quinta-feira, 28 de março de 2024

Coimbra, vovô português e o "bacalhau com natas"!

 

Fui a Coimbra de trem em meu antepenúltimo dia de estada em Portugal, em maio de 1995.
O dia estava lindo e a expectativa de conhecer uma das mais tradicionais e antigas cidades universitárias do mundo, fundada no século XIII, se confundia (ou misturava) com a emoção de estar prestes a visitar a cidade natal do meu avô José Maria, que faleceu quando eu não tinha nem 10 anos. Segundo meu pai e meus tios/tias, ele dizia que era de lá, mas, que eu saiba, nunca deu detalhes da família de Portugal nem de suas verdadeiras origens no país.
Tenho poucas lembranças do meu avô, sempre muito sério e arredio. Quando a família se reunia em sua casa, na Páscoa, no aniversário da vovó Evangelina e no Natal, ele se "refugiava" no quarto dos fundos. Infelizmente, além de uma pequena bola que ele me deu numa dessas visitas, essa é a mais viva lembrança que tenho do meu avô português.
Voltando a Coimbra, quando cheguei à cidade, por volta das 2 e meia da tarde, a primeira coisa que fiz foi procurar por um restaurante para almoçar. Pelo avançado da hora, a maioria já estava fechada. Por sorte, encontrei um aberto bem no centro histórico, embora, àquela altura, só os próprios funcionários (garçons/garçonetes) ainda almoçassem.
Ao me ver, uma senhora de meia-idade parou de comer, se levantou e veio em minha direção. Um pouco envergonhado, perguntei se ainda serviam refeições àquela hora. Com a resposta afirmativa, resolvi pedir um prato comum, do qual, para ser sincero, já nem me lembro mais.
Durante a refeição, por curiosidade, perguntei à mesma senhora em que consistia o tal "bacalhau com natas" que constava no menu. Gentilmente, ela me explicou os ingredientes e, para minha surpresa, foi até a cozinha e retornou com o referido prato, segundo ela, apenas para degustação, portanto, uma oferta da casa!
Embora já estivesse satisfeito com o "prato" que havia acabado de comer, experimentei e realmente gostei do, então, misterioso "bacalhau com natas". Apreciei mais ainda a simpatia e a generosidade daquela senhora portuguesa que, interrompendo sua própria refeição, atendeu um turista brasileiro retardatário, esfomeado e "ignorante", e ainda lhe ofereceu gratuitamente um dos principais pratos da casa para experimentar.
Contudo, ao pagar a conta, há uma coisa que fiz (ou que não fiz!) e da qual me envergonho até hoje. Já no final da viagem e com poucos escudos disponíveis, ofereci a ela apenas a gorjeta protocolar de 10%. A ocasião merecia um pouco mais de generosidade também da minha parte. Imperdoável!
Essa foi apenas a primeira, talvez a mais trivial, das inúmeras lições que aprendi nesses quase 30 anos de viagens.
Lições de vida que não aprendemos nos livros!

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