sexta-feira, 11 de junho de 2021

Brasil, o país onde o futuro nunca chega!

 


Carta que enviei há 25 anos ao primo espanhol sobre a realidade brasileira. Será que as coisas mudaram muito por aqui?

"Rio de Janeiro, 20 de setembro de 1996

Primo, em sua última carta você me indaga a respeito dos problemas brasileiros. Acredito que nossas "elites" vêm fracassando frente ao desafio de construir um país verdadeiramente civilizado e democrático. Em todos os seus projetos, limitam-se apenas à conquista e à manutenção do poder e dos privilégios que se perpetuam ao longo de gerações. Um desses projetos produziu o "milagre econômico" da década de 70, que transformou o Brasil na 8ª economia do mundo ao custo de um imenso endividamento externo, priorizando a modernização do parque industrial do país, capaz hoje de produzir do mais simples isqueiro aos carros mais sofisticados, passando por armas leves e pesadas, eletroeletrônicos de última geração e jatos de guerra. Posso lhe garantir que não há qualquer produto disponível nas melhores lojas de Madrid e Barcelona (à exceção de souvenirs, claro!) que você não encontre no comércio das principais capitais brasileiras.
Tradicionalmente, os investimentos sociais no Brasil têm sido insuficientes para atender à crescente demanda de seguidas gerações, e ainda assim acabam diluídos pelos altos índices de corrupção existentes na sociedade brasileira. Além disso, a mecanização crescente dos postos de trabalho ocorrida nos últimos anos tem gerado uma traumática revolução no mercado de empregos. A mão de obra do país, pouco qualificada em função do baixo nível de instrução dos trabalhadores, não tem condições de manter-se empregada num contexto de economia globalizada e altamente competitiva, que se caracteriza pela busca incessante do setor produtivo por menor custo e maior qualidade de produtos e serviços. O histórico déficit educacional que provoca essa situação é a questão crucial que se discute atualmente no Brasil.
Por outro lado, por conta da enorme desigualdade econômica e social, a convivência entre pobres e ricos no Brasil não se dá sem traumas e tensões. No Rio, por exemplo, ao lado de edifícios luxuosos, temos as chamadas "favelas', comunidades quase sempre desprovidas de saneamento básico, segurança, serviços médicos e educação de boa qualidade, enfim, de um mínimo de dignidade. Tudo isso agravado com o crescimento do tráfico de drogas ali instalado, cujos líderes conseguem estabelecer um poder paralelo, desafiando as forças de segurança pública e a presença do Estado.
Esse quadro é sombrio, mas entendo que o Brasil tem um excelente potencial de desenvolvimento, considerando suas dimensões, riquezas naturais, unidade territorial e, principalmente, diversidade cultural e humana, derivada da formação mestiça do povo brasileiro.
Um forte abraço!"

2 comentários:

  1. É, meu amigo, o país parece aquelas enceradeiras antigas: roda, roda, roda e não sai do lugar. Só pra retroceder aos seus piores momentos, como tem acontecido nos últimos anos. O único item que creio tenha ficado para trás é o tal poder paralelo, pois já sabemos há um bom tempo já que a bandidagem é o poder neste país. Mas continuamos acreditando em dias melhores, sigamos fazendo a nossa parte. Abração.

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