segunda-feira, 10 de março de 2014

A "batalha das flores" em Viena e a anexação da Áustria




Um das páginas mais tristes e vergonhosas da história da Áustria, outrora sede de um dos últimos impérios europeus, começou a ser escrita no dia 13 de março, há 76 anos, na que ficou conhecida como blumenkrieg, ou "Batalha das Flores", quando uma multidão de 250 mil austríacos, em delírio e portando flores, recebeu Hitler em Viena. Era o início da anschluss, a anexação da Áustria pelo III Reich alemão.
Por muitos anos, a Áustria preferiu posar de vítima, transferindo toda a responsabilidade do evento para o país vizinho. Somente nas últimas décadas do século passado o país resolveu encarar os fatos e assumir seu triste papel na II Guerra, promovendo na sociedade uma visão mais crítica em relação ao nazismo e à perseguição aos judeus durante o conflito. 
Segundo o austríaco Oliver Rathkolb, professor de História Contemporânea da Universidade de Viena, em entrevista à TV alemã "Deutsche Welle", há ainda na Áustria, e na própria Alemanha, uma forte tendência dos mais jovens de "colocar um ponto final no assunto", o que é até compreensível, já que não tiveram qualquer participação nos eventos infames daquele período. Exatamente por isso, Rathkolb acredita que, a cada dez anos, a dolorosa história protagonizada pelos dois países deve ser "rediscutida e reelaborada para a geração seguinte".




10 comentários:

  1. Na verdade não há nada de vergonhoso. A Áustria sempre fez parte da Alemanha, seja no império sacro romano-germânico e, depois, na reunificação do império alemão por Otto Von Bismarck. Os austríacos sempre tiveram essa identificação com Alemanha, seja na língua, na cultura e na questão prussiana. A população recebeu as tropas do exército alemão com flores e sorrisos. Estavam agradecidos por fazer parte daquela reunificação histórica.

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  2. Ninguém imaginava o que estava por vir com o andamento da guerra (que ainda não existia, pois só teve seu início um ano depois); não poderiam prever os desmandos e insanidades que foram cometidos posteriormente.

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  3. É preciso ressaltar que a perseguição aos judeus na Alemanha começou bem antes da anexação da Áustria, ocorrida em março de 1938, com destaque para a aprovação das "Leis de Nuremberg", em 1935, que excluíram claramente os judeus da vida nacional. Embora, na época, a comunicação internacional não se desse de forma instantânea, ou em tempo real, como acontece hoje com a internet, considero frágil o argumento de que os cidadãos austríacos, em geral, não tinham conhecimento dos acontecimentos no país vizinho, controlado pelos nazistas desde 1933. Além disso, parcela significativa da sociedade austríaca era tão antissemita quanto os alemães, e não estava preocupada com o destino dos judeus, ainda que seja razoável supor que, em 1938, não soubesse dos planos para a "solução final". O fato é que, com o país atravessando uma crônica crise econômica desde o final da I Guerra, os austríacos acabaram majoritariamente seduzidos pela promessa de uma prosperidade prevista para durar "1000 anos".
    Contudo, reconheço a complexidade do contexto histórico em que se deram os acontecimentos naquela época. Por isso mesmo, não se trata aqui de condenar a Áustria ou seus cidadãos de 1938, e muito menos os de agora, mas de destacar o motivo pelo qual muitos deles poderiam se sentir envergonhados por aquele triste episódio envolvendo seu país.
    Em tempo, não sou judeu e adoro a Áustria, país que visito com relativa frequência e onde costumo ser muito bem recebido.

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  4. Desculpe, Écio, mas você está colocando que, uma vez sabendo da perseguição aos judeus, os austríacos deveriam repelir a anexação? E não o fizeram porque eram tão antissemitas como os alemães? O mesmo teria ocorrido com os Sudetos, na Antiga Checoslováquia?

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    1. Longe de mim a pretensão de dizer o que os austríacos deveriam fazer. Eles mesmos já se ocupam há décadas desse debate. Por outro lado, se você tem a intenção de "absolver" a Áustria da acusação de cumplicidade com os nazistas ao receber Hitler com flores, terá muito trabalho pra convencer os próprios austríacos disso.

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  5. Isso é impossível, porque a "culpa alemã" está incrustada na Áustria, nos livros de história, escritos pelos vencedores, que as crianças leem na escola. Mas eles nada devem, assim como os italianos, os búlgaros e os japoneses nada devem. Mas a Áustria é vizinha, fala Alemão, fez parte do império alemão; teve que assinar embaixo do texto que lhes foi ditado. E o próprio povo alemão nada deve. Quem devia foi julgado e executado em Nuremberg - aliás, um julgamento, ao meu ver, ilícito, pois toda a corte era composta pelos aliados, e não por uma nação que se manteve neutra no conflito. Seria como, numa querela judicial entre mim e você, eu fosse o juiz.

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  6. Houve crime de guerra e genocídio, e o povo austríaco não deve se culpar por isso.

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    1. A discussão sobre a culpa dos alemães durante o período do nazismo pode ser legítima, mas também perigosa. E minha opinião sobre essa questão pode ser conferida no post "A revisão do passado sombrio de Heidegger" (http://eciopedro.blogspot.com.br/2014/03/os-escritos-autobiograficos-de.html).
      Respeito sua opinião e acredito em sua boa-fé na tentativa de encontrar (ou estabelecer) a verdade, mas não concordo com sua tese. É claro que muitos alemães da época e todas as gerações subsequentes não devem ser responsabilizados por possíveis ações e omissões dos antepassados. Isso seria uma tolice! Mas a Alemanha como país sim. O genocídio da II Guerra é uma cicatriz que, para o bem da Alemanha, da Europa e de todo o mundo ocidental, não deve ser removida.
      Com a crise econômica dos últimos anos, temos visto o surgimento de movimentos sociais de extrema-direita, não só na Alemanha, mas em vários países da Europa, flertando quase todos com racismo, xenofobia e a chaga maior do continente em séculos, o antissemitismo. Portanto, a lembrança dos tristes acontecimentos de 70 anos atrás deve ser um compromisso permanente da Alemanha com seus cidadãos e com o resto do mundo, de modo a conscientizar as novas gerações das atrocidades cometidas contra milhões de seres humanos num passado tão recente.
      Aproveito a oportunidade para ressaltar que desde muito jovem nutro uma profunda admiração pela Alemanha, o que inclui a própria Áustria, já que os dois países compartilham a mesma e fascinante cultura germânica (embora meus amigos alemães torçam o nariz pra isso). Possuo dezenas de livros sobre o país, particularmente o período sombrio da II Guerra. Sem contar filmes, documentários e uma coleção vastíssima de cds com obras de Wagner (meu preferido), Bach, Beethoven, Brahms, Schumann, Mendelssohn etc. E visito a Alemanha praticamente todo ano para rever amigos e passear por suas belas cidades e paisagens.
      Destaco tudo isso para deixar claro que, apesar de admitir os graves erros cometidos pelo país no passado, reconheço e admiro as qualidades de uma nação que soube se reinventar de maneira invejável em tão pouco tempo, após ser completamente devastada. Em resumo, sinceramente, não conheço um brasileiro que goste mais da Alemanha do que eu!!

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  7. Écio, só lembrando que o antissemitismo não surgiu no nazismo, como também não foi uma peculiaridade da Alemanha, mas em muitos países da Europa, da Rússia a Portugal, desde os primórdios do século XIX. Mesmo Wagner, seu compositor preferido (um dos meus também) nutria notória antipatia pela imiscuição da cultura judaica na germânica. E creio que não devemos atribuir esta nova onda de intolerância ao passado da Alemanha, claro, serve de alerta - o racismo não deve ter lugar no mundo. Mas acredito que a população desses países, do período da segunda guerra, não deve carregar uma culpa pelo fim dos tempos por conta de um regime insano que, para o bem de todos, não prosperou.

    Li seu artigo sobre Heidegger e, realmente, não compreendo como você e tantos outros se desagradam com "essa onda revisionista". A História é viva, não está enterrada no passado - como muitos querem. E os historiadores, jornalistas, estudiosos, curiosos, enfim, devem ser livres para vasculhar os acontecimentos e elaborar suas teses a partir de informações que permaneceram obumbradas no tempo. O perigo está em cercear a contestação, em perseguir e expulsar os revisionistas. Há aqueles que negam o holocausto (acho insano), como há aqueles que questionam seus números (não vejo problema algum). Mas quando se criam leis que proíbem esse questionamento, dá-se a impressão de que há algo a esconder. A verdade é que a História é escrita pelos vencedores, e é absolutamente inconveniente que seja contestada.

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    1. Concordo quando você afirma que "a História é viva, não está enterrada no passado", e que historiadores, jornalistas, estudiosos e curiosos devem ter plena liberdade para "vasculhar os acontecimentos". Não me parece que isso esteja em discussão. Não creio, porém, que ainda haja algo a ser revelado sobre o período do nazismo que seja capaz de absolver os alemães dos crimes hediondos cometidos na II Guerra. Por conta disso, minha preocupação, como a de tantos outros interessados no assunto, é com o revisionismo mal-intencionado, o qual descrevo claramente em comentário sobre Heidegger que publiquei em post anterior.

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