quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Alemanha, um país em reconstrução!


"Alemanha - Ano Zero" (1948), de Roberto Rossellini, é um filme pungente sobre as condições de (sobre)vida dos alemães na Berlim devastada pela guerra.
Três anos após o fim do conflito, a Alemanha era um país completamente destruído, material e moralmente. Não apenas perderam uma guerra; perderam uma guerra em que promoveram um dos maiores genocídios praticados nos tempos modernos. Além da vergonha da derrota, também a culpa colossal pelo mal provocado por conterrâneos, amigos e até familiares. Por anos e décadas, filhos e esposas descobrindo o papel inconfessável de pais e maridos numa guerra suja e abjeta, estúpida e injustificável.
Dá pra imaginar um povo nessas condições tendo que literalmente reconstruir um país inteiro? Um povo desprovido de tudo, até de comida, tendo que reerguer o país tijolo por tijolo, cada alma expiando a própria culpa envolta em escombros éticos e materiais?
O povo alemão, com justiça, também pagou um preço altíssimo pelo mal e pela barbárie que perpetrou contra a humanidade durante o conflito, mas não consigo imaginar como cada alemão sobrevivente, culpado ou inocente, encontrou forças para seguir em frente.
Certamente, essa pavorosa experiência, para o bem e para o mal, forjou indelevelmente o caráter do povo. Uma história trágica com cicatrizes que acompanharão para sempre cada alemão de todas as gerações do pós-guerra.
Compreendo isso como se tivesse feito parte dessa tragédia. Como ser humano e também simpatizante do país, sinto a culpa pelo mal inominável que produziram e também orgulho pela capacidade que demonstraram para, em tão pouco tempo, se reinventarem como poucas vezes se viu na História.
A Alemanha de hoje é um país desenvolvido e democrático, cujo povo, de maneira geral, desfruta de ótima qualidade de vida, mas sabe como poucos quanto isso lhe custou.
A história de um país forja o caráter de seu povo. No entanto, se todos somos intrinsecamente semelhantes, e não há razões científicas para discordar disso, é a trajetória de nossos ancestrais e a maneira como lidamos com a realidade que nos cerca que estabelece, inexoravelmente, as diferenças que distinguem cada povo dos demais.
Exatamente por isso, creio que não haverá paz no mundo enquanto não compreendermos quem somos, como indivíduos e como povo, e o que faz o "outro" ser quem (e como) é!


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