domingo, 20 de junho de 2021

Uma obra, mil leituras!

 

Réquiens são missas para os mortos, mas não fico nem um pouquinho triste ao ouvi-los. Aprecio essas obras como música pura, me abstraindo de sua motivação original.
Mozart (sombrio), Verdi (épico), Brahms (austero) e Berlioz (teatral) compuseram réquiens monumentais, mas prefiro os de Gabriel Fauré e Maurice Duruflé, ambos, coincidentemente (ou não?), franceses. São ternos, contidos e permeados de sincera e profunda espiritualidade, desprovidos, portanto, dos exageros retóricos comuns ao gênero.
Com seus comoventes réquiens, Fauré e Duruflé poderiam até não ter feito mais nada e ainda assim estariam eternizados por essas obras-primas do repertório sacro. Por isso mesmo, adoro colecionar e ouvir gravações desses réquiens. Em cada uma delas encontro algo diferente e revelador.
A gravação com a Orquestra Sinfônica de Atlanta (que recebi hoje), sob a regência de Robert Shaw, talvez seja a menos fiel ao espírito das obras de Fauré e Duruflé, originalmente contidas e discretas. Shaw reveste essas missas de uma retórica monumental até então típica do gênero, mas evitada pelos compositores franceses.
Afinal, a execução de uma obra musical deve sempre respeitar as "intenções" do autor contidas (ou não) na partitura?
Em que medida é legítimo fazer uma "leitura própria" de uma composição alheia?

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