terça-feira, 22 de julho de 2025

Rito de Passagem...

Um carteiro idoso faz sua última viagem de entrega de correspondência pelo interior da China, acompanhado do filho que herdará a função.
Em meio a personagens típicos que encontram pelo caminho, os dois fazem a jornada através da bela (e verde) China rural, refletindo sobre a relação familiar, o que ficou para trás e "mal resolvido" e também as expectativas de cada um (em especial do jovem) para o futuro. Um verdadeiro rito de passagem que transformará completamente a maneira como pai e filho se veem e se relacionam.
O filme "Carteiros nas Montanhas", de 1999, me lembrou outro, "Um Órfão nas Ruas", de 1948, produzido às vésperas da proclamação da República Popular da China. Uma obra também singela feita por encomenda pelas autoridades comunistas. Nesse caso, a história é francamente um pastiche inspirado em Dickens (Oliver Twist) e no neorrealismo italiano, mas de valor inestimável por conter o registro histórico de uma visão do mundo, pueril e maniqueísta, já há muito perdida no tempo.
Dois filmes chineses e dois raros prazeres com o cinema.


segunda-feira, 21 de julho de 2025

O Futuro Chegou...

 


Mahler já dizia que sua música seria melhor compreendida no futuro. Mais de 100 anos depois de sua morte (1911), ele desfruta como compositor do mesmo prestígio que desfrutava como regente. Há vários motivos para isso, embora nenhum deles se deva necessariamente a um pretenso modernismo de sua obra, mais identificada com o velho romantismo do século XIX do que propriamente com a música que se anunciava para o novo século.
Na época de Mahler, sua música era vista como uma resistência ao novo (ou volta ao passado), daí as críticas severas que recebeu daqueles que apostavam na "revolucionária" sonoridade (atonalismo e dodecafonismo) oferecida por compositores como Stravinsky, Schoenberg, Béla Bartók e até Debussy. O tempo passou (senhor da razão?) e, como o público médio ou majoritário não "comprou" a ideia, o mundo viu o renascimento da obra de Mahler, especialmente a partir dos anos 60.
Hoje, temos uma infinidade de gravações das sinfonias de Mahler, realizadas pelas mais consagradas orquestras do mundo.
Em pleno século XXI, Mahler está mais vivo do que nunca!

domingo, 20 de julho de 2025

O único ídolo!

 

Esse homem, que nunca encontrei pessoalmente e com quem nunca conversei, nem na internet, mudou completamente a minha vida.
Quem me conhece sabe que não há qualquer exagero nisso. Com ele e sua obra descobri um mundo de sensações que revolucionou completamente meu conceito de beleza na música, na arte e na própria vida.
Não à toa, John Williams, hoje com 93 anos, é e sempre foi meu único ídolo. Para alguém da minha geração, que conheceu o auge da era do rock e dos Beatles, acredito que seja algo realmente extraordinário.

O cinema ainda vale a pena!

Há filmes que "resgatam" meu amor pelo cinema, e isso tem se tornado cada vez mais raro nos últimos anos.
É o caso do surpreendente "Limbo", filme britânico que conta a história de 4 refugiados (de Gana, Nigéria, Afeganistão e Síria) "acolhidos" numa remota ilha escocesa, à espera da resposta para seus pedidos de asilo. Cada um vivendo o seu drama num país distante e de natureza hostil, tomado por um profundo sentimento de solidão (e desilusão!).
Confesso que o impacto foi tão grande que me fez lembrar dos tempos em que eu ainda acreditava que o cinema (ou a arte) podia mudar o mundo!


Os Últimos Dias de um Sonhador!

 

Impressionado com a trágica história de vida desse homem, coleciono e leio tudo sobre ele.
Intelectual brilhante, profundo humanista e um dos mais célebres escritores do século XX, Zweig nasceu e se criou em família judia abastada na opulenta Viena da virada dos séculos XIX/XX. Com a ascensão do nazismo na Europa, Zweig, perseguido pelo regime nazista, se refugiou em Petrópolis com sua esposa Lotte, onde juntos teriam cometido suicídio no carnaval de 1942.
Não consigo me conformar com o destino desse homem. Depois de experimentar todos os luxos e privilégios na juventude, Zweig teve um fim trágico no país distante que adotou "ingenuamente" como o país do futuro, um futuro idílico que não chegou para ele e nem para nós!

O que é Arte?

Entendo que Arte se define pela expressão livre do espírito humano, sem cabresto moral, cultural, ideológico ou partidário, embora, naturalmente, esteja sempre subordinada ao contexto em que é produzida.
E vou mais longe. Não acho que a Arte deva estar necessariamente conectada com o coletivo ou com a "realidade". Discordo, portanto, dessa história de que "todo artista tem de ir aonde o povo está", como apregoa a música de Mílton Nascimento. Arte engajada é uma escolha (legítima) do artista e nunca uma imposição política, ética ou conceitual.
Em resumo, o único compromisso do artista deve ser consigo mesmo, com sua verdade ou com o que sente e deseja expressar, ainda que ninguém o compreenda no seu tempo ou jamais!
Essa, pra mim, é a verdadeira Arte!