quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O instrumento dos deuses



O "instrumento dos deuses", é assim que vejo (ou ouço) a trompa, um instrumento musical da família dos metais quase tão antigo quanto a civilização, já que sua história começa há milhares de anos com a utilização de chifres de animais. Foi somente a partir do século XIV que o instrumento passou a ser confeccionado com metal, passando por diversas transformações com o passar dos tempos, até chegar à forma que apresenta em nossos dias.
E parece que os compositores de trilhas sonoras, em justa reverência aos deuses e suas preferências, desenvolveram, por gerações, um verdadeiro caso de amor com a trompa, um dos instrumentos mais expressivos da orquestra moderna. O som aveludado produzido pelo conjunto de trompas, que pode ir do doce e melancólico ao solene e grandioso, tem forte presença nos scores de praticamente todos os gêneros cinematográficos, conferindo às narrativas, sejam elas simples ou épicas, uma atmosfera de puro encantamento.
Por isso mesmo, o som da trompa, que alcança uma enorme variedade de timbres, é, de longe, o que mais aprecio numa performance orquestral, e não apenas na execução de músicas de filmes. O instrumento está presente em todas as sinfonias de Beethoven, Brahms e Mahler, compositores pelos quais tenho grande admiração. Richard Wagner, que dispensa apresentações, chegou a criar uma nova trompa (a trompa wagneriana), destinada ao seu ciclo de óperas "O Anel do Nibelungo" (O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e Crepúsculo dos Deuses). O instrumento modificado, que combinava elementos tanto da trompa original quanto da tuba, acabou agradando e passou a ser adotado por outros compositores, como Richard Strauss, Igor Stravinsky e Béla Bartók.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A melhor biografia da MPB



Em tempos de proibição de biografias não autorizadas, circulam notícias de que voltará em breve às livrarias a de Noel Rosa, de autoria de João Máximo e Carlos Didier, lançada em 1990 pela Editora UnB, em edição comemorativa do 80º aniversário de nascimento do compositor.
A obra, considerada a mais importante já realizada sobre uma personalidade da MPB, está fora de circulação há vários anos, por iniciativa dos herdeiros de Noel, que por muito tempo alegaram a necessidade de preservação da privacidade da família. 
Em 2012, uma decisão final da Justiça liberou a publicação do livro, que só está aguardando a definição da editora responsável, Companhia das Letras ou José Olímpio, ambas interessadas no projeto.  
Embora não seja o gênero de música que mais me agrade, compreendo perfeitamente a importância da obra de Noel Rosa para a cultura brasileira. Por sorte, tenho um exemplar do livro em perfeito estado, que dei de presente de aniversário ao meu saudoso pai, o maior fã de Noel que conheci em toda a minha vida.


Insensatez em dose dupla

1 - Supremo Tribunal da República Dominicana tira a nacionalidade de filhos de pais estrangeiros ilegais nascidos a partir de 1929. A decisão afeta diretamente 3 gerações de dominicanos, ou meio milhão de pessoas! 
Punir imigrantes ilegais após décadas de permanência no país, tornando seus descendentes apátridas, chega a ser surreal.


2 - Presidente francês, François Hollande, propõe retorno ao país de menina de 15 anos deportada com a família para Kosovo, desde que volte sozinha, deixando pais e irmãos para trás. 
Propor isso a uma criança em pronunciamento pela TV é uma verdadeira infâmia! Se não pode oferecer nada melhor, ou mais decente, que fique calado!


sábado, 19 de outubro de 2013

Cisne Negro e Natalie Portman

Finalmente a Globo programa um ótimo filme para a noite de sábado. A emissora transmite hoje "Cisne Negro" (2010), dirigido por Darren Aronofsky, que conta com o melhor desempenho de Natalie Portman em toda a carreira. Aliás, a produção é um exemplo clássico de como a atuação de um ator/atriz pode conferir qualidade e densidade a um filme. Embora aborde emoções e intrigas típicas dos bastidores do balé, clássico ou moderno, como bem assinalou minha amiga Marisa Tamm, bailarina, coreógrafa e professora de dança contemporânea, acredito que o balé, no filme, funcione apenas como pano de fundo para contar um belo drama psicológico sobre a jornada (quase sempre dolorosa) de um ser humano em busca de si próprio, dividido entre desejos e repressões. Um filmaço!
Por último, cabe destacar a trilha sonora, que tem música original de Clint Mansell e brilhante adaptação do balé "Lago dos Cisnes", de Tchaikovsky.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Certezas, dúvidas e julgamentos


Episódios envolvendo dois amigos nos últimos dias me fizeram lembrar do filme "Dúvida" (2008), dirigido por John Patrick Shanley e estrelado por Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman. O site da HBO informa que o filme, baseado na obra literária ganhadora do Prêmio Pulitzer, e na adaptação teatral premiada com um Toni, não está mais disponível para exibição no Brasil, o que é uma pena, já que se trata de uma bela produção, valorizada pelo fantástico desempenho dos protagonistas. Eu adoraria assisti-lo de novo, mas já pesquisei na internet e até o blu-ray está esgotado no fornecedor. Segue uma pequena sinopse da produção, extraída do site "AdoroCinema":

"Não existem provas, não existem testemunhas… somente suspeitas.
1964. O carismático padre Flynn (Philip Seymour Hoffman) tenta acabar com os rígidos costumes da escola St. Nicholas, localizada no Bronx. A diretora do local é a irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), que acredita no poder do medo e da disciplina. A escola aceitou recentemente seu primeiro aluno negro, Donald Miller (Joseph Foster), devido às mudanças políticas da época. Um dia a irmã James (Amy Adams) conta à diretora suas suspeitas de que o padre Flynn esteja dando atenção demais a Donald. É o suficiente para que a irmã Aloysius inicie uma cruzada moral contra o padre, tentando a qualquer custo expulsá-lo da escola."

Recomendo esse filme a todos que costumam se orgulhar de suas certezas. Reservar (ao menos) um pequeno espaço para a "dúvida" em nossas vidas, principalmente quando se trata de julgar o próximo, não apenas no que diz respeito ao mérito de seus atos (certo ou errado), mas também em relação a como lidamos com suas supostas falhas, leves ou graves, é um oportuno exercício de humildade. 
Isso tudo me faz recordar de uma ótima frase atribuída a Millor Fernandes, habitualmente associada a contextos mais triviais do que o do filme.

- se você não tem dúvidas, está mal informado!




sábado, 12 de outubro de 2013

Nova tragédia humanitária no Mediterrâneo


Tivemos ontem, no Mar Mediterrâneo, mais dois naufrágios de barcos repletos de imigrantes africanos, com dezenas de vítimas fatais.  
Apenas fechar fronteiras e reprimir a imigração ilegal, como alguns países europeus vêm fazendo, é o mesmo que enxugar gelo. A solução, a médio e longo prazo, passa por iniciativas que promovam a estabilidade política e o desenvolvimento econômico e social nas regiões de origem dessa legião de imigrantes. É a alternativa mais sustentável, ainda que de implementação complexa e demorada, para minimizar essa tragédia humanitária que já matou milhares de pessoas nos últimos anos.



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Em busca de liberdade (e da felicidade)


Quando li a matéria sobre o filme "A Outra Pátria" no site da Deutsche Welle (www.dw.de), que aborda a emigração de alemães para o Brasil (Rio Grande do Sul) ainda no século XIX, lembrei logo da história que meus parentes me contaram a respeito da minha saudosa avó Evangelina, que saiu no início do século passado da Galícia, na Espanha, para se estabelecer no Rio de Janeiro. O fato é que as histórias dos imigrantes são sempre muito parecidas, independentemente da época, da nacionalidade e de onde se instalam. As motivações são basicamente as mesmas, invariavelmente associadas à pobreza extrema no país de origem e à busca em terras estrangeiras por uma vida mais digna, ou da felicidade, o que é algo legítimo e universal. 
Ao ler o artigo, lembrei também do naufrágio ocorrido há dois dias na costa da pequena ilha italiana de Lampedusa, que provocou a morte de 300 imigrantes africanos. Uma tragédia humanitária que se repete periodicamente naquela região, sem que as autoridades italianas e europeias tomem qualquer providência. Como afirmou o Papa nesta sexta-feira, "hoje é um dia de lágrimas porque o mundo não se importa se as pessoas fogem da escravidão ou da fome em busca de liberdade".



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Trilhas sonoras e a arte da orquestração

Em entrevista publicada no BsoSpirit, site espanhol especializado em trilhas sonoras, o compositor John Ottman, responsável pelo ótimo score do filme "Jack - O Caçador de Gigantes", comenta:

- A orquestração é tudo. É fundamental para que o score narre a história. É a razão pela qual eu mesmo me ocupo disso até a última nota para um pizzicato. Não posso imaginar entregar a partitura a um orquestrador para que ele preencha os espaços em branco. Cada uma das matizes e dos detalhes da orquestração tem um tremendo impacto sobre a cena. Eu ficaria muito nervoso se tivesse que delegar essa tarefa a outra pessoa. A decisão de usar o coro ou determinados instrumentos de metal, por exemplo, faz parte do processo de composição. O resultado disso está intimamente associado à narrativa. Como eu poderia deixar para outro essa responsabilidade?

Já debati esse assunto com alguns amigos músicos. A maioria deles não confere tanta importância ao fato de o compositor orquestrar as próprias obras. Não sou músico mas me reservo o direito de discordar. Na verdade, não há nada nessa vida que eu admire mais do que um compositor com pleno domínio da arte da orquestração. Isso, pra mim, é fundamental!