quinta-feira, 21 de março de 2024

Wagner, anjo ou demônio?

 

Em Bayreuth, na Baviera, diante do teatro construído exclusivamente para a montagem das óperas de Richard Wagner

Richard Wagner foi o maior manipulador da história da música. A cada vez que ouço uma obra sua encontro algo diferente e terrivelmente sedutor.  Nenhum compositor, até hoje, fez uso de tamanho domínio da linguagem musical para envolver e "subjugar" o ouvinte como o "diabólico" Wagner. 
O que Hitler obteve pelas armas com os inimigos (e os próprios alemães), Wagner, décadas antes, conquistou apenas com sua música hipnótica e arrebatadora.
O compositor era tão genial que alguns trechos de suas óperas, em especial as últimas, são infinitamente mais bonitos em versão orquestral do que com o canto, no formato original.
É o caso, por exemplo, da ária "Morte de Isolda", no final de "Tristão e Isolda". Com a performance puramente orquestral é possível atingir um tal nível de êxtase e transcendência que, ouso afirmar, o próprio e célebre canto de Isolda não logra alcançar. E olha que já ouvi várias versões (tradicionais e modernas) da obra!

Anjo ou demônio?

O fato é que Wagner foi um dos maiores gênios da humanidade. Não só pela qualidade de sua música, o que já seria suficiente, mas também pela profundidade e alcance de sua proposta artística, sustentada pelas belíssimas composições que criou. Wagner, além de músico, foi um dos maiores intelectuais do século XIX, a despeito de ter se revelado também um homem de caráter duvidoso, que traiu amigos, enganou credores e até manipulou o rei para pôr em prática suas concepções artísticas. Talvez por isso mesmo, por suas flagrantes contradições, seja uma das personalidades mais fascinantes da história. Infelizmente, sua apropriação pelo regime nazista, por conta de seu comprovado antissemitismo (até um livro ele escreveu!), acabou por reduzir a importância de Wagner apenas à dimensão musical de sua obra artística e intelectual. Isso está muito aquém do que Wagner representa para a arte ocidental.

A Tetralogia de Wagner

A tetralogia "O Anel de Nibelungo" é toda permeada por uma questão (ou dilema) tão presente na época do compositor quanto nos dias de hoje. PODER ou AMOR, o que move o ser humano em sua busca pela felicidade? Você seria capaz de abdicar do Amor (em todas as suas dimensões) em troca de Poder ou de riqueza, ou vice-versa?
Baseado nesse dilema fundamental, Wagner escreveu 4 óperas (O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses), ao longo de 26 anos, contando a história do mundo desde sua aurora até a destruição total. Uma obra essencial, não só da música, mas da arte ocidental, para compreender os valores básicos da nossa civilização. Infelizmente, uma obra só conhecida pelos iniciados na "Gesamtkunstwerk" ou "Obra de Arte Total", genialmente concebida por Wagner há mais de 150 anos.


2 comentários:

  1. Partilhamos das mesmas percepções em relaçao ao Wagner. A música sempre me emociona mais do que os outros elementos, que compôem as óperas. Ele é o maior de todos.
    Paulo Borsatto

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    1. Saudade de Bayreuth... além de toda essa história, é uma das mais belas cidades da Baviera. Adorei a atmosfera.

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