quinta-feira, 14 de março de 2024

À professora, com saudade...

Pouco depois de receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1957, Albert Camus teria enviado essa carta a Louis Germain, seu professor primário.

"19 de novembro de 1957
Querido Sr. Germain:
Esperei que se apagasse um pouco do ruído que me rodeou todos esses dias antes de lhe falar de todo o coração. Recebi uma honra muito grande, que não busquei nem pedi, mas, quando soube da notícia, pensei primeiro em minha mãe e depois em você. Sem você, sem sua instrução e sem seu exemplo nada disso teria acontecido. Não é que eu dê demasiada importância a uma honra deste tipo. Mas, pelo menos, isso me dá a oportunidade de dizer-lhe o que você foi e continua sendo para mim, e para confirmar que seus esforços, seu trabalho e seu coração generoso continuam sempre vivos em um de seus pequenos alunos, que nunca deixou de lhe ser agradecido, em que pese a passagem dos anos.
Abraço com todas as minhas forças.
Albert Camus"

Nunca ganhei um Nobel ou qualquer prêmio em minha vida simples e "anônima", mas eu diria algo parecido à querida e já há muito falecida D. Elsie Pontes Nascimento, minha professora em três séries do primário. A última delas acabou por me "impor" o primeiro grande compromisso na vida, ainda com tenros 11 anos de idade. Uma experiência provavelmente responsável por boa parte do que sou hoje, ou pela melhor face de meu próprio caráter. Mas essa é uma outra história...
A verdade é que, a meu juízo, o legado maior que D. Elsie me deixou não foi a instrução ou o conhecimento. O que mais aprendi com ela e com nenhuma outra professora em meus anos de estudante foi o valor do CARINHO e do AFETO, algo que permeia, ainda que discreta ou timidamente, minhas relações ao longo de toda a vida.
D. Elsie faleceu de câncer há quase 53 anos, três meses após a última vez que a vi, em dezembro de 1970, na porta da escola, justamente no dia em que fui saber se havia "passado de ano". Assim que me viu, em voz alta, ela disse: - o que você está fazendo aqui, rapaz? Claro que você passou!
Foram as últimas palavras que dirigiu a mim. Eu tinha apenas 12 anos, mas jamais me esqueci daquele momento, de sua expressão e daquelas palavras.
Gostaria de dar esse testemunho para o mundo inteiro, mas, como minhas chances de receber um prêmio, como Camus, são as mesmas de ganhar na "Mega Sena", aproveito a oportunidade para prestar essa singela homenagem à D. Elsie com os próprios amigos.



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