sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Schumann, entre a genialidade e a loucura!

 

Os "entendidos" torcem o nariz para as sinfonias de Robert Schumann (1810-1856), com críticas às suas orquestrações "demasiado espessas" e à "mistura de timbres". Mas eu gosto muito, e justamente por isso!
Schumann não é apenas para ser ouvido. A melhor maneira de apreciar suas sinfonias é assistindo à orquestra executando as obras nas salas de concerto ou mesmo em vídeo. É contagiante ver os músicos e os próprios maestros se dedicando de corpo e alma à partitura. Como um bom e típico romântico, Schumann fala direto ao coração, sem intermediários. Bons maestros e músicos compreendem isso perfeitamente. Vê-los executar as sinfonias é como ver e sentir tudo com os olhos e o coração do próprio compositor.
Por tudo isso, e apesar de já dispor das sinfonias em cds, comprei esse blu-ray (foto) com o vídeo dos concertos das 4 sinfonias de Schumann executadas pela prestigiada orquestra "Staatskapelle Dresden", sob a regência de Christian Thielemann, um dos maestros mais requisitados da nova geração. O blu-ray traz ainda uma entrevista de meia hora com Thielemann, que comenta sobre as sinfonias e sua visão das obras.

O triunfo da ignorância?

Hoje em dia, todos falamos sobre tudo ou qualquer assunto. Com o advento da internet e das redes sociais, vivemos uma era de ampla liberdade de expressão como nunca houve na história.
O que nos falta, porém, é o senso de responsabilidade a respeito das consequências de nossas manifestações públicas, muitas vezes no anonimato, o que envolve também uma grave questão moral.
É com essa "fartura" de liberdade nunca desfrutada por outras gerações que precisamos aprender a lidar com responsabilidade.
Certa vez, sabendo do meu longo e profundo interesse por música clássica, e também do conhecimento que acumulei ao longo de décadas sobre o assunto, um grande amigo gentilmente me convidou para dar uma palestra num escola de música para falar da história da música e da vida dos compositores.
Embora sabendo bastante sobre os temas propostos, declinei do convite por achar que meu conhecimento insuficiente de teoria musical me descredenciava para tratar de um assunto tão sério e nobre numa escola destinada justamente ao ensino de música.
Gosto de falar e escrever sobre música e acho até que tenho o que transmitir a quem sabe pouco ou nada, mas não me sinto habilitado para fazê-lo numa escola de música. Ali, não é lugar para improviso ou apenas diletantes. Respeito muito o conhecimento profundo sobre qualquer coisa. Isso é justamente o que se perdeu em meio a tantas imposturas e imprecisões que proliferam na internet. Hoje, todos se sentem autorizados a transmitir sua opinião a respeito de tudo, ainda que não tenha conhecimento suficiente para fazê-lo. No Brasil (mas não só aqui!), vemos até altas autoridades desacreditando a Ciência com objetivos políticos, o que reflete perfeitamente esses tempos sombrios de triunfo da estupidez e da ignorância (ou do pouco conhecimento).

A nostalgia dos Cafés!


Em tempos de internet e de alta tecnologia, parece que tudo muda rapidamente no mundo, mas a tradição dos "Cafés" nas capitais europeias permanece viva. Em Viena e Paris, talvez os melhores exemplos, alguns desses estabelecimentos fazem parte do patrimônio cultural das cidades. Atravessam séculos recebendo clientes desejosos apenas de passar um par de horas longe do burburinho e da correria urbana. E não é tão raro flagrar frequentadores mais conservadores lendo livros ou jornais impressos e alheios a tudo em volta. Um hábito mantido há gerações que resiste aos avanços tecnológicos.
O Café da foto, "Les Deux Magots", localizado no bairro parisiense de Saint-Germain-des-Prés e frequentado no passado por grandes escritores e intelectuais, é um dos mais famosos e tradicionais da cidade. Clientes menos apressados podem desfrutar da leitura de jornais impressos e até de livros novos colocados em estantes estrategicamente espalhadas pela área comum.
Parafraseando Ernest Hemingway, Paris continua (ainda bem) sendo uma festa!

Finalmente, a música de "Metrópolis"!

Finalmente, consegui encontrar a célebre trilha sonora composta por Gottfried Huppertz para "Metrópolis", o clássico dirigido por Fritz Lang em 1927, ainda no período do cinema mudo.
Meticulosamente restaurado há alguns anos, o score foi gravado em 2010 pela Orquestra Sinfônica da Rádio de Berlim, sob a direção de Frank Strobel, especialista em recuperação de partituras antigas.
Num tempo em que o cinema não dispunha de diálogos, a música exercia um papel fundamental na narrativa, atuando quase como um "personagem" do filme. Com "Metrópolis", não foi diferente. É a obra-prima de Huppertz que nos conta brilhantemente a história futurista e visionária sobre exploração operária, diferença de classes e "amor impossível", temas clássicos que atravessam gerações sem perder a atualidade.


Nino Rota inesquecível!


"O Leopardo", filme baseado no romance homônimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, corresponde, possivelmente, à mais bem-sucedida parceria do cineasta Luchino Visconti com o compositor Nino Rota. O clássico do mestre italiano de tantas obras magníficas, tais como "Roco e seus irmãos", "Morte em Veneza" e "Ludwig", teve a sorte de contar com Nino Rota em seu melhor momento no cinema.
Elaborado em forma de sonata, como uma verdadeira sinfonia, o score composto por Rota para o filme reúne tudo que uma trilha sonora deve oferecer, e muito mais! Lírica, delicada, elegante, majestosa e, quando necessário, vibrante e impetuosa, essa antológica criação de Nino Rota é perfeita, não devendo absolutamente nada aos grandes scores de toda a história do cinema. Por isso mesmo, e não é pouca coisa, está à altura da obra-prima de Visconti sobre a decadência da aristocracia siciliana em meados do século XIX, durante o processo de formação do moderno estado italiano.
O cd da foto, que me permitiu conhecer em detalhes o clássico score de Rota, encontrei no local mais inesperado possível, uma acanhada loja de música em Liubliana, capital da distante e bela Eslovênia, parte da extinta Yugoslávia. Uma das surpresas que as viagens costumam oferecer a quem se propõe a conferir tudo. E eu adoro fazer isso.


Viena e a nostalgia do império!

Esse livro conta a história do fim do maior império que a civilização ocidental conheceu desde a Antiguidade.
As últimas gerações não fazem ideia do gigantismo do império conquistado pelos Habsburg ao longo de mais de 8 séculos, desde o século XIII, que chegou a se estender do norte da Itália, passando pela Europa Central e a Boêmia, até os bálcãs (Bósnia, Sérvia e Croácia).
A história dos Habsburg se confunde com a própria história do continente europeu. Tudo isso ruiu como um castelo de cartas no fim da I Guerra Mundial, em 1918. Só restou Viena, a capital imperial, com sua monumental arquitetura, hoje capital de uma Áustria de dimensões modestas e de importância periférica no mundo.
Numa visita à cidade, é possível perceber uma atmosfera nostálgica permeando as ruas centenárias de uma Viena saudosa de um passado glorioso que não volta mais.


Bruckner em Viena, uma história singular!


Há 125 anos, o mundo perdia Anton Bruckner (1824-1896), um dos compositores mais singulares da história da música, cujas obras e trajetória de vida mais me falam ao coração, ao lado de Beethoven e Sibelius.
Ao contrário de outros grandes músicos que desde muito cedo tiveram consciência (ou convicção) de seu talento incomum, como Bach, Beethoven, Mozart, Mahler e Wagner, esse homem simples e provinciano passou boa parte da vida "implorando" por atenção e reconhecimento, embora tenha produzido obras monumentais tidas hoje como verdadeiras "catedrais sonoras", frutos de sua profunda devoção religiosa.
Em Viena, para onde se mudou somente aos 44 anos, em 1868, Bruckner enfrentou o desprezo de colegas músicos e de críticos locais influentes, ainda que não lhe tenha faltado o apoio de muitos amigos, notadamente no final da vida, quando recebeu várias homenagens. Mas, na capital austríaca, detratores caçoavam do compositor por sua insegurança, postura servil e até mesmo pelo despojamento com que se vestia, pecado mortal numa Viena ainda imponente e imperial do século XIX. Submisso, não raras vezes, o compositor efetuou alterações significativas em suas composições supostamente já concluídas, visando agradar a críticos e músicos mais experientes e conceituados.
Apesar disso, passados 125 anos de sua morte, a importância do legado de Bruckner é reconhecida por todos os amantes da "boa música", entre compositores, intérpretes e público em geral. Suas obras, em especial as 3 missas e o "Te Deum", são impregnadas de sincera e intensa religiosidade e oferecem ao mundo um inegável testemunho de fé.

Jornalismo e responsabilidade social

Ao optar pelo serviço público, de cuja trajetória me orgulho muito, renunciei ao exercício profissional do Jornalismo, minha formação acadêmica. Apesar disso, e talvez por pura vocação, sempre acompanhei de perto, com visão crítica, a prática diária da disseminação de notícias no Brasil e no mundo.
Lamento profundamente que o jornalismo ético e com responsabilidade social que aprendemos na universidade esteja cada vez mais distante da realidade da profissão, uma verdadeira quimera, mas, apesar dos graves desvios que temos visto nos últimos tempos (jornalismo "militante" ou cooptado pelo poder), ainda acho que o mau jornalismo com liberdade é melhor do que jornalismo amordaçado ou com censura - o triunfo das "fake news"!!
Por tudo isso, o Nobel da Paz concedido a dois jornalistas que enobrecem a profissão com um trabalho corajoso em defesa da liberdade de expressão em sociedades de governos autoritários pode ser um passo importante na valorização do jornalismo como fator de consolidação da Democracia no mundo. Tomara!!


Arte e virtude!

Em que medida uma obra artística adquire vida e qualidade própria, podendo (ou devendo) ser apreciada independentemente do caráter ou das virtudes pessoais do autor?
Wagner, um gênio da música, era declaradamente racista e antissemita, mas suas óperas são quase todas reconhecidas como obras-primas revolucionárias.
O próprio Beethoven, para ficar com a guarda do sobrinho, não hesitou em destruir a reputação da cunhada, num processo longo e doloroso, principalmente para o rapaz, que tentou o suicídio por não suportar a enorme pressão do tio possessivo.
Não faltam exemplos na história de artistas geniais de caráter "duvidoso". Afinal, arte e virtude devem caminhar juntas?


Pepe e Vila Isabel, um tardio caso de amor!


Na foto, Pepe (meu pai), ao lado de Martinho da Vila e de outros integrantes da Vila Isabel, pouco antes da entrada da escola na avenida. Ele passava o ano inteiro esperando por esse momento.
O amor pela "Vila" foi despertado quando mudamos para o bairro, há 40 anos, e só aumentou com o passar do tempo.
O ingresso na ala de compositores e, em seguida, no seleto grupo de beneméritos da escola não demorou muito. Pepe compunha fácil e até de madrugada. Precavido, já dormia com o gravador estrategicamente colocado ao lado da cama, na mesinha de cabeceira. Quando a inspiração surgia no meio da noite, acendia a luz, escrevia os versos e gravava tudo.
Em pouco tempo, passou a competir para a escolha do samba-enredo da escola, chegando à final por duas vezes. Não teve a chance, porém, de realizar o sonho de ouvir seu samba cantado na avenida.
Ao morrer, em maio de 2013, deixou um caderno com centenas de sambas. Um legado de valor apenas afetivo para a família, mas guardado com muito carinho.
Pepe, ou "Sombra da Vila", como gostava de ser chamado, ainda que modestamente, escreveu seu nome na história da tradicional escola do bairro de Noel Rosa, seu maior ídolo, homenageado em vários sambas que compôs.

Alô, alô, Edmo!

Entrevista com meu falecido irmão, Edmo Luís, na revista "Minha Novela", de 2008.
A paixão do Edmo era a "telinha", onde atuou em novelas e séries, quase sempre em papéis secundários, mas, com uma bela voz, fez meteórica carreira como locutor e dublador.
Nos anos 1980, famoso com o sucesso dos programas de rádio que comandava, era frequentemente contratado para a abertura de shows de vários ídolos populares. Certa vez, chegou a reunir uma multidão de fãs nos gramados da Quinta da Boa Vista, todos ouvintes fiéis de seus programas românticos nas rádios cariocas.
Edmo, que nos deixou muito cedo, com 60 anos, foi uma das pessoas mais determinadas e autoconfiantes que conheci. Uma trajetória de vida verdadeiramente inspiradora!


Descobrindo Béla Bartók!


Como eu pude passar a vida inteira ouvindo música clássica sem conhecer Béla Bartók (1881-1945)? Imperdoável!!
"Music for Strings, Percussion and Celesta" pode ser considerada uma das melhores composições "eruditas" dos últimos 100 anos. É certamente uma das obras-primas do compositor. Uma outra, "Concert for Orchestra", felizmente também integra o cd (foto).
Um livro que comprei num sebo nos últimos dias (foto) é que me apresentou a Bartók. O cd eu encontrei em seguida, já "orientado" pelo livro. Adoro e aprendo muito com essas "garimpagens". Passei décadas fazendo isso. Assim como as viagens, combinam prazer e conhecimento como poucas coisas na vida!
Por fim, e apenas como curiosidade já que nada disso realmente tem preço, o livro custou 10 reais e o cd, módicos 3 reais!

Kleiber incomparável!


Segundo muitos especialistas (ou "sabidões", como diz o meu amigo alemão), sob o ponto de vista artístico ou musical, esse cd contém a melhor gravação da 5a. sinfonia de Beethoven. Convenhamos, isso é muito subjetivo, mas não deve estar longe da verdade.
Kleiber não gravou todas as 9 sinfonias de Beethoven. A "Nona", por exemplo, hoje a mais popular, não consta de sua discografia; nem a revolucionária "terceira" (a "Heróica"), outra obra obrigatória na carreira de qualquer regente que se preze.
O repertório reduzido frustrava os fãs e incomodava a indústria fonográfica, mas isso também faz parte do legado de Kleiber.
O cd, claro, eu guardo a sete chaves!

Haydn em Londres

Ótima gravação, com direito a belíssimo livreto ilustrado, das duas últimas sinfonias compostas por Haydn na corte do príncipe Eszterhazy, localizada na aprazível Eisenstadt (que visitei em 2017), próxima de Viena. Em 1791, ano da morte de Mozart, o compositor se transferiu para Londres, onde recebeu excelente acolhida e compôs suas 12 últimas sinfonias, chamadas apropriadamente de "londrinas".
Depois de duas estadas no período de 4 anos na Inglaterra, Haydn retornou definitivamente a Viena em 1795 e lá ainda compôs, além de missas e quartetos de cordas, os oratórios "A Criação" e "As Estações", as derradeiras obras-primas de uma longa, brilhante e profícua carreira.
Em tempo, o cd, em estado de novo e intocado, encontrei essa semana num sebo da Saens Pena. É o que resta no Rio, além da excelente loja "Arquivo Musical", no Centro, para os apreciadores desse gênero musical.


A resposta de Schubert!


Aos 29 anos, perto do final da vida (morreu muito jovem, com 31!), embora já tivesse composto pelo menos 6 sinfonias completas, Franz Schubert (1797-1828) entendia que faltava-lhe criar uma obra extensa que pudesse rivalizar com as grandes sinfonias de Beethoven. A "Nona", também denominada "A Grande", é a resposta que desejava dar a si mesmo e aos contemporâneos. E o resultado está à altura do "desafio"! É uma obra bem-sucedida que ocupa espaço nobre no repertório sinfônico.
A performance da Filarmônica de Viena, sob a regência do saudoso George Solti (1912-1997), é antológica. Um cd precioso!