sábado, 15 de fevereiro de 2020

Jovens, envelheçam!


Costumo ter um carinho especial pelos jovens. Muitas vezes até os "invejo", não pela juventude em si, mas pelo longos anos que, em tese, ainda terão pela frente. Outras vezes, porém, confesso que me decepciono. 
Dias atrás, estive com um jovem querido (filho de amigos) com quem não conversava há bastante tempo e fiquei triste por vê-lo tão intolerante e presunçoso destilando preconceitos, principalmente em relação aos mais pobres ou menos educados. Além disso, cheio de certezas inabaláveis, revelou em nossa conversa um profundo desprezo pela opinião e pela experiência alheia. Naturalmente, pensa que já sabe tudo, o que me fez lembrar daquela famosa frase de Nélson Rodrigues:
- Jovens, envelheçam!!
Claro, não há garantia alguma de que o tempo e a idade nos tornarão seres humanos melhores, mas as "porradas" que levamos, ou as "perdas e ganhos" que a passagem dos anos nos proporciona, certamente podem aumentar as chances de termos um olhar mais generoso com o próximo e com a própria vida!


Os cinemas de sábado à noite!


Saudade do tempo em que as estreias de filmes como "Star Wars" eram aguardadas ansiosamente por multidões que faziam filas intermináveis nas portas dos cinemas (de rua) para assistir. Um tempo em que os filmes levavam anos para passar na TV. Não havia vídeo doméstico, inaugurado nos anos 80 com o finado formato VHS, e muito menos internet. Assistir a um filme no cinema, sozinho ou com a namorada, era um acontecimento social e cultural da maior importância. Nos subúrbios, era o ponto alto do fim de semana. Um evento que rivalizava com as festinhas na casa de amigos e com os bailes de "discoteca" nos clubes.
Lembro muito bem de quando assisti à estreia de "Os Embalos de Sábado à Noite" num cinema de Madureira, em 1978. A fila dava voltas no quarteirão, e ninguém arredava pé dali. Isso durou vários finais de semana porque poderia levar anos até que a televisão programasse a exibição. 
Enfim, eram tempos em que ir ao cinema era um grande acontecimento, um verdadeiro ritual, principalmente para as classes populares. Hoje, o filme nem estreou nos cinemas e tem gente que já assistiu na internet. Outros tempos!


Dúvidas e escolhas!


Quando vemos um jovem com dúvidas típicas da juventude (preferências, quem sou, o que vale a pena, o que quero da vida, onde quero chegar etc.), não temos muito o que dizer, afinal, não há mesmo respostas prontas para quase nada. Na verdade, para ser sincero (e dependendo do nível de presunção de cada um), estamos tão "perdidos" quanto eles. Vivemos o suficiente (ou não!) para saber que não há regras nem fórmulas matemáticas para viver plenamente, porque não há valores absolutos nem um caminho certo ou único para a realização ou para a felicidade. Cada um encontra o seu, do seu jeito e com seus próprios erros e acertos.
Alguém mais velho querer impor ao jovem sua trajetória de vida, com os mesmos receios e as mesmas escolhas, é pura falta de humildade e até mesmo de honestidade.


Os loucos anos 20 no Rio!


Bem-vindos os novos "Anos 20"! E que sejam tão inspiradores e auspiciosos como foram há 100 anos!!

Muito já se escreveu sobre os "loucos" anos 1920 em Paris. Ernest Hemingway, escritor americano que lá viveu no período, chegou a afirmar em seu livro de memórias "Paris é Uma Festa" que "se você teve a sorte de viver em Paris quando jovem, sua presença continuará a acompanhá-lo pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante”.
Hemingway, no entanto, não estava sozinho em sua reverência à capital francesa. No livro "Os Anos Loucos - Paris na década de 1920", o também escritor americano William Wiser nos oferece uma divertida e reveladora crônica sobre o período de efervescência cultural que reuniu em Paris personalidades ícones do século XX como Cole Porter, F. Scott Fitzgerald, Samuel Beckett, Josephine Baker, Ernest Hemingway, James Joice, Picasso, Coco Chanel e, claro, Ernest Hemingway, dentre outros.
Mas Ruy Castro, com seu livro recém-lançado "Metrópole à Beira-Mar", nos lembra que o Rio também foi palco de uma tremenda "festa" há 100 anos. Como informa a própria contracapa do livro, aqui viveram naquele período Adalgisa Nery, Adhemar Gonzaga, Bidu Sayão, Carlos Chagas, Carmen Miranda, Cecilia Meirelles, Di Cavalcanti, Francisco Alves, Ismael Nery, Ismael Silva, J. Carlos, João do Rio, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Mario Reis, Orestes Barbosa, Pixinguinha, Procópio Ferreira, Ronald de Carvalho, Roquette-Pinto e Villa-Lobos. Dá pra imaginar essa gente toda se encontrando no "balneário"? 
Pois é, de alguma forma, todas essas personalidades contribuíram para forjar o caráter artístico, cultural e humano da cidade, conferindo ao povo carioca uma natureza singular que atravessa gerações. Para o bem e para o mal, é o que somos e por que somos.
Um livro, portanto, de leitura obrigatória. Pelo menos para os cariocas que ainda amam e se importam com a cidade.


Bem perto da perfeição!

Herbert von Karajan tinha uma virtude que para muitos era um defeito. Buscava incessantemente a perfeição. 
Eu nunca vi/ouvi uma performance chegar tão perto da perfeição como na abertura de "Tanhauser", de Richard Wagner, executada nesse concerto pela Orquestra Filarmônica de Berlim no já longínquo ano de 1975. É possível perceber que os músicos permanecem compenetrados e concentrados exclusivamente na partitura, não havendo lugar para desvios de olhar, gracejos ou distração de qualquer espécie. E ai daquele que se atrevesse a isso, já que a gravação fora dirigida pelo próprio maestro, que, controlador e exigente como era, certamente se ocuparia de supervisionar a edição. Como ele gravava "para a posteridade", imagina o nível de controle que exercia sobre tudo!
Merecidamente criticado por sua omissão e cumplicidade com os nazistas durante a II Guerra, Karajan, porém, encarnava aquilo que eu considero pré-requisito básico para qualquer maestro. Dedicação, disciplina e até reverência absolutas na abordagem de uma obra musical!