quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Herança africana no Brasil



Enquanto os malfeitos do presente monopolizam a atenção da mídia e das redes sociais no Brasil, recentes escavações no centro do Rio, por conta das obras de revitalização da zona portuária para as Olimpíadas de 2016, revelaram um passado sombrio de nosso país que não pode ser esquecido. Trata-se do Cais do Valongo, o maior sítio arqueológico da diáspora (dispersão) africana em todo o mundo. Por ali teriam passado cerca de 1 milhão de escravos no século XIX, caracterizando o local como o maior porto escravagista da história. Essa é uma herança que não nos honra mas que devemos cultuar em memória daqueles que, mesmo tratados como sub-humanos, deram uma contribuição decisiva para a construção da identidade do povo brasileiro.


domingo, 17 de novembro de 2013

O mensalão e a polarização política no Brasil


A repercussão, na mídia e nas redes sociais, do episódio da prisão dos envolvidos e condenados no chamado mensalão revela um acirramento dos ânimos em relação ao quadro político nacional que chega a ser assustador. É como se a sociedade estivesse dividida, colericamente, entre os que demonizam tudo e todos relacionados direta ou indiretamente com o governo federal e o PT, e aqueles que os apoiam incondicionalmente, haja o que houver, apesar de possíveis evidências de erros e "malfeitos" na condução da coisa pública. 
O processo de consolidação de nossa ainda tenra e vulnerável democracia requer muito mais do que a polarização raivosa e destrutiva verificada atualmente no país. E nenhuma liderança política, independentemente de ideologias, demonstra estar à altura do desafio de mudar esse quadro. É uma pena.


Miriam Makeba na Alemanha: parece que foi ontem!



Essa homenagem que fizeram ontem no Rio, durante o festival Back2Black, a Miriam Makeba, cantora sul-africana falecida em 2008, com a participação de Gilberto Gil e Alcione, me fez lembrar de um episódio bacana que vivenciei há quase 20 anos. Foi em maio de 1995, mais precisamente no dia 24, uma quarta-feira, quando eu estava visitando pela primeira vez meus amigos em Heidelberg, na Alemanha. Ao me receber na estação de trem, ainda pela manhã, minha amiga Cristina me convidou para ir com seu companheiro Armin e outros amigos ao show que Makeba daria à noite no principal ginásio da cidade. Aceitei logo, claro, mas confesso que esperava qualquer programa para aquela noite especial na Alemanha, nunca, porém, um show de uma cantora africana, que, aliás, fez muito sucesso no Brasil, lá pelos anos 70, especialmente com uma música - "Pata Pata" - ou, como costumávamos dizer na época, "tá com pulga na cueca!". Com tudo acertado, resolvemos passar numa drogaria (?!?!) para comprar os ingressos, ainda em marcos alemães.
À noite, para minha surpresa, testemunhamos o ginásio lotado de loirinhos de olhos azuis, exultantes com a performance da negra africana. Ela cantou por aprox. 2 horas e saiu ovacionada do palco, não sem antes oferecer vários "bis" ao público extasiado. Foi ali que, pela primeira vez, percebi que os alemães não perdem uma oportunidade de curtir a cultura negra ou africana, ou pelo menos qualquer coisa que soe diferente dos padrões germânicos. Não todos, é verdade, mas certamente muita gente, a ponto de lotar ginásios numa bela noite de dia útil e fora do período de férias, como foi o caso.
Após o inesquecível show, fomos jantar num restaurante à beira do rio Neckar, numa noite agradável de primavera, onde as conversas ainda repercutiam bastante a performance da saudosa Miriam Makeba. De alguma maneira, portanto, ela faz parte das melhores lembranças da minha vida. Que Deus a tenha!


sábado, 16 de novembro de 2013

O melhor de Alan Silvestri

Assistindo agora há pouco, no canal Universal, a algumas cenas de "O Retorno da Múmia", de 2001, resolvi ouvir a excelente trilha sonora que Alan Silvestri escreveu para o filme. O compositor tem uma carreira consolidada em Hollywood e já compôs obras antológicas,  como é o caso de "De Volta para o Futuro", que se confundem com os próprios filmes a que servem. Nunca, porém, esteve tão perto da perfeição como em "O Retorno da Múmia". Seu score para este filme não fica a dever em nada ao ótimo trabalho do mestre Jerry Goldsmith para o original "A Múmia", de 1999. Na verdade, quando ouvi a trilha sonora pela primeira vez não acreditei que era de Alan Silvestri. 
Mais tarde, em 2004, na tentativa de alcançar a excelência do score anterior, o compositor criou algo parecido para "Van Helsing", que não passou de um arremedo de sua trilha sonora de 2001. Mas ele ainda tem crédito!

sábado, 2 de novembro de 2013

Marian Dougherty e a revelação de ídolos em Hollywood



Acabei de assistir na HBO ao documentário "Diretor de Elenco", exibido no último Festival do Rio, sobre Marian Dougherty, falecida em 2011, certamente a mais prestigiada diretora de elenco de Hollywood. Ela fala da experiência acumulada ao longo de décadas na escolha de atores para produções americanas, apostando em novatos como John Travolta, Dustin Hoffman, Al Pacino, Diane Lane, Clint Eastwood, Sigourney Weaver, Christopher Walken, Warren Beatty, Gene Hackman e Jeff Bridges, dentre outros, que mais tarde se tornariam grandes ídolos do cinema. 
O episódio mais interessante do documentário abordou a dinâmica de escolha dos protagonistas de "Perdidos na Noite" (1969), um dos sucessos mais corajosos e improváveis de toda a história de Hollywood, por retratar uma dupla de personagens perdedores num filme que não faz concessões mercadológicas no final. Na produção, John Voight e Dustin Hoffman, em início de carreira, realizam performances memoráveis que marcariam para sempre suas carreiras. Dustin decolou, já John Voight... 
Infelizmente, com o processo de infantilização do cinema, iniciado no final da década de 70 (receio que por obra e culpa de George Lucas e Steven Spielberg), não há mais espaço para filmes como esse na indústria cinematográfica.


Jack Wild, uma vida arruinada pelo vício


Jack Wild é o caso mais trágico que eu conheço de um jovem talentoso que pôs tudo a perder com o vício em álcool e cigarro. Ele começou a beber e a fumar aos 12 anos, o que arruinou a carreira, o casamento com a namorada de infância e a própria vida. 
Indicado ao Oscar de ator coadjuvante aos 16 anos, pelo papel de Jack Dawkins, o batedor de carteiras mirim do filme "Oliver" (1968), Wild passou a vida adulta praticamente no anonimato, fazendo pontas aqui e ali e alguns papéis secundários no teatro. O vício duplo iniciado na infância só aumentou com o passar dos anos e o esquecimento pela mídia. Morreu aos 53 anos, em 2006, vítima de câncer de boca, tendo passado os 3 últimos anos de vida sem poder falar, por causa do tumor. Ele mesmo admitiu que seu estilo de vida o transformou numa verdadeira bomba-relógio. Uma triste história de vida que, infelizmente, está longe de ser rara no meio artístico. Apurei tudo isso logo após assistir à homenagem aos artistas falecidos em 2006, na entrega do Oscar 2007. Assim que vi o nome dele na tela e as cenas de "Oliver", lembrei do filme e principalmente da série inglesa de tv "A Flauta Mágica", da qual participou e que chegou a passar no Brasil (acho que na TV Excelsior) quando eu tinha uns 10 anos. O programa marcou minha infância e Jack Wild fez parte disso.
Para quem não conhece o ator, ou não assistiu "Oliver" e a série da tv inglesa, está previsto para este mês o lançamento, no Brasil, do dvd do filme "Melody - Quando Brota o Amor", uma comédia romântica de 1971, no qual Jack Wild é mais uma vez coadjuvante de Mark Lester, o protagonista de "Oliver", menino que se tornou médico bem-sucedido (é dono de uma clínica) e ainda vive. A ironia em "Melody" é que Wild desempenha o papel de uma criança rebelde (ele já tinha 18 anos, mas era miúdo) que, de vez em quando, consome bebida alcoólica. O que parecia uma inocente travessura na história, ou um simples papel no cinema, acabou se tornando uma triste realidade na vida do jovem ator, que acabou o levando à morte. Que Deus o tenha!



Regras para espionagem?



Brasil e Alemanha se uniram na ONU para aprovar regras para espionagem. Os discursos foram ótimos e as medidas propostas obtiveram o apoio da maioria dos países, mas dificilmente tornarão o mundo menos sujeito às bisbilhotices dos mais poderosos. 
Na verdade, o maior problema que eu vejo nessa questão da espionagem praticada pela agência de segurança americana (NSA), que alcança indiscriminadamente inimigos e aliados, é a própria divulgação do fato. Todos os governos sabem (ou deveriam saber) que isso sempre existiu, e não são ingênuos (ou não deveriam ser) a ponto de achar que vai acabar. Vamos ser honestos, os que não espionam não o fazem por falta de meios ou por incompetência, quase nunca por princípio.
Mas admito que a divulgação da prática, principalmente quando envolve aliados, cria uma situação embaraçosa para ambas as partes, já que revela falta de confiança entre os países. Para o cidadão comum, isso é inaceitável. Portanto, é louvável e legítima a iniciativa conjunta de Brasil e Alemanha, "vítimas" da NSA, no sentido de criar medidas que tentem coibir os excessos, o que representa uma espécie de satisfação para o público interno. Porém, como não acredito (há bastante tempo) em Papai Noel, nem em coelhinho da Páscoa, considero praticamente nulas as chances de ocorrer qualquer mudança significativa na prática de espionagem no mundo. Quem pode espionar vai continuar a fazê-lo, a despeito de tudo e de todos. 
Por fim, embora devamos aspirar sempre a um mundo melhor, mais transparente e menos cínico, e trabalhar efetivamente por isso, não é possível alimentar ilusões a respeito desse assunto.