e risco de crise institucional!



Em defesa da democracia e do devido respeito ao resultado das urnas, não concordo com as frequentes manifestações na imprensa e nas mídias sociais pedindo o impeachment da Dilma. Tendo em vista, porém, as recentes entrevistas da presidente expressando ideias e opiniões em flagrante descompasso com os fatos ou a própria realidade, começo a desconfiar da capacidade política da Dilma (e do PT) para resistir à implacável oposição que a grande imprensa, os partidos adversários e boa parte dos cidadãos já empreendem e prometem intensificar nos próximos meses.
Ou a presidente promove urgentemente uma agenda positiva para o governo, com medidas eficazes de recuperação da economia e de apaziguamento e controle da base aliada no Congresso, ou o mandato poderá mesmo correr um sério risco de ser abreviado.
Caso o processo de impedimento da Dilma entre efetivamente na pauta das discussões políticas, temo que o Brasil atravesse uma séria crise institucional, considerando o crescente acirramento da polarização partidária em nosso país. É preciso lembrar que o quadro político que vivemos hoje é bem diferente daquele observado em 1992, por ocasião do impeachment do Fernando Collor, que já não dispunha de qualquer apoio parlamentar e muito menos (e mais grave) de uma militância aguerrida e vigilante em sua defesa, como a do PT de Dilma.
Por outro lado, a iniciativa de alguns petistas, inclusive da presidente, de transformar todos os políticos em "farinha do mesmo saco", ao apontar malfeitos cometidos também pelos tucanos, é uma tentativa cínica e intelectualmente desonesta de absolver todos os petistas (e governistas) envolvidos nos escândalos de corrupção na Petrobras que paralisam o país. Algo como, se todos fazem, ninguém é culpado!
É preciso ressaltar que há muitos brasileiros, entre os quais me incluo, que se opõem ao governo, mas não têm qualquer compromisso com a defesa do PSDB, nem têm dos tucanos procuração para defendê-los. Para esses, que fazem parte da "direita moralista", assim chamada por muitos petistas a parcela da sociedade que condena a corrupção, todos aqueles comprovadamente envolvidos nos casos de desvio de verbas públicas devem pagar por isso na forma da lei, e "doa a quem doer!", como costuma apregoar pateticamente a própria presidente da República.


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Era uma vez... lojas de cds e dvds!


Madrid Rock, da Gran Via, em Madri, em 2005, ano do encerramento das atividades

A saudosa "Madrid Rock", da Gran Via, em Madri, integrou uma rede de lojas de cds/dvds que funcionou na Espanha (Madri, Sevilha e Córdoba) entre 1981 e 2005. Nos bons tempos, cerca de 1.000 clientes circulavam diariamente pelos corredores dos três andares da loja, situada no centro da capital espanhola (mais de 1.500 metros quadrados!), onde era possível encontrar uma  grande variedade de títulos de todos os gêneros musicais. A loja era tão especial que, apesar do nome, tinha uma seção de clássicos, no subsolo, capaz de dar inveja aos agora "órfãos" frequentadores da "Modern Sound" de Copacabana, a melhor loja de clássicos do Rio por muitos anos, a qual, infelizmente, também já fechou as portas. 
Segundo os antigos proprietários da "Madrid Rock", a rede sucumbiu à crescente pirataria, à popularização da internet e à perda de prestígio das mídias físicas (cds e dvds).
O fato é que tenho em minha coleção de cds alguns títulos raros, incluindo trilhas sonoras de filmes espanhóis (Má Educação, A Espinha do Diabo etc.), adquiridos em minhas visitas à loja da Gran Via entre 1996 e 2003. O mais triste é que outras redes tradicionais de venda de músicas e filmes também fecharam as portas recentemente, no mundo inteiro, com destaque para a Virgin Megastore, minha preferida de Paris, no Champs Elysee, onde comprei vários cds e dvds antes da debacle dos negócios ocorrida nos últimos anos.

Madrid Rock, na Gran Via, já de portas fechadas

Interior da Virgin Megastore, no Champs Elysee, Paris, antes de fechar

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Estupidez masculina


Após assistir, ontem à noite, ao filme "Nebraska", que conta com personagens femininas fortes, lúcidas, bem resolvidas e cheias de afeto, diferentemente de quase todos os homens da história, verdadeiros "trogloditas", confirmei uma impressão que venho consolidando ao longo da vida.
Quanto mais eu vivo, assisto a filmes e leio livros me convenço de que devemos às mulheres de todas as gerações o pouco de compaixão e humanidade que ainda resta no mundo ou na civilização. Estou certo de que em nós, homens, talvez por maldição ancestral, reside quase toda a estupidez que Deus permitiu à espécie humana. Há exceções de ambos os lados, mas não passam de acidentes da natureza.


No fundo do poço!



Em décadas acompanhando futebol, nunca vi um desnível tão grande entre o futebol que se joga nas ligas europeias e aquele que se pratica no Brasil. Embora por lá também se veja jogos ruins, como o de duas semanas atrás entre Everton e Liverpool, pela liga inglesa, o fato é que, de uma maneira geral, dá gosto assistir às partidas dos campeonatos do velho continente, em especial da Inglaterra, da França e da Alemanha. Sob todos os pontos de vista, incluindo o disciplinar, o gerencial e, claro, o técnico, eles se encontram anos-luz à frente do futebol brasileiro. Por que chegamos a esse ponto é a questão. Talvez o "7 a 1" seja um triste reflexo de tudo isso e não apenas um acidente de percurso, como muitos românticos e saudosistas ainda preconizam.


54 anos depois, a volta do maior herói do cinema americano



Eleito pelo "American Film Institute", em 2003, como o maior herói do cinema americano, Atticus Finch é um advogado que defende um homem negro injustamente acusado de estuprar uma jovem branca, na cidade fictícia de Macomb, no Alabama. Vivido por Gregory Peck em "O Sol é Para Todos", de 1962, o personagem representa o modelo de americano virtuoso, solidário e justo.
Finch é o protagonista do romance de estreia de Harper Lee que inspirou o filme, publicado originalmente em 1961. Vencedora do Prêmio Pulitzer, a obra vendeu 30 milhões de cópias, foi traduzida para 40 línguas, jamais saiu de catálogo e foi escolhida pelos bibliotecários americanos, em 2000, o "romance do século".
Pois é, a autora, agora com 88 anos, publicará a continuação da obra no próximo mês de julho, com o título "Go set a watchman", na qual a filha de Finch retorna à cidade natal 20 anos depois para visitar o pai e lembrar dos acontecimentos que marcaram sua infância. 
Na há previsão de lançamento do livro no mercado nacional. Quanto a uma nova adaptação para o cinema, os executivos de Hollywood, é claro, já devem estar tratando disso.

Que vença o melhor!


Passado o período de folia, minha expectativa agora é para saber quem levará o Oscar deste ano. Torço para "O Grande Hotel Budapeste", mas os críticos apontam "Birdman" e "Boyhood" como os favoritos. Entre os dois filmes, fico com "Birdman", que tem um argumento muito mais criativo e original. Pra mim, o único fator positivo em relação a "Boyhood" é a natureza inusitada do projeto, ao filmar uma história por longos 12 anos com o mesmo elenco (principal), mantendo o comprometimento dos envolvidos e a necessária unidade dramática. Um esforço técnico e artístico admirável, mas é só! Já vi aquela história contada mil vezes no cinema, e com abordagem semelhante. 
Sobre a disputa pelo Oscar de melhor trilha sonora (original score), acho que Alexandre Desplat, que concorre com duas obras (O Grande Hotel Budapeste e O Jogo da Imitação), deverá ficar sem a estatueta. Na maioria das vezes em que um compositor foi duplamente indicado, acabou dividindo (ou diluindo) os próprios votos e "entregando" o prêmio a outro concorrente. Mesmo assim, torço para ver Desplat recebendo o Oscar na noite de domingo, pois o considero um dos mais brilhantes compositores de cinema da atualidade.

Uma carreira interrompida?




Assisti nessa semana a um documentário sobre os escândalos envolvendo Mel Gibson em Hollywood. É impressionante a sequência de "equívocos" cometidos pelo artista nos últimos anos, quase todos provocados por bebedeiras frequentes e flagrantes demonstrações de antissemitismo e preconceito contra as mulheres. Malvisto na comunidade cinematográfica americana, majoritariamente integrada por judeus, Gibson, aos 59 anos, vive hoje isolado, sem amigos e com a carreira seriamente comprometida. 
Embora eu nunca tenha tido a menor simpatia pelas escolhas artísticas de Gibson (em seus filmes, os conflitos são quase sempre resolvidos por meio de violência), devo reconhecer no ator/diretor um realizador com perfeito domínio da produção e da linguagem cinematográfica. Entretanto, como afirma um entrevistado no programa, ataques a gays e judeus não costumam ser perdoados em Hollywood. E Gibson, do alto de sua presunção e soberba, preferiu desafiar a "lei" e literalmente pagar pra ver!


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Guerra nas Estrelas, Charles Gerhardt e o score "bastardo" de John Williams



O arranjo para (em minha opinião) o mais belo trecho da antológica trilha sonora de "Guerra nas Estrelas", de John Williams, que contribuiu decisivamente para que eu me tornasse fã incondicional do compositor, curiosamente não é de autoria do mestre. 
Trata-se, pelo que apurei, de uma suíte adaptada pelo arranjador Charles Gerhardt (autorizada por John Williams) da música escrita para as cenas finais/créditos do filme (The Throne Room/End Title), integrante do cd acima, lançado em 1977, mesmo ano da estreia da produção nos cinemas americanos.
Tenho que admitir, ficou muito melhor do que a gravação para o filme. E, sem exagero algum, sempre que ouço um determinado trecho de apenas 20 segundos acabo com lágrimas nos olhos, o que não ocorre ouvindo a mesma faixa da trilha original. Um trabalho primoroso infelizmente ignorado por grande parte dos fãs do filme, da trilha sonora e do próprio John Williams. 
Para quem não sabe, Charles Gerhardt (1927-1999) foi um produtor, regente e arranjador americano verdadeiramente apaixonado por trilhas sonoras, responsável pela gravação, ao longo da década de 1970, de 14 LPs com alguns dos scores mais emblemáticos de toda a história do cinema (relação abaixo), fazendo uso dos mais avançados recursos de áudio da época. Um legado precioso também disponível em cd (ou formato digital) para as novas gerações de amantes de músicas de filmes. Eu já tenho nove títulos (*) e espero completar a coleção.

  1 - *The Sea Hawk: The Classic Film Scores of Erich Wolfgang Korngold;
  2 - Now Voyager: The Classic Film Scores of Max Steiner;
  3 - *Classic Film Scores for Bette Davis;
  4 - *Captain from Castile: The Classic Film Scores of Alfred Newman;
  5 - *Elizabeth and Essex: The Classic Film Scores of Erich Wolfgang Korngold;
  6 - *Casablanca: Classic Film Scores for Humphrey Bogart;
  7 - Gone with the Wind;
  8 - *Citizen Kane: The Classic Film Scores of Bernard Hermann;
  9 - *Sunset Boulevard: The Classic Film Scores of Franz Waxman;
10 - Spellbound: The Classic Film Scores of Miklós Rózsa;
11 - Captain Blood: Classic Film Scores for Errol Flynn;
12 - *Lost Horizon: The Classic Film Scores of Dimitri Tiomkin;
13 - *Star Wars and Close Encounters of the Third Kind;
14 - The Spectacular World of Classic Film Scores.