quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Anos dourados do Brasil?


40 anos do primeiro verão do Circo Voador no Arpoador.
Evandro Mesquita, que integrava a banda Blitz, em entrevista agora no RJTV 2, quase caiu no choro lembrando daquela época. Pudera! Era o início da era de ouro do rock nacional. Com a ditadura em seus estertores, a juventude desfrutava de mais liberdade e vivia cada dia "como se não houvesse amanhã", incluindo muito sexo. Infelizmente, era também a época do surgimento do HIV, e muita gente boa ficou pelo caminho. Perdi amigos brilhantes da faculdade que fazem falta até hoje (farão sempre!). Paciência...
Mas foi também uma das melhores fases da minha vida. Eu diria que foi um maravilhoso início da vida adulta. Com vinte e poucos anos e um bom emprego (IBGE), sobrava grana pra fazer qualquer coisa. E o país flertava definitivamente com a democracia depois de vinte anos de ditadura militar.
Só quem era jovem naqueles tempos sabe como foi bom viver nos anos 1980. No Rio, em particular, era melhor ainda!
Saudade, muita saudade...


Refugiados e a crise humanitária

 

Considero o tema dos refugiados e da imigração em geral o mais delicado da atualidade. Na Alemanha, onde estive algumas vezes nos últimos anos, percebi claramente um clima hostil à política de acolhimento de refugiados implementada por Angela Merkel em 2015. Espero que esse livro revele como o povo alemão vem lidando com o recente movimento migratório para o país.
A quantidade de "deslocados" no mundo cresce de tal maneira que nos remete aos períodos mais sombrios da história, incluindo as duas grandes guerras do século XX.
Por motivos diversos, incluindo desastres naturais, conflitos e perseguições (os mais comuns), legiões de habitantes do planeta abandonam suas regiões de origem em busca de paz e sobrevivência. Em resposta a isso, os países mais ricos fecham as fronteiras na tentativa de proteger sua prosperidade e modo de vida, construídos, em muitos casos, com a dedicação e a força de trabalho de gerações de imigrantes, tratados hoje com desprezo e indiferença.
O conjunto de nações precisa encontrar uma solução concreta para o sério problema humanitário envolvendo refugiados, cujo agravamento põe em xeque o próprio conceito de civilização que conhecemos.
A construção de muros separando nações, como propôs Trump em relação ao México, é uma medida que nos remete à Idade Média, quando muralhas eram erguidas em torno de castelos e núcleos urbanos para afastar povos inimigos, e condena populações carentes a uma vida miserável e, pior, sem esperança.
Não é razoável que, em pleno século XXI, as nações mais desenvolvidas não consigam adotar medidas que atenuem o problema sem recorrer ao recurso egoísta de levantar muros para afastar indesejáveis.
Os mais recentes movimentos migratórios têm criado novas demandas para as nações recebedoras, gerando a necessidade de volumosos investimentos sociais, mas nada justifica a indiferença dos países mais ricos em relação ao destino de milhões de vítimas de conflitos ou da pobreza extrema como estamos vendo nos últimos anos.
Um mundo que se diz civilizado precisa aprender a compartilhar melhor suas riquezas, proporcionando aos seres humanos de quaisquer origens ou culturas a chance de buscar e encontrar a própria felicidade, seja lá o que isso efetivamente signifique para cada um de nós.

Alemanha, um país em reconstrução!


"Alemanha - Ano Zero" (1948), de Roberto Rossellini, é um filme pungente sobre as condições de (sobre)vida dos alemães na Berlim devastada pela guerra.
Três anos após o fim do conflito, a Alemanha era um país completamente destruído, material e moralmente. Não apenas perderam uma guerra; perderam uma guerra em que promoveram um dos maiores genocídios praticados nos tempos modernos. Além da vergonha da derrota, também a culpa colossal pelo mal provocado por conterrâneos, amigos e até familiares. Por anos e décadas, filhos e esposas descobrindo o papel inconfessável de pais e maridos numa guerra suja e abjeta, estúpida e injustificável.
Dá pra imaginar um povo nessas condições tendo que literalmente reconstruir um país inteiro? Um povo desprovido de tudo, até de comida, tendo que reerguer o país tijolo por tijolo, cada alma expiando a própria culpa envolta em escombros éticos e materiais?
O povo alemão, com justiça, também pagou um preço altíssimo pelo mal e pela barbárie que perpetrou contra a humanidade durante o conflito, mas não consigo imaginar como cada alemão sobrevivente, culpado ou inocente, encontrou forças para seguir em frente.
Certamente, essa pavorosa experiência, para o bem e para o mal, forjou indelevelmente o caráter do povo. Uma história trágica com cicatrizes que acompanharão para sempre cada alemão de todas as gerações do pós-guerra.
Compreendo isso como se tivesse feito parte dessa tragédia. Como ser humano e também simpatizante do país, sinto a culpa pelo mal inominável que produziram e também orgulho pela capacidade que demonstraram para, em tão pouco tempo, se reinventarem como poucas vezes se viu na História.
A Alemanha de hoje é um país desenvolvido e democrático, cujo povo, de maneira geral, desfruta de ótima qualidade de vida, mas sabe como poucos quanto isso lhe custou.
A história de um país forja o caráter de seu povo. No entanto, se todos somos intrinsecamente semelhantes, e não há razões científicas para discordar disso, é a trajetória de nossos ancestrais e a maneira como lidamos com a realidade que nos cerca que estabelece, inexoravelmente, as diferenças que distinguem cada povo dos demais.
Exatamente por isso, creio que não haverá paz no mundo enquanto não compreendermos quem somos, como indivíduos e como povo, e o que faz o "outro" ser quem (e como) é!


Mulheres e a "humanidade" que nos salva!

 

Após assistir (de novo) ao belo filme "Nebraska", com personagens femininas fortes, lúcidas, bem resolvidas e cheias de afeto, diferentemente de quase todos os homens da história, verdadeiros "trogloditas", lembrei de uma impressão que venho consolidando ao longo da vida.
Quanto mais eu vivo, assisto a filmes e leio livros me convenço de que devemos às mulheres de todas as gerações o pouco de compaixão e humanidade que ainda resta no mundo ou na civilização. Estou certo de que em nós, homens, talvez por maldição ancestral, reside quase toda a estupidez que Deus permitiu à espécie humana. Há exceções de ambos os lados, mas não passam de acidentes da natureza.

Consumismo e degradação do planeta!


Por que os economistas (ou os sabidões, como diz um amigo) nunca dizem a verdade sobre finanças pessoais e endividamento? Que compromissos eles têm com a atual "ordem econômica" mundial?
A principal razão pela qual as pessoas que têm renda (o que nesse país está virando um privilégio) se descontrolam financeiramente é o consumismo desenfreado.
Um consumismo que destrói o planeta com a produção crescente e obsessiva de matérias-primas, explora mão de obra barata nos países pobres, provoca o aquecimento global com o processo de industrialização e deixa as pessoas mais pobres e infelizes gastando o que não têm para comprar o que não precisam.
Muitos defendem tudo isso por conta da necessidade de gerar empregos e produzir "riquezas", mas será que não há modo mais "civilizado" de conferir a cada ser humano a dignidade a que tem direito sem falsas promessas de felicidade (consumo) e o comprometimento do futuro do planeta?


100 anos depois, retrocesso?

 

Em tempos de ataques sistemáticos à diversidade artística, cultural e humana no Brasil, não custa lembrar da "Semana de Arte Moderna", realizada em São Paulo, em 1922, uma iniciativa de artistas e intelectuais para inserir de vez o país na modernidade do novo século.
Desgraçadamente, o que vemos hoje no Brasil é um retrocesso que tenta nos colocar de novo no século XIX, em descompasso completo e vergonhoso com o mundo civilizado.
Que 2022 nos proporcione uma nova "revolução" capaz de banir definitivamente a estupidez que prolifera como um vírus nesse país.

Companheiro de viagem


Um dos melhores jornais do mundo deixa de publicar sua edição (digital) em português.
Conheci o "El País" nas visitas que fiz aos primos na Espanha.
Com uma linha editorial pautada nos melhores princípios humanistas (esquerda?), acabei me tornando leitor assíduo do jornal.
No início, era o maior companheiro de minhas viagens de trem na Europa, comprado sempre nas estações, antes do embarque.
Aqui no Brasil, vinha lendo a versão digital, de preferência a edição original mesmo, em espanhol, muito mais abrangente.
O fim da edição em português por motivos econômicos não deixa de ser um reflexo do "buraco" em que nos metemos nos últimos anos.



Sempre terei Paris...

 

"Cinderela em Paris" (agora no Cult), produzido em 1956, mostra a cidade dois anos antes de eu nascer. A sequência dos três protagonistas visitando os principais pontos turísticos matou um pouquinho da saudade. É curioso como Paris está no imaginário de tantas gerações como cidade das artes e do romance.
A propósito, conheci Paris "por acaso", ou quase isso. Nunca tive a menor curiosidade em relação à cidade, mas...
Em minha primeira viagem à Europa, saindo de Barcelona, o planejado era desembarcar em Paris apenas para pegar outro trem para Stuttgart, na Alemanha. Seria só o tempo de trocar de estações de trem para seguir viagem. Mas, incentivado por amigos que fiz em Barcelona, acabei reservando 4 dias na cidade. Foi uma das melhores decisões que tomei na vida. Gostei tanto que retornei mais 6 vezes.
Como tantos que a visitam, o sentimento é de que sempre terei Paris, pelo menos em minhas memórias.

Um clássico instantâneo!

Quando assisti pela primeira vez, já tinha mais de 20 anos, mas me marcou pra sempre!
O fato é que eu tive uma turma de amigos como essa na infância. E também éramos 4!
A grande qualidade do filme reside justamente aí. Trata de sentimentos como amizade e companheirismo, temas atemporais e universais!
O personagem que narra a história, um dos garotos já na meia-idade, diz que ninguém tem na vida adulta amizades como aquelas que costumamos ter na infância. Claro que não, e nem cabe essa comparação, mas que dá saudade, dá!


"Navegar é preciso, viver não é preciso!"

 

Fui mochileiro uma vez, justamente na primeira viagem, em 1995. Atravessei a Europa de trem passando por 5 países (de Portugal a Áustria), me hospedei em Albergues da Juventude e encontrei gente que jamais conheceria de outra maneira. Uma viagem de profundas descobertas a respeito do mundo (ou dos outros) e de mim mesmo. Certamente a viagem mais memorável que fiz em todos esses 26 anos. Um verdadeiro divisor de águas na minha vida.
Como já disse outras vezes, todo mundo, de preferência ainda jovem, deveria ter essa oportunidade. Aumenta a autoconfiança e nos torna mais "tolerantes" com a diversidade humana.
Uma experiência que prepara para a vida como nenhum livro ou biblioteca inteira é capaz de proporcionar.

Baaria, Cinema e História!


Em 2009, Tornatore retomou a atmosfera romântica e bem-sucedida de "Cinema Paradiso", lançando a superprodução "Baaria - A Porta do Vento", supostamente uma continuação do filme anterior (para alguns, uma refilmagem).
A nova produção, que acabo de rever na HBO Mundi, conta a história de três gerações de uma família também siciliana, traçando um painel da cena política italiana ao longo de 50 anos, com foco no romance entre os jovens Peppino e Mannina e na trajetória de vida do protagonista, desde a infância nos anos 30 até a maturidade, com a consolidação de sua carreira política no Partido Comunista.
Mas o aspecto social do filme, que contrasta com o clima intimista de "Cinema Paradiso", não é de todo resolvido. Quando a história parece evoluir para um aprofundamento do contexto político, o roteiro retorna às questões mais pessoais e afetivas do personagem, relegando a um plano secundário passagens relevantes da história contemporânea da Itália que contribuem para sua formação.
De todo modo, a criativa e comovente sequência final do filme absolve a produção de todos os seus possíveis pecados. Inesquecível!!