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Com a prima Elisa, em Barcelona, diante da catedral "Sagrada Família", de Gaudí. |
Conheci Barcelona em minha primeira viagem à Europa. Naquele longínquo maio de 1995, quando atravessei de trem, com mochila nas costas, cinco países (Portugal, Espanha, França, Alemanha e Áustria), conhecendo novos lugares e pessoas de diferentes culturas, vivi emoções inéditas que mudariam a minha vida.
Mas vou tratar aqui apenas da minha experiência com os primos espanhóis, dos quais nunca tinha ouvido falar até poucos meses antes daquela visita. Foi minha querida e já falecida tia Aurinha, de quem me aproximei bastante em seu final de vida, exatamente por conta desse novo contato com os primos, que me forneceu as informações básicas a respeito da família Saeta e dos tempos em que viveu na Espanha, no final da década de 1920. Ninguém por aqui se lembrava tão bem quanto ela da aventura dos meus avós, que colocaram a família inteira num navio, retornando à Galícia numa época em que a região ainda atravessava uma fase de muita pobreza, com poucas perspectivas econômicas.
Voltando a 1995, após passar alguns dias em Lisboa, minha primeira escala na Europa, hospedado na casa de uma amiga brasileira, na noite de 08 de maio (2ª feira) embarquei no trem que me levaria a Madrid e posteriormente a Barcelona, a cidade da moda na época, em função da Olimpíada realizada em 1992.
Naquela oportunidade, eu estava chegando à cidade para conhecer os primos espanhóis com os quais minha família já não fazia contato há décadas! Para mim, era tudo novidade e representar, ainda que informalmente, a família Saeta que se estabelecera no Brasil no início do século XX era uma grande responsabilidade.
Ainda me lembro muito bem da prima Elisa e de Aquilino, seu marido, na noite de 9 de maio de 1995, uma terça-feira, me encontrando na estação de trem de Sants e, logo em seguida, me levando para sua casa para conhecer os três filhos, ainda bem jovens, e Martin, o irmão de Elisa. Era o início de uma relação de amizade que se consolidou ao longo dos anos e da qual muito me orgulho até hoje.
No ano seguinte (1996), a convite de Elisa, fui passar as férias na Forxa, um pequeno povoado bem próximo de Ginzo de Límia (Ourense-Galícia), terra natal da minha avó Evangelina, para conhecer seu pai José, primo de primeiro grau de meu pai, e sua mãe Esther, ambos já falecidos. José e Esther me receberam muito bem, o que me deixou à vontade para retornar nos anos seguintes, sempre com grande prazer. Guardo de ambos as melhores lembranças, principalmente de Esther, uma pessoa dotada de enorme vitalidade, que dava conta de tudo na casa (e ainda ajudando na colheita de pimentões e batatas), apesar da idade já avançada. Tenho certeza de que em alguma outra dimensão voltaremos a nos encontrar. Acredito que a história que escrevemos ao lado das pessoas que amamos não se esgota na vida frágil e transitória de que desfrutamos neste mundo. Os laços afetivos e a verdadeira amizade permanecem por toda a eternidade.
O fato é que os saudosos José e Esther cumpriram sua missão e já se foram, mas deixaram dois filhos muito especiais, pelos quais tenho um enorme carinho. A hospitalidade da Elisa em nossa visita a Barcelona em 2011 (estive lá com minha irmã Elaine) me fez lembrar de sua mãe Esther por ocasião de minhas visitas anteriores à Galícia, não medindo esforços para nos agradar durante os poucos dias de nossa estada na capital catalã. Já comentei com o seu filho Javier, que esteve no Rio em 2012, o carinho especial que tenho por sua mãe e também por toda a família espanhola, incluindo Martin, que vive na Galícia, e o atencioso Rafael, o novo companheiro da Elisa. Mas não posso deixar de registrar aqui as queridas lembranças que tenho de Aquilino, falecido marido da Elisa, que sempre foi muito gentil comigo. Lembro de um episódio em particular que ficou marcado em minha memória. Ao me despedir de todos em uma de minhas visitas à Galícia, cumprimentando com um aperto de mão cada um dos primos e amigos, Aquilino não se contentou com essa despedida, digamos, formal e protocolar, e me deu um forte abraço. Jamais esquecerei esse gesto singelo e espontâneo de Aquilino, que infelizmente não está mais entre nós.
Peço desculpas aos primos se há aqui alguma indiscrição, mas já faz tempo que eu queria dar testemunho dessa longa história que, para mim, é muito especial. É uma forma de tornar pública a importância de tudo isso em minha vida.
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Casario antigo na chegada à Forxa, na Galícia. |