quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A perda de um "amigo" desconhecido



Curtindo o final das férias, e com o dia chuvoso convidando para ficar em casa, resolvi assistir hoje à tarde, mais uma vez, ao ótimo filme alemão "A Vida dos Outros " (Das Leben der Anderen), ganhador do Oscar de filme estrangeiro de 2007. A história mostra o processo de transformação vivido por um agente da Stasi, polícia secreta da Alemanha Oriental, em 1984, nos estertores do socialismo. Interpretado pelo excelente ator Ulrich Mühe, o policial resolve vigiar todos os passos de um casal formado por uma atriz e um autor teatral (Martina Gedeck e Sebastian Koch), embora ambos sejam considerados cidadãos acima de qualquer suspeita. Implacável defensor do sistema, o personagem vai aos poucos simpatizando com os investigados, a ponto de arriscar seriamente a missão e a própria carreira. Mais não conto para não estragar a surpresa da história para aqueles que ainda não assistiram.
O fato é que a cena final do filme, concluída com um close no rosto do personagem de Mühe, é simplesmente arrebatadora. Lembro muito bem que, ao assistir pela primeira vez, durante os créditos, acompanhados pela belíssima trilha sonora de Gabriel Yared, peguei o jornal para ler a coluna semanal do Arthur Dapieve, do Globo, que comentava sobre a produção e o elenco. Na ocasião, ainda sob o efeito da música de Yared, soltei um sonoro palavrão e fiquei arrasado ao saber que o ator havia falecido apenas alguns meses após a conclusão do filme. É como se estivesse recebendo a notícia da morte de um amigo pelo jornal.
Curioso como o cinema tem esse poder. Aliás, esse é o grande privilégio de atores/atrizes, que colecionam milhares (ou milhões!!) de "amigos" no mundo inteiro, quase todos, claro, completamente desconhecidos. Quando gostamos de um personagem e se estabelece essa poderosa empatia é como se ficássemos íntimos do artista, e a notícia de sua morte, em especial quando acabamos de ver o filme, só pode mesmo provocar essa estranha, mas legítima, sensação de perda. Para o bem ou para o mal, isso também faz parte da magia do cinema.

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