sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Uma vaga lembrança


Minha irmã vive fazendo relatos detalhados de episódios ocorridos em nossa infância em Cascadura, onde moramos por duas décadas, antes de nos mudarmos para Vila Isabel.
Com uma memória prodigiosa, ela se lembra de tudo e de todos, e sempre que somos informados da morte/acidente/doença de um antigo colega, amigo ou vizinho ela desanda a citar fatos e nomes do passado, dos quais não guardo qualquer recordação.
Infelizmente, desde criança, tenho uma memória extremamente seletiva, que teima em só registrar fatos e pessoas diretamente ligadas ao meu cotidiano ou às passagens mais marcantes de minha vida, desprezando solenemente os demais acontecimentos, que eu chamo de periféricos. Eu acho que, em alguma medida, isso acontece com todo mundo, mas comigo o processo parece ser radical, a ponto de me deixar em situações constrangedoras.
Uma delas ocorreu há alguns anos. Por iniciativa própria, consegui reunir quatro amigos que não via há exatos 30 anos. Eram três colegas da Escola Técnica e a irmã de um deles, que todos conheciam bem por causa dos trabalhos de grupo que fazíamos na casa de um e de outro, durante os três anos do curso. Após esse longo período, eu estava ansioso para revê-los, pois guardava (ainda) algumas lembranças daqueles anos dourados do 2º grau.
Inicialmente, foi possível estabelecer um bate-papo agradável sobre os acontecimentos da época. Aos poucos, uma lista infindável de nomes e fatos, alegres ou dramáticos, foram recuperados pelos quatro, sempre enriquecidos por detalhes curiosos e, algumas vezes, picantes a respeito dos protagonistas. O problema é que, a cada vez que me perguntavam - lembra disso ?, aumentava meu constrangimento por não recordar nada daqueles episódios supostamente tão memoráveis. Com o passar do tempo, era cada vez maior a impressão de que estavam diante de um impostor, e não mais do Ecio que todos conheceram um dia.
O fato é que, ao final do encontro, a única coisa da qual eu tinha certeza mesmo era que os conhecia, embora não estivesse mais tão certo de onde ou como exatamente.

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