terça-feira, 10 de maio de 2022

Debussy e o "impressionismo" na música.

Livros de música clássica no Brasil são raridades. Biografias de compositores são mais raras ainda. Só encontramos por aqui dos mais "populares" como Beethoven, Mozart, Bach etc.
Depois de ouvir bastante Claude Debussy nos últimos dias, fiquei encantado com o compositor francês e o movimento impressionista na música (embora o próprio Debussy não gostasse desse "rótulo" para sua obra).
Procurei nos sites brasileiros por livros sobre o compositor, mas não encontrei nada. Já nas livrarias estrangeiras há vários, fazendo justiça à importância da obra de Debussy, que provocou uma saudável e criativa ruptura com a herança dos grandes mestres que o antecederam. Só por isso já valeria a pena conhecer mais a fundo a vida e a obra de Debussy, para compreender o contexto histórico, artístico e cultural que o levou a procurar novos caminhos para a música na virada do séc. XIX para o séc. XX. E, cá entre nós, ele foi muito bem-sucedido, apesar de não ter se tornado tão popular como Beethoven ou Mozart. Mas essa é uma outra história...


Saudade do jornal impresso...

 


Saudade do jornal impresso...
mas de quando não havia internet!
Do tempo em que a leitura diária do jornal era a melhor (ou única) maneira de saber das notícias com alguma profundidade. Foi basicamente com o jornal que aprendi a desenvolver uma visão crítica sobre a realidade.
Desde cedo, seguindo o exemplo do meu pai, adquiri o hábito de ler jornal. Quando criança, era O Globo. Mais tarde, na Universidade, o JB, que me acompanhou até acabar, em 2010. Depois, na falta de um jornal maís crítico no Rio, retornei ao O Globo. Não demorou muito. Desiludido com o apoio do jornal ao governo Temer e a campanha sórdida e sistemática, mantida até hoje, contra os servidores públicos, resolvi acabar com a assinatura e aderir de vez à internet.
Mas confesso que tenho saudade de pegar o jornal de manhã, apurar as manchetes e, em seguida, virar cada página sem saber exatamente o que vou encontrar depois. Um hábito adquirido ao longo da vida inteira que a internet definitivamente não substituiu.

A Finlândia de Sibelius e a ameaça russa.

Depois que conheci (e amei) as obras do finlandês Jean Sibelius (1865-1957), um dos maiores sinfonistas do século XX, passei a me interessar pela Finlândia, sua história e sua cultura. O país viveu sob a dominação russa (então czarista) por um longo período, e só conquistou a independência em 1917.
Muitas obras de Sibelius retratam o folclore e a rica cultura do povo finlandês. O poema sinfônico "Finlândia", sua composição mais popular, tratada como um grito de resistência à ocupação russa, acabou se tornando um hino "informal" do país.
Com a ameaça de Putin à Finlândia (e à Suécia), ressurge o fantasma da dominação russa de triste memória para os finlandeses.
A essa altura, e mais de um século depois, Sibelius certamente se revira no túmulo diante do risco de nova ocupação do país pelos russos imperialistas.



Europa, entre a construção da paz e o pesadelo da guerra!

 


Um continente entre o sonho de construção da paz e o reiterado pesadelo da guerra!
Após as duas grandes guerras ocorridas na primeira metade do século XX que tiveram o continente europeu como palco principal, alguns países da região resolveram se unir para promover a recuperação de suas economias combalidas pelos conflitos. Em alguns anos, esse processo culminou na criação da União Europeia, que reúne hoje 28 países com interesses políticos e econômicos (nem sempre) comuns. Trata-se de um belo e ambicioso projeto destinado a aproximar os povos em defesa do bem-estar e da paz no continente. Na verdade, pelo forte simbolismo que encerra, o sucesso dessa experiência interessa a toda a humanidade.
Mas, afinal, as lideranças nacionais da Europa de nosso tempo estão à altura do desafio de consolidar essa união? Por que surgem tantos políticos eurocéticos no continente? As seguidas crises de refugiados comprometem o projeto? Como lidar com o crescimento de movimentos xenófobos e da extrema-direita?
Existe chance real do estabelecimento de uma paz duradoura na Europa à prova de crises econômicas, movimentos nacionalistas e líderes populistas?
Enfim, para onde caminha a União Europeia?

A música universal de Carl Nielsen

Assistindo a um filme dinamarquês (O Bombardeio) na Netflix, confesso que achei tudo muito estranho no comportamento dos personagens. Nada ali lembrava nosso jeito de viver, de reagir às situações e de nos relacionarmos. Aparentemente, uma "frieza" incômoda entre pessoas que se gostam ou se amam que evidencia as diferenças gritantes entre os nórdicos e nós, os latinos.
Mas, apesar disso, como por um milagre, me tornei um grande fã de Carl Nielsen (1865-1931), o maior compositor dinamarquês. Ouço e "compreendo" suas músicas com uma intensidade que contrasta radicalmente com a profunda estranheza que sinto em relação ao comportamento dos dinamarqueses em situações do cotidiano. Só mesmo a música é capaz de aproximar seres humanos tão "diferentes". A linguagem musical fala diretamente ao coração e à alma, sem passar por filtros culturais que costumam afastar as pessoas. Com a música, o que "fala" mais alto é a natureza (ou essência) humana comum a todos nós, sem distinção de cultura, etnia, religião, ideologia ou geografia. É ou não é um "milagre"?


Saudade de uma cidade e de um tempo que não vivi!

 


A leitura de "Metrópole à Beira-Mar - O Rio Moderno dos Anos 20", de Ruy Castro, flui naturalmente em forma de uma rica e extensa crônica sobre a efervescência artística e cultural de um Rio de Janeiro ainda otimista e confiante no futuro. A modernidade europeia do início do século XX, com seus desafios e contradições, encontrava aqui terreno fértil para se instalar e se reproduzir.
Mas não durou muito. A partir dos anos 1930, a capital federal nunca mais foi a mesma, a despeito do rápido "espasmo" ocorrido no final dos anos 1950, com a visão "empreendedora" de JK, que se refletiu em todos os ramos de atividades, criando no imaginário de uma geração inteira de cariocas e brasileiros a visão de um Brasil próspero e moderno que o tempo infelizmente não "avalizou".
Voltando ao livro, o fato é que nunca mais o povo carioca teve tantos motivos para acreditar no futuro como nos anos 1920. A leitura é indispensável para quem deseja conhecer a História de uma cidade que já foi a legítima capital política, artística e cultural desse país. Uma cidade que se vê hoje tomada pela criminalidade em todos os níveis, pela desigualdade/insensibilidade social e por uma profunda crise econômica que se estende há décadas e que parece não ter fim.
Por último, vale dizer, trata-se de um livro precioso e fundamental para o registro da História não só do Rio, mas do próprio país. O volume de informações reunidas sobre o cotidiano da capital federal, com suas ricas manifestações populares e visitas de monarcas e de grandes artistas e personalidades estrangeiras, algo que nunca mais se repetiu na cidade, deve ser inédito numa obra do gênero. Se eu fosse professor, usaria o livro em sala de aula para estimular em cada criança e jovem carioca o amor pelo Rio de Janeiro e o desejo de trabalhar para vê-lo de novo política, econômica, artística e culturalmente pujante, como a geração de nossos avós pôde testemunhar naqueles longínquos anos 1920!

Solidariedade e a construção da paz

 


A chegada de quase 1000 refugiados ucranianos ao Brasil, incluindo muitas crianças, embora ocorra num momento difícil da vida deles, é uma oportunidade de ouro para que esse grupo originário de uma cultura tão distante e distinta nos veja mais de perto e, talvez, longe dos clichês.
Quase tudo do pouco que aprendi sobre a natureza humana (e sobre mim mesmo) foi através das viagens e do contato com outros povos e outras culturas. Como já devo ter dito inúmeras vezes, não foi com instrução, livros, filmes ou mesmo com a música que tanto amo.
No início, ao visitar outros povos, o que me motivava era perceber as diferenças, como uma criança explorando um brinquedo novo, mas não tardou muito para descobrir as semelhanças que me aproximavam cada vez mais daqueles que me pareciam tão estranhos e distantes.
Apesar da inegável individualidade que cada um carrega, há, porém, algo profundamente comum a todos nós com um extraordinário potencial para nos aproximar. Essa foi, certamente, a maior lição que aprendi em minhas viagens.
Por isso mesmo, acho que não existem instrumentos mais eficazes para a construção da paz no mundo do que o ensino de idiomas e o incentivo às viagens, seja para onde for, em especial para os jovens.
Mesmo em circunstâncias dramáticas como as que envolvem os ucranianos obrigados a deixar o próprio país em guerra, o contato com povos distantes pode lhes servir de ótima oportunidade para encontrar a humanidade que reside em cada um de nós, independentemente de cultura, etnia e religião. Eu acredito nisso!

Solidariedade seletiva

Com o prolongamento desse conflito na Ucrânia, não posso deixar de lembrar dos barcos no Mediterrâneo repletos de refugiados africanos impedidos, nos últimos anos, de se aproximarem dos portos europeus por medo da "disseminação" da pobreza no continente ou mesmo por racismo.
Agora, milhões de refugiados procedentes da vizinha Ucrânia, não tão pobres e majoritariamente caucasianos, são recebidos com comovente (sem ironia) hospitalidade pelos europeus habitualmente tão refratários a "estranhos".
Eu acho ótimo que a Europa Ocidental se disponha a receber ucranianos despojados de suas casas e de seu próprio país nesse momento tão difícil, mas o contraste com a maneira como os refugiados africanos e asiáticos são tratados em suas fronteiras nos leva a refletir sobre a flagrante "solidariedade seletiva" praticada no continente.
Naturalmente, é mais fácil a empatia com os semelhantes, mas o desafio de cada um de nós é justamente acolher aqueles que nos parecem mais distantes e "estranhos".


Bruckner original!

Bruckner deixou sua última sinfonia (nona) incompleta, embora o longo e comovente adágio do terceiro movimento, com ares de despedida, sintetize de maneira comovente toda a extensa obra sinfônica do compositor.
Esboços do quarto movimento resistiram ao tempo. Mais recentemente, em trabalho meticuloso, alguns estudiosos das obras de Bruckner conseguiram reunir fragmentos (centenas de compassos) deixados pelo compositor, conferindo unidade ao movimento e um certo sentido de continuidade em relação ao restante da obra.
Eu já tenho a gravação da sinfonia com a versão de Nicola Samale, John Alan Phillips, Benjamin-Gunnar Cohrs e Giuseppe Mazzuca para o quarto movimento, realizada pela Filarmônica de Berlim, sob a regência de Simon Rattle.
Agora, encontrei na Arquivo Musical LTDA (Travessa do Ouvidor, 8/202) uma outra gravação da sinfonia com a Filarmônica de Oslo, conduzida pelo israelense Yoav Talmi, contendo a versão do quarto movimento proposta por William Carragan, um dos maiores estudiosos das obras de Bruckner.
O cd duplo ganhou o "Gran Prix du Disque" em 1987, provavelmente por incluir também no segundo cd a gravação dos esboços originais de Bruckner para o último movimento, sem a "revisão" ou a edição de terceiros.
É a minha quinta gravação da nona sinfonia, a segunda com o quarto movimento e a primeira incluindo os esboços do compositor para a conclusão da obra, sem edição.
Para os fãs de Bruckner como eu, um "documento" raro, precioso e indispensável!


Me formei com o JB!

 


"Até a Última Página - Uma história do Jornal do Brasil" conta a trajetória de ascensão e queda do saudoso JB, jornal carioca de abrangência nacional que testemunhou a história da República a partir de 1891, ano de sua fundação, até 2010, quando, afundado em dívidas, deixou de circular.
Desde os tempos da faculdade de Jornalismo, a leitura diária do Jornal do Brasil, que se caracterizou pela independência editorial e pela visão crítica da realidade e dos governos, ajudou a forjar grande parte dos valores que me pautam até hoje como cidadão e também como jornalista de formação.
Um livro, portanto, indispensável para conhecer em detalhes a longa história daquele que talvez seja o melhor e mais influente jornal que esse país já teve em mais de 130 anos de República.

E nunca mais se encontraram...

Em dezembro de 1790, Haydn e Mozart, que viviam em Viena, foram contratados por Johann Peter Salomon, um empresário alemão radicado na Inglaterra, para comporem e regerem com exclusividade para ele. Mas ambos precisariam se transferir para Londres por um ano. Haydn iria primeiro, enquanto Mozart seguiria no ano seguinte, após o retorno do amigo e mentor.
Depois de tudo acertado, na noite de despedida de Haydn, em 15 de dezembro, os três jantaram juntos. Durante o jantar, Mozart teria comentado com Haydn que ele não aguentaria por muito tempo e que voltaria logo, "pois não é mais jovem", ao que retrucou Haydn, "mas eu ainda sou robusto e gozo de boa saúde".
Segundo A. C. Dies, um dos biógrafos de Haydn, em entrevista concedida anos mais tarde, o velho compositor afirmara que Mozart, ao despedir-se dele na porta da carruagem que o levaria a Londres, teria dito com lágrimas nos olhos:
- receio, meu Papa (como se dirigia habitualmente a Haydn), que esta seja a última vez que nos vemos!
Haydn, muito mais velho (58) que Mozart (35), imaginou que seu pupilo estaria se referindo à idade avançada dele e à exaustiva viagem que faria até Londres, cruzando boa parte do continente.
Qualquer que tenha sido a motivação de Mozart para o comentário premonitório, o fato é que Haydn sobreviveria a ele por mais 18 anos. Àquela altura, ninguém poderia mesmo imaginar que Mozart, com 35 anos e bem mais jovem, teria apenas mais um ano de vida.
E realmente nunca mais se encontraram.


Extra! Extra!

 

Paris aposenta nesses dias seu último "pequeno jornaleiro"!
Com 70 anos, magro, bem-humorado e ainda em plena forma, ele percorre a pé aproximadamente 10km todos os dias para vender o "Le Monde", jornal que distribui há 50 anos pelas ruas da cidade.
No Rio, essa prática está extinta há décadas, mas temos um monumento/estátua (foto) dedicado ao "Pequeno Jornaleiro" nas esquinas das ruas Ouvidor, Miguel Couto e Avenida Rio Branco, em homenagem aos meninos que, na primeira metade do século passado, percorriam as ruas do Centro gritando as manchetes do dia para vender jornais.
Um ofício perdido no tempo!

Um réquiem para os vivos!

Já tenho cinco excelentes gravações do monumental Réquiem de Brahms. Acabo de comprar a sexta (foto), uma versão mais contida e menos "teatral" do que a maioria disponível, superando, para muitos críticos, outras gravações com grandes orquestras e regentes.
O fato é que o réquiem de Brahms não me comove tanto como os dos franceses Fauré e Duruflé, mas se destaca entre as composições do gênero justamente por uma singularidade. É o único que eu conheço que se destina a consolar os enlutados, aqueles que ficaram, e não a homenagear os mortos ou os que partiram. Para Brahms, a morte representa muito mais o descanso eterno para os que se foram do que dor e sofrimento para os que perdem seus entes queridos.
Não creio que seja tão simples assim, mas respeito as convicções religiosas do compositor, cuja vida fora marcada por perdas de familiares e amigos íntimos, dentre eles, a própria mãe, segundo estudiosos, evento inspirador da obra, e o compositor Robert Schumann, amigo insuperável até a morte.
Com 27 anos, Brahms já havia composto boa parte da obra, embora ainda sob a forma de uma cantata fúnebre. Mas o réquiem completo estreou poucos anos depois.
Sabemos que no século XIX as pessoas não viviam tanto quanto hoje. O próprio compositor morreu com 64 anos, considerado bastante idoso para a época.
Fico me perguntando como, naquele tempo, um jovem de 27 anos encarava a perspectiva da morte com ainda tão pouca experiência de vida. E esse réquiem, em particular, reflete, além de maturidade precoce, uma profunda espiritualidade por parte do compositor.


Clássicos revividos!

A série "The Classic Film Scores" reúne trilhas sonoras clássicas de Hollywood compostas por mestres como Franz Waxman, Erich Wolfgang Korngold, Dimitri Tiomkin, David Raksin e Max Steiner.
Lançadas em vinil nos anos 1970 pelo selo "RCA Red Seal", as obras foram relançadas em cd na década seguinte, sob a supervisão técnica e artística do maestro e arranjador Charles Gerhardt, que rege a National Philharmonic Orchestra em todas as gravações, com exceção do cd com músicas de David Raksin, executadas pela New Philharmonia Orchestra, sob a regência do próprio compositor. Uma deferência especial a Raksin, que rege de maneira magistral três obras-primas de sua longa e vitoriosa carreira.
Entre 2010 e 2011, a Sony voltou a lançar os cds após rigoroso processo de remasterização, conferindo às antigas gravações uma qualidade de reprodução rara até para os padrões atuais.
A coleção contém scores antológicos de filmes que marcaram época (Laura, Crepúsculo dos Deuses, Rebecca, Horizonte Perdido, Cidadão Kane, E o Vento Levou, Casablanca etc), e cada cd é acompanhado de um livreto com uma curta biografia do compositor e detalhes curiosos das produções.
A "cereja do bolo" foi o lançamento, em 2019, do e-book com as fotos da sessão de gravação de um dos álbuns (Lost Horizon - Classic Film Scores of Dimitri Tiomkin), realizada em 1975, que contou com a presença do lendário compositor.
A obra é uma bela e justa homenagem a Charles Gerhardt, falecido em fevereiro de 1999, e à National Philharmonic Orchestra, de Londres, pela importante iniciativa que proporcionou às novas gerações conhecer os célebres scores da era de ouro de Hollywood.
O único e grave porém é que não foi lançado também o livro físico. Eu compraria...



Bem-vindo, Bartók!

 

Finalmente encontrei esse livro sobre a vida e a obra de Béla Bartók (1881-1945), um dos maiores compositores do século XX.
Bartók, por sua música "moderna" e inovadora baseada em elementos folclóricos húngaros, acabou negligenciado na programação de concertos das grandes orquestras, que costumam privilegiar o "surrado" repertório clássico e romântico.
Mesmo em tempos de crescente obscurantismo, Bartók se posicionou firmemente em defesa da paz e dos direitos humanos. Muitos artistas, por medo ou interesse pessoal, sucumbiram às pressões da época, mas o compositor não abdicou de seus princípios. Após abrir mão de honrarias recebidas, acabou se exilando nos EUA.
Bartók certamente ficaria horrorizado com sua Hungria natal nos dias de hoje, governada por uma extrema-direita que envergonha muitos húngaros e toda a Europa.
Um livro fundamental que se junta às biografias de Sibelius e Bruckner, também de autoria de Lauro Machado Coelho.
Para um mercado que raramente oferece livros de música clássica, é motivo de sobra para soltar fogos!!

Sempre Paris...

Assisti (de novo) ao belo filme "Promessa ao Amanhecer" (2017), baseado na vida extraordinária do célebre escritor Romain Gary (1914-1980), de origem lituana, mas radicado na França, para onde foi ainda criança e passou a maior parte da vida.
É impressionante como Paris atraiu todas as atenções de artistas e intelectuais nas primeiras décadas do século XX. Ali, num curto período, conviveram escritores, intelectuais e pintores responsáveis por obras que se tornaram referências culturais do nosso tempo.
Ernest Hemmingway, Scott Fitzgerald, Pablo Picasso, Gertrude Stein, Josephine Baker, Luís Bunnel, Salvador Dali, James Joyce...
Todos esses frequentaram a Paris mítica que habita mentes e corações de seguidas gerações até nossos dias.
A herança desse período glorioso para a arte e a cultura, como vi alguém dizer num documentário, nos torna todos um pouco franceses ou parisienses. Nenhum de nós permanece alheio ao que esses gênios produziram, muitos deles inspirados pela atmosfera sedutora e libertária daqueles anos dourados de Paris.



Karajan ou Karajan?

 



Eu já tenho um cd da sétima sinfonia de Bruckner com Karajan à frente da lendária Filarmônica de Viena, a última gravação realizada pelo regente meses antes de falecer, em 1989.
Provavelmente abdicando da busca pela perfeição que caracterizou sua longa carreira, Karajan, já doente, dedicou ao seu derradeiro trabalho uma performance menos contida (ou controlada), oferecendo uma liberdade maior à orquestra na execução da obra.
Encontrei ontem na Arquivo Musical LTDA (Travessa do Ouvidor, 8/202) uma outra gravação, realizada em 1971, de Karajan regendo a mesma obra com a não menos lendária Filarmônica de Berlim, num período em que o maestro, ainda no auge da carreira, buscava impor aos músicos uma performance tecnicamente impecável, mas desprovida de sentimento ou "profundidade", distante, talvez, das reais intenções do compositor.
Qual o melhor Karajan conduzindo Bruckner? O gênio da busca incessante pela perfeição ou o homem do final da vida já convencido de que a perfeição definitivamente não se encontra entre as virtudes humanas?
A perfeição pode até não ser desse mundo, mas ainda acho que o esforço pelo melhor resultado é mais virtuoso do que a indolência, a indiferença ou o desinteresse. E ouvindo Bruckner com a Filarmônica de Berlim, conduzida por Karajan perto da perfeição, o sentimento é de que tudo ainda vale (muito) a pena nessa vida!!

Reencontro da família!

 

Há 27 anos, justamente em maio, visitei Barcelona pela primeira vez para conhecer os primos espanhóis. Foram mais de 60 anos apenas com escassos contatos por carta entre parte da família radicada no Brasil (minha avó e descendentes) e o núcleo familiar que permaneceu na Espanha. Nesse longo período, nenhum parente brasileiro visitou a família na Galícia ou em Barcelona, para onde muitos galegos migraram em busca de melhores oportunidades de trabalho, em especial no período que antecedeu a Olimpíada de 1992.
Em 1995, após contato telefônico com o primo do meu pai na Galícia, foi possível descobrir o telefone e o endereço dos primos (filhos dele) que viviam em Barcelona.
Coube a mim, que viajaria para a Europa naquele ano, incluir Barcelona no roteiro para, finalmente e depois de tantos anos, proporcionar o reencontro da família.
Pelo que fui informado, fui o primeiro parente brasileiro a encontrar os primos espanhóis em décadas!
Cheguei em Barcelona de trem, procedente de Madri, e guardo com muito carinho a lembrança da receptividade dos primos naquela terça-feira, dia 09 de maio de 1995. Passei uma semana inesquecível em Barcelona conhecendo a família, visitando pontos turísticos e fazendo novos amigos.
Desde então, estive lá mais algumas vezes. Minha irmã e minha sobrinha também. E dois dos primos já estiveram aqui. Muito me orgulho de ter tido a oportunidade de aproximar os dois ramos da família afastados por tanto tempo. Além disso, vimos mantendo contatos frequentes, primeiro por telefone e mais recentemente por whatsapp.
Essa é apenas uma das muitas e belas histórias que coleciono de minhas viagens.
Viagens ampliam horizontes, aproximam pessoas e eliminam preconceitos. É o melhor projeto de construção da paz que existe no mundo!

Mozart indispensável!

"1791, O Último Ano de Mozart", de H. C. Robbins Landin, publicado em 1990 pela Nova Fronteira, relata em detalhes o último ano de vida de Mozart e o processo criativo das obras derradeiras, em especial o famoso "Réquiem", desmentindo algumas teorias a respeito de sua criação e da própria morte do compositor. Um livro indispensável para quem pretende conhecer melhor as motivações/atribulações do artista no último ano de vida.
Outro livro obrigatório sobre o compositor é "Mozart, Um Compêndio", organizado também por H. C. Robbins Landon e publicado pela editora Jorge Zahar nos anos 1990. A obra vai muito além da ideia de compêndios (ou resumos), revelando a vida pessoal e o processo criativo do compositor em função do contexto histórico e social em que viveu.
Infelizmente, dois livros já esgotados e fora de catálogo, mas que merecem urgente reedição no Brasil.