terça-feira, 29 de junho de 2021

Football x soccer

 


Faz algum tempo, em artigo publicado na imprensa americana, a jornalista Ann Coulter, de posição política ultraconservadora, afirmou que o aumento da popularidade do futebol nos Estados Unidos é sinal da decadência moral do país. Segundo ela, depõe contra o futebol o fato de que o desempenho individual nesse esporte não seja fator decisivo, ao contrário do que ocorre nos esportes "de verdade". Ela sustentou, ainda, que no futebol o mérito e a culpa são sempre compartilhados, não havendo espaço para um único vencedor ou perdedor, ou seja, não haveria responsabilidades individuais a imputar nos resultados dos jogos. E foi além, afirmando que no final de uma partida de futebol americano os lesionados são levados de ambulância para o hospital; já no futebol "europeu" (é assim que os americanos costumam se referir ao futebol jogado majoritariamente com os pés) os jogadores recebem apenas energéticos.
Diante desses comentários, acredito que a polêmica jornalista, em síntese, deve achar que o futebol popular no mundo inteiro é um esporte civilizado demais para ser praticado e apreciado pelos compatriotas. E não deve ser uma voz solitária na sociedade americana. Sem qualquer julgamento do mérito (certo ou errado), acredito que sua opinião reflita, em grande medida, o papel preponderante do individualismo e da violência na cultura dos EUA.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Paris de todas as tribos musicais!

 

"Psyché and Eros", belo e comovente poema sinfônico de César Franck (1822-1890), está impregnado de um romantismo já há muito perdido no tempo. Infelizmente, é uma das obras mais negligenciadas do período romântico (século XIX) e que raras vezes integra os programas de concerto.
Por sorte, exatamente há 13 anos, em 21 de junho de 2008, tive a oportunidade de assistir a um concerto em Paris com a Orquestra Nacional da França e o Coro da Rádio França, sob a regência do já falecido Kurt Masur, executando justamente essa obra. Foi uma tarde inesquecível no Museu D'Orsay, por ocasião da "Fête de La Musique", festival de música realizado desde 1982 exatamente no dia que abre o verão no hemisfério norte (solstício de verão). Paris para quase que literalmente por conta do evento, que reúne artistas (consagrados e anônimos) de vários gêneros musicais. Ruas, praças, bares, museus, igrejas e até estações de metrô da cidade ficam lotadas de moradores e turistas ávidos por desfrutar, gratuitamente, de alguns momentos de boa música (ao vivo), seja rock, pop, jazz, rap ou clássico.
Passei anos tentando encontrar o cd com a obra de César Franck em minhas viagens, mas acabei conseguindo aqui mesmo no Rio, há alguns anos, num sebo perto da Praça Tiradentes. Um sebo que literalmente foi pelos ares com a explosão de botijões de gás do restaurante ao lado. Ao longo de anos, adquiri ali vários cds raros, talvez dezenas, da minha extensa coleção. Hoje, no Rio, só resta uma loja de clássicos/jazz, a "Arquivo Musical", localizada na Travessa do Ouvidor. Mas a situação em São Paulo não é muito diferente. As únicas lojas de "clássicos" são as da Sala São Paulo e do bairro de Campo Belo, sede da editora que publica a Revista "Concerto". Fora isso, só é possível encontrar cds usados em alguns sebos espalhados pela cidade.




domingo, 20 de junho de 2021

Uma obra, mil leituras!

 

Réquiens são missas para os mortos, mas não fico nem um pouquinho triste ao ouvi-los. Aprecio essas obras como música pura, me abstraindo de sua motivação original.
Mozart (sombrio), Verdi (épico), Brahms (austero) e Berlioz (teatral) compuseram réquiens monumentais, mas prefiro os de Gabriel Fauré e Maurice Duruflé, ambos, coincidentemente (ou não?), franceses. São ternos, contidos e permeados de sincera e profunda espiritualidade, desprovidos, portanto, dos exageros retóricos comuns ao gênero.
Com seus comoventes réquiens, Fauré e Duruflé poderiam até não ter feito mais nada e ainda assim estariam eternizados por essas obras-primas do repertório sacro. Por isso mesmo, adoro colecionar e ouvir gravações desses réquiens. Em cada uma delas encontro algo diferente e revelador.
A gravação com a Orquestra Sinfônica de Atlanta (que recebi hoje), sob a regência de Robert Shaw, talvez seja a menos fiel ao espírito das obras de Fauré e Duruflé, originalmente contidas e discretas. Shaw reveste essas missas de uma retórica monumental até então típica do gênero, mas evitada pelos compositores franceses.
Afinal, a execução de uma obra musical deve sempre respeitar as "intenções" do autor contidas (ou não) na partitura?
Em que medida é legítimo fazer uma "leitura própria" de uma composição alheia?

domingo, 13 de junho de 2021

Haus der Musik, uma viagem musical!

 

Em 2017, visitei a "Haus der Musik", em Viena, uma espécie de museu da música, mais um numa cidade já repleta de museus dedicados à arte de Beethoven, Mozart, Bach e outros gênios.
Havia muitas crianças circulando pelas salas, e nenhuma delas parecia entediada. A oferta de atrações interativas no museu é enorme, o que estimula a participação dos mais jovens. Além disso, o ensino musical é uma tradição secular no país, daí também o interesse dos vienenses de todas as gerações por música clássica.
Em Viena, nasceram ou viveram grandes compositores, como Schubert, Johann Strauss (pai e filho), Mozart e Beethoven. Por isso mesmo, a "Haus der Musik" reserva um cantinho especial para cada um deles, destacando sua trajetória de vida e as obras mais consagradas.
O novo "museu", criado em junho de 2000, tem uma seção especial dedicada à história da lendária Orquestra Filarmônica de Viena, fundada em 1842, e de seus mais célebres regentes. Quem quiser ainda pode se aventurar a regê-la virtualmente, com direito até a certificado de "proficiência". Naturalmente, não perdi a oportunidade, e me saí bem!
Mas a "Haus der Musik" oferece muito mais. É um programa imperdível para quem visita a cidade e gosta de música, certamente a parcela majoritária dos turistas que lotam Viena ao longo do ano inteiro.



sábado, 12 de junho de 2021

Bateu saudade...

 

Bateu saudade...

Da infância em Cascadura...
Da vizinha, Dna. Maria...
Do campo das peladas na Vila Santo Antônio...
Da batata doce nas fogueiras de São João...
Da carambola, da goiaba, da manga, da jaca, da jabuticaba e do jamelão...
Do biquinho de lacre, do tiziu e do sabiá...
Da festa junina quando me "casei", do beijo roubado da "noiva" e até do bofetão que levei...
Do ruído do avião cruzando o céu azul a caminho da escola...
Do recreio nas aulas de alfabetização com D. Nilza...
Doces lembranças da infância...
Dizem que são as últimas que perdemos...
Certamente, são as melhores que temos.


sexta-feira, 11 de junho de 2021

Brasil, o país onde o futuro nunca chega!

 


Carta que enviei há 25 anos ao primo espanhol sobre a realidade brasileira. Será que as coisas mudaram muito por aqui?

"Rio de Janeiro, 20 de setembro de 1996

Primo, em sua última carta você me indaga a respeito dos problemas brasileiros. Acredito que nossas "elites" vêm fracassando frente ao desafio de construir um país verdadeiramente civilizado e democrático. Em todos os seus projetos, limitam-se apenas à conquista e à manutenção do poder e dos privilégios que se perpetuam ao longo de gerações. Um desses projetos produziu o "milagre econômico" da década de 70, que transformou o Brasil na 8ª economia do mundo ao custo de um imenso endividamento externo, priorizando a modernização do parque industrial do país, capaz hoje de produzir do mais simples isqueiro aos carros mais sofisticados, passando por armas leves e pesadas, eletroeletrônicos de última geração e jatos de guerra. Posso lhe garantir que não há qualquer produto disponível nas melhores lojas de Madrid e Barcelona (à exceção de souvenirs, claro!) que você não encontre no comércio das principais capitais brasileiras.
Tradicionalmente, os investimentos sociais no Brasil têm sido insuficientes para atender à crescente demanda de seguidas gerações, e ainda assim acabam diluídos pelos altos índices de corrupção existentes na sociedade brasileira. Além disso, a mecanização crescente dos postos de trabalho ocorrida nos últimos anos tem gerado uma traumática revolução no mercado de empregos. A mão de obra do país, pouco qualificada em função do baixo nível de instrução dos trabalhadores, não tem condições de manter-se empregada num contexto de economia globalizada e altamente competitiva, que se caracteriza pela busca incessante do setor produtivo por menor custo e maior qualidade de produtos e serviços. O histórico déficit educacional que provoca essa situação é a questão crucial que se discute atualmente no Brasil.
Por outro lado, por conta da enorme desigualdade econômica e social, a convivência entre pobres e ricos no Brasil não se dá sem traumas e tensões. No Rio, por exemplo, ao lado de edifícios luxuosos, temos as chamadas "favelas', comunidades quase sempre desprovidas de saneamento básico, segurança, serviços médicos e educação de boa qualidade, enfim, de um mínimo de dignidade. Tudo isso agravado com o crescimento do tráfico de drogas ali instalado, cujos líderes conseguem estabelecer um poder paralelo, desafiando as forças de segurança pública e a presença do Estado.
Esse quadro é sombrio, mas entendo que o Brasil tem um excelente potencial de desenvolvimento, considerando suas dimensões, riquezas naturais, unidade territorial e, principalmente, diversidade cultural e humana, derivada da formação mestiça do povo brasileiro.
Um forte abraço!"

quarta-feira, 9 de junho de 2021

Danke, Deutschland!

 


Os amigos mais próximos sabem da grande simpatia que tenho pela Alemanha. Apesar de brasileiríssimo, nascido e criado no Rio de Janeiro, desde adolescente me interesso pela Alemanha e tudo o que diz respeito aos germânicos, não só por suas qualidades e potenciais, destacadamente a arte, a cultura e a capacidade de organização, mas também pelo drama que marcou seguidas gerações após as atrocidades cometidas pelos nazistas na II Guerra.
Em 2006, há exatos 15 anos (09 de junho), eu chegava a Munique justamente no dia da abertura da Copa do Mundo no país, realizando um sonho de infância. Era uma bela manhã de primavera na capital da Baviera, e muito cedo a cidade já estava tomada por torcedores de várias nacionalidades, num contagiante clima de alegria e confraternização, regado, claro, a muita cerveja. Uma experiência única e indescritível!
Naquela viagem, em meus passeios pela Alemanha, foi possível perceber claramente o esforço do povo para escrever uma nova história de suas relações internas e com o mundo. Em todos os lugares onde estive, das grandes cidades às pequenas aldeias, sempre fui recebido com carinho e hospitalidade, atitude que refletia uma profunda conscientização dos alemães em relação aos tristes episódios protagonizados pelo país no passado recente. Além disso, foi possível perceber o resgate de símbolos nacionais até então frequentemente associados a um período sombrio da história alemã. Foi comovente ver crianças e jovens exibirem orgulhosamente a bandeira da Alemanha em carros, bicicletas e janelas, escrevendo um novo capítulo da história do país sem o peso da culpa carregada por gerações anteriores. Se cada um de nós tem o direito de errar, se redimir e seguir em frente, por que não uma nação inteira?
Por tudo isso, passados 15 anos, continuo rendendo minhas homenagens à Alemanha, um país que aprendi a admirar também por sua capacidade de superar adversidades e se reinventar. E agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de testemunhar tudo isso ao longo dos últimos 26 anos, desde a primeira visita realizada no longínquo ano de 1995.





terça-feira, 8 de junho de 2021

Hoffenheim, uma história singular!

 

Visita guiada ao Rhein-Neckar Arena (ou Pri-Zero Arena), estádio multiúso (acento horroroso, mas é o certo!) do Hoffenheim, clube da primeira divisão da Alemanha, com direito a guia falando em... alemão! Tudo bem, não entendi nada, mas visitei quase todas as instalações.
O estádio custou 65 milhões de euros (aprox. 400 milhões de reais!), menos de 1/3 do custo total da reforma do Maracanã para a Copa do Mundo. Ali, há alguns anos, assisti ao jogo Hoffenheim 1 x 4 Schalke 04, pela última rodada da Bundesliga. O time já estava livre do rebaixamento e até comemorou isso no final, apesar da goleada sofrida nos próprios domínios. Mas a festa estava garantida, com cerveja de graça pra todo mundo. Deixou saudade...
Localizado na pequena cidade de Sinsheim, com aproximadamente 35 mil habitantes, o estádio tem capacidade para 30 mil torcedores, ou seja, abriga quase a cidade inteira! Aliás, sua construção tem uma história singular. Um torcedor milionário, envergonhado com a derrota do time para uma equipe da terceira divisão, resolveu mudar a história do clube, construindo uma moderna arena multiúso e modernizando sua administração. 
Hoje, 12 anos depois da inauguração do estádio, o clube é supravitário e o time já disputa até vaga na Liga dos Campeões da Europa. Onde está o torcedor milionário do Flu?



Fim de uma era!

 


Depois de meses fechado por conta da pandemia, parece que está confirmado o encerramento das atividades dos cinemas Roxy, de Copacabana.
Não há como esquecer da era de ouro dos cinemas de rua no Rio, até o final dos anos 1970, quando as grandes estreias dos filmes de Hollywood eram aguardadas ansiosamente por multidões que faziam filas intermináveis nas portas dos cinemas para assistir. Era um tempo em que os filmes levavam anos para passar na TV. Não havia vídeo doméstico, inaugurado nos anos 80 com o finado formato VHS, e muito menos internet. Assistir a um filme no cinema com amigos ou com a namorada era um acontecimento social e cultural da maior importância. Nos subúrbios, era o ponto alto do fim de semana. Para a minha geração, um evento que rivalizava com as festinhas dos sábados e com os bailes de "discoteca" nos clubes.
Lembro muito bem de quando assisti à estreia de "Os Embalos de Sábado à Noite" num cinema de Madureira, em 1978. A fila dava voltas no quarteirão, e ninguém arredava pé dali. Isso durou vários finais de semana porque poderia levar anos até que a televisão programasse a exibição do filme.
Enfim, eram tempos em que ir ao cinema era um grande acontecimento, um verdadeiro ritual, principalmente para as classes populares. Hoje, o filme nem estreou nos cinemas e tem gente que já assistiu na internet.
A confirmação do fechamento das três salas do Roxy, os últimos cinemas de rua de Copacabana, como já houve de tantos outros no Rio, sepulta de vez a ideia do cinema como evento social no bairro e na cidade.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

Euro 2008: O "tiki-taka" e a consagração da "Fúria"!

 


Na próxima sexta-feira, dia 11, terá início a nova edição da Eurocopa, marcada inicialmente para o ano passado, mas adiada por causa da pandemia da covid-19. Ao assistir ao anúncio do SporTV, que cobrirá o evento, não pude deixar de lembrar dos dias agradáveis que passei na Alemanha durante a Eurocopa de 2008, naquele ano realizada conjuntamente por Suíça e Áustria.
Com os amigos alemães que vivem em Heidelberg, tive a oportunidade de assistir a vários jogos em bares e também nos famosos "biergartens", tradicionais jardins de cerveja encontrados em todo o país.
O dia da final entre Alemanha e Espanha, em Viena, foi naturalmente o mais marcante. Bem cedo, vestindo a camisa da seleção alemã, fui passear pela cidade com os amigos. Em pouco tempo, ruas, praças e bares estavam lotados de torcedores, quase todos exibindo as cores da Alemanha. Mais ou menos como acontece (ou acontecia) no Rio em dias de jogos do Brasil em Copas do Mundo.
Após o almoço, procuramos um bom local para assistir à partida. Como a Universidade estava lotada, nos instalamos num bar/restaurante bem no centro histórico de Heidelberg, que dispunha de um telão razoável, além de excelente cerveja, item indispensável no país a qualquer tempo e lugar.
Durante o jogo, no meio de centenas de alemães, até tentei torcer pela Alemanha, mas, ao lembrar dos primos de Barcelona e da minha saudosa avó espanhola, confesso que a missão se tornou impossível. Passei o tempo inteiro flertando com a neutralidade, uma tarefa inglória naquelas condições. No final, com a merecida vitória da Espanha, os alemães se comportaram muito bem, apesar de provocados por uma meia dúzia de espanhóis que visitavam a cidade.
Era o início de uma era de ouro para o futebol espanhol, que se consagraria campeão mundial dois anos depois, na África do Sul, e bicampeão europeu em 2012, na Ucrânia. Hoje, a "Fúria" não é nem sombra daquele time que encantou o mundo com um toque de bola envolvente e praticamente irresistível, o famoso "tiki-taka". Como tudo na vida, passou, mas deixou saudade!


domingo, 6 de junho de 2021

O Brasil e os brasileiros: as origens de nossa diversidade!

 


Em 2000, por ocasião dos festejos dos cinco séculos de "descobrimento" do Brasil, o IBGE publicou o livro "Brasil, 500 anos de Povoamento", que trata do fluxo migratório para o país ao longo da história.
A obra traz um capítulo inteiro (Sonhos Galegos - Os espanhóis no Brasil) sobre a imigração espanhola desde o período de colonização, mais recentemente (séculos XIX e XX) composta por habitantes da região da Galícia.
O interessante é que a história contada pela minha família a respeito das circunstâncias da chegada e dos primeiros anos no Brasil da vovó Evangelina assemelha-se, em muitos aspectos, ao relato contido no livro sobre o processo de integração dos espanhóis no território brasileiro. Na verdade, foi a primeira oportunidade que tive de ver minha vida sob uma perspectiva histórica, afinal, faço parte de uma geração que é fruto desse movimento migratório.
Um belo e oportuno projeto realizado pela equipe do CDDI (Centro de Documentação e Disseminação de Informações) do IBGE, instituição onde tive a honra de trabalhar por 35 anos, que preenche uma lacuna do mercado editorial sobre um tema fundamental para o conhecimento da formação do povo brasileiro e de sua (ou nossa) identidade.
Segue o link para acesso à publicação completa no site do IBGE.