sexta-feira, 14 de junho de 2013

Protestos e exercício da democracia

É triste constatar como autoridades e forças policiais estão tão despreparadas para lidar com situações dessa natureza em nosso país. É óbvio que as manifestações dos últimos dias, como em qualquer lugar do mundo, têm motivações políticas que vão além da questão alegada, no caso, o aumento das tarifas de transportes. Qual é a novidade? O problema é que tudo isso surpreende exatamente aqueles que já deveriam saber lidar com esses protestos. Simplesmente desqualificar o movimento não resolve nada e só acirra os ânimos. As passagens são caras sim, embora não seja possível congelá-las indefinidamente como parecem desejar os manifestantes. Mas o pior é a precariedade do serviço de transporte público em nossas grandes cidades, que privilegia veículos sobre rodas, poluindo as ruas e tratando usuários como gado em ônibus lotados. Só isso (ou tudo isso!) já legitima qualquer movimento que tenha o tema em pauta. Se não tivermos coragem e honestidade suficientes para reconhecer esse quadro, enfrentaremos ainda muitas situações de risco social semelhantes às que temos testemunhado nos últimos dias, principalmente no Rio e em São Paulo. Falamos tanto em democracia, mas o fato é que democracia é um exercício diário que não costuma poupar iniciantes.



terça-feira, 11 de junho de 2013

Os melhores hesitam e os piores agem cheios de convicção



Toda vez que tomo conhecimento de atos de preconceito e intolerância no mundo, o que têm se tornado uma triste banalidade em nossos dias, por quaisquer que sejam as motivações (políticas, religiosas, esportivas, xenófobas, raciais, sexuais etc), lembro de um singelo e comovente trecho do livro "Civilização: uma visão pessoal de Kenneth Clark" (transcrito abaixo), de autoria do brilhante escritor e historiador britânico Sir Kenneth Clark, também responsável pelo roteiro e apresentação de um memorável documentário (homônimo) da BBC sobre o tema. Cabe ressaltar que, ao contrário do que ocorre normalmente nesses casos, o programa televisivo é que inspirou a publicação do livro.

"...creio que a ordem é melhor que o caos, que a criação é melhor que a destruição. Prefiro a gentileza à violência, o perdão à vingança. Acredito que a instrução é preferível à ignorância e tenho certeza de que a simpatia humana é mais valiosa do que a ideologia... sustento ainda uma ou duas crenças mais difíceis de resumir. Por exemplo, eu creio na cortesia, ritual pelo qual evitamos ferir os sentimentos de outras pessoas na satisfação de nossos egos. E creio que não devemos esquecer que fazemos parte de um grande todo a que, por conveniência, chamamos natureza. Todas as coisas vivas são nossos irmãos e irmãs... é a falta de confiança, mais do que outra coisa, que mata a civilização. Também podemos destruir-nos tanto pelo cinismo e pela desilusão quanto pelas bombas. Há cinquenta anos, B. Yeats, que é o homem mais genial que conheci, escreveu o famoso poema profético:

Tudo se esboroa; o centro não resiste;
Está solta pelo mundo a verdadeira anarquia,
Sobe a maré de sangue e, por toda a parte,
Afoga-se o ritual da inocência;
Os melhores perderam toda convicção, e os piores
Estão cheios de apaixonada certeza. "



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Amélia e o destino de cada um de nós


Assistindo recentemente ao filme "Amélia" (2009), estrelado por Hilary Swank e Richard Gere, que mostra um pouco da vida de Amélia Earhart, pioneira aviadora americana desaparecida em 1937 quando sobrevoava o Oceano Pacífico, pensei a respeito de uma tragédia infelizmente comum a muitos de nós. 
As obrigações sociais e a compreensível luta diária pelos meios de subsistência costumam transformar muitas vidas num exercício medíocre de sobrevivência e de aceitação, afastando o indivíduo de suas vocações ou inclinações naturais e, o que é pior, do que verdadeiramente o identifica e distingue dos demais. 
A trajetória de Amélia Earhart parece ter sido justamente o contrário de tudo isso, o que acabou lhe custando a vida, mas fico pensando em quantos de nós têm a coragem de tomar as rédeas do próprio destino, como fizeram a aviadora e certamente outros ilustres e anônimos ao longo da história.