segunda-feira, 1 de julho de 2024

O melhor filme de Tim Burton!


Há cineastas que "transcendem" a indústria!
É o caso de Tim Burton.
Com filmes singulares, ele se destaca justamente pela assinatura autoral "impressa" em cada tomada, sempre enriquecida por um visual deslumbrante.
Eu adoro Tim Burton e, também, Wes Anderson, autor do genial "Moonrise Kingdom", um filme permeado de humor e ternura, contando uma singela história de amor juvenil.
Esse livro de capa dura (foto), recheado de ilustrações, foi lançado no último dia 20 no Brasil e conta tudo sobre a carreira de Burton, dedicando um capítulo para cada filme, acrescido de informações sobre "Wandinha", sua recente produção para a Netflix, e "Os Fantasmas se Divertem 2", esse com previsão de lançamento para setembro nos cinemas brasileiros.
Por último, vale dizer que, para mim, o melhor filme de Tim Burton é "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça".
Como relatado no livro, 99% da produção foi filmada em cenários e não em locações reais.
Ainda na fase de pré-produção, Burton comentou, "não queremos naturalismo, queremos um tipo de expressionismo natural"!
Isso é o que torna o filme visualmente fascinante. Tudo é filmado num ambiente controlado, um "mundo-cenário" sem compromisso com a aparência do "real", justamente para criar a atmosfera sombria necessária à narrativa.
Na verdade, a impecável direção de arte é praticamente uma personagem do filme.
Tim Burton e Wes Anderson se notabilizaram por filmar assim, e eu gosto muito disso.


Escolhas e consequências.

Conto aqui uma história curiosa que acabei de ler sobre o compositor dinamarquês Carl Nielsen (1865-1931):
Em 1890, com apenas 25 anos, Nielsen deixou sua terra natal e viajou para a Alemanha em busca de novos ares e "ampliação de horizontes".
Em Berlim, depois de ouvir a execução do Quarteto de Cordas, op.5, de Nielsen, o respeitado mestre Joseph Joachim (1831-1907), apesar de reconhecer "imaginação e talento" na música do jovem dinamarquês, comentou com o compositor que considerava a obra muito radical, sugerindo algumas mudanças. Nielsen agradeceu, mas ressaltou que temia que qualquer alteração pudesse levar a composição a perder o seu "caráter" ou autenticidade, ao que o mestre teria respondido:
- Bem, meu caro Sr. Nielsen, talvez eu seja, afinal, um velho conservador. Escreva como quiser ou achar melhor, contanto que seja como você verdadeiramente sente a obra. É o que importa!
Ao ler sobre isso, não pude deixar de me lembrar de um episódio ocorrido no dia da minha aposentadoria, quando recebi a mensagem abaixo de um jovem estagiário com quem trabalhei nos últimos anos:
- Aprendi muito com o senhor, que sempre fez questão de me mostrar os dois lados de um determinado assunto. Isso pode ser uma coisa simples, porém, no mundo de hoje, as pessoas empurram as suas ideologias e criticam você se não concorda com elas.
Fora, naturalmente, do campo profissional, esse foi um dos maiores elogios que recebi em meus 35 anos de IBGE!
Na verdade, embora nem sempre seja fácil, é assim que eu venho tentando conduzir a minha vida e, se tiver a chance, pretendo envelhecer. Sem fórmulas prontas ou ideias preconcebidas para tudo.
É preciso ter humildade para aceitar conceitos novos e respeitar a visão pessoal e subjetiva dos outros, principalmente no que concerne às escolhas e à trajetória de vida de cada um.


Quando filme era no cinema!

 

Assistindo a "Os Embalos de Sábado à Noite", no Telecine Cult.
Sim, o filme mais popular dos anos 1970 é agora "cult"!
Quando assisti à estreia num cinema de Madureira, em 1978, a fila dava voltas no quarteirão, e ninguém arredava pé dali. Isso durou vários finais de semana porque poderia levar anos até que a televisão programasse a exibição do filme.
Enfim, eram tempos em que ir ao cinema era um grande acontecimento, um verdadeiro ritual, principalmente para as classes populares. Hoje, o filme nem estreou nos cinemas e tem gente que já assistiu na internet.
Naquela época, as grandes estreias dos filmes de Hollywood eram aguardadas ansiosamente por multidões que faziam filas intermináveis nas portas dos cinemas para assistir. Era um tempo em que os filmes levavam anos para passar na TV. Não havia vídeo doméstico, inaugurado nos anos 80 com o finado formato VHS, e muito menos internet. Assistir a um filme no cinema com amigos ou com a namorada era um acontecimento social e cultural da maior importância. Nos subúrbios, era o ponto alto do fim de semana. Para a minha geração, um evento que rivalizava com as festinhas dos sábados e com os bailes de "discoteca" nos clubes.
Aliás, a trilha sonora de "Os Embalos de Sábado à Noite" foi o primeiro lp que comprei com o meu próprio dinheiro.
Lá se vão 46 anos (o filme foi lançado, no Brasil, em 1978), mas parece que foi ontem...

Kafka nos dias de hoje!

Em tempos de "cancelamentos" sumários nas redes sociais, "sem dar direito à defesa ou a um julgamento justo", é hora de reler e recomendar essa obra-prima de Kafka, que conta a história de um homem repentinamente acusado de um crime cuja natureza desconhece.
A obra completa 100 anos da primeira publicação no ano que vem, mas parece sempre atual porque, em resumo e essencialmente, trata dos vícios permanentes da civilização, ou da própria natureza humana.


As duas faces de um gênio!

 

Com a Orquestra Filarmônica de Viena, Karajan gravou, em 1989, seu último concerto, regendo a Sétima Sinfonia de Bruckner (cd à esquerda da foto).
Já bastante debilitado, conduziu a obra sem a obsessão pela perfeição que o caracterizou durante a longa carreira. Alguns críticos até entendem que esse "desprendimento" acabou por revelar o melhor Karajan e, talvez, a melhor versão da própria obra-prima de Bruckner.
Na gravação da mesma sinfonia, em 1971 (cd à direita), à frente da Orquestra Filarmônica de Berlim e 18 anos mais novo, era o Karajan obsessivo que não tolerava o menor erro de execução da orquestra, impondo com "mão de ferro" uma visão pessoal e praticamente inegociável da obra.
Confesso que gosto mais do Karajan obsessivo, um artista que passou a vida inteira em busca da perfeição, cumprindo uma trajetória que o levou a atingir os mais altos padrões de seu ofício ou de sua arte no século XX.

O que poderia ter sido...e não foi!

O filme "Vidas Passadas" (2023), dirigido pela sul-coreana Celine Song, que trata do reencontro de um casal de amigos de infância 24 anos depois que se separaram, é também a história do que poderia ter sido e não foi, sem culpa ou qualquer idealização romântica da relação. Mas, num roteiro vencedor do Globo de Ouro e indicado ao Oscar, o filme revela também que não há como voltar ao passado impunemente ou sem consequências.
A ótima produção me fez lembrar de uma das mais belas passagens do conto "Os Mortos", de James Joyce, brilhantemente adaptado para o cinema por John Huston, quando um marido fiel e amoroso descobre que a esposa, ambos na meia-idade, tivera na juventude uma grande paixão por alguém que sacrificou a própria vida por ela, num dos mais belos e sensíveis relatos da literatura ocidental.
Mas essa é uma outra história...


Retratos do Brasil!


Um dos livros mais "polêmicos" (e indispensáveis) dos últimos tempos, que chegou a ser banido de escolas públicas em alguns estados, "O Avesso da Pele" (prêmio Jabuti de 2021) é o relato comovente da trajetória de luta e resistência da família de um homem negro, desde a infância dos pais, expondo, sem panfletagem, as vísceras do racismo estrutural da sociedade brasileira.
Por sua escrita incomum (sem parágrafos e alternando primeira e segunda pessoas), a leitura pode não ser fácil, mas, ainda assim, a narrativa é tão envolvente que nos convida a ler tudo de uma única vez.
Chegou ontem à noite e já acabei de ler, fazendo um esforço enorme para conter as lágrimas no final. Detalhe, para não interromper a leitura, levei o livro quando saí para o almoço. Nunca me aconteceu isso!
Recomendo o livro especialmente aos amigos e amigas que fizeram carreira no magistério. O relato funciona como uma bela e comovente homenagem à profissão, uma das mais nobres e, infelizmente, menos valorizadas desse país.

Repórter por uns dias!

 

Eu já fui repórter de polícia...
Uma de minhas poucas matérias como estagiário de jornalismo foi a cobertura da prisão do "Lobisomem", um perigoso bandido que assombrava o Rio no final dos anos 1970.
Lobisomem estava detido na delegacia da Praça da Bandeira, para onde me dirigi rapidamente, acompanhado do fotógrafo do jornal.
Chegando lá, já havia uma dúzia de repórteres cercando o meliante. Com alguma dificuldade, consegui me aproximar dele, mas ainda sem saber que perguntas fazer em meio àquela gente toda muito mais experiente do que eu.
Foi então que, sem coragem de inquirir o próprio "Lobisomem", decidi aproveitar as perguntas dos "colegas", registrando cuidadosamente as respostas do bandido.
Voltei ao jornal ainda a tempo de redigir a matéria que seria publicada no dia seguinte, uma das situações mais tensas e constrangedoras que enfrentei na vida.
Ali eu vi que essa história de reportagem (ou apurar fatos) não era comigo.
Naquele mesmo estágio, entrevistei o juiz Francisco Horta no Tribunal de Justiça, por decisão própria, e fiz a cobertura da invasão do prédio da UNE, na praia do Flamengo, pela Polícia Militar, duas matérias das quais me orgulho até hoje, embora ambas bem "fraquinhas" por conta da minha inexperiência, mas encarar bandido em delegacia estava (e está) completamente fora de meu projeto profissional ou de vida!
Desde então, e ainda hoje, prefiro as crônicas ou o relato de histórias, como essa!